“Sempre Aos Domingos”, por Sibelle Fonseca: Não me abandones, em hora alguma

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Fui ali em Sergipe, meu segundo estado, receber o ano novo. Faltando pouco para a virada, após cinco anos, cheguei na casa de praia de uma família que tenho como minha também e já cai direto no brinde à 2019. Me joguei no abraço de uma irmã que não via há anos e nem por isso deixamos de nos amar e nos entender. Por trás deste primeiro braço, vi um casal que se beijava. Era um querido que soube depois, ter se casado com um cara muito legal que eu identifiquei logo de cara. Aquela cena me acolheu e me deu a certeza de que eu estava em lugar seguro e amigo. Os meus estavam ali. Os fogos brilhavam no céu, a fogueira queimava, os cumprimentos afetuosos faziam a cena mais mágica, comida e bebida fartas, até que dei uma escapulida no mar para fazer meus pedidos.

Sozinha naquela imensidão pensei no que pedir. Tive dúvidas do que pedir. Eram sete os pulinhos no mar e seus pedidos. Achei que era muita sacanagem pedir qualquer coisa material, um bem, dinheiro…. Achei inocência pedir sorte, saúde, trabalho, um amor pra toda vida, paz , filhos fora do risco se serem infelizes, tudo de melhor para os meus amigos, sucesso, felicidade plena e livramento dos perigos. Fiquei confusa e vi que tinha mesmo era muito e muito mais a agradecer. Fiquei até envergonhada achando-me injusta. Quis repetir o que todo mundo pede comumente (muito dinheiro no bolso, sucesso, saúde pra dar e vender, paz no coração e um amigo que me dê a mão). Mas percebi que o que todo mundo pede não é o mais importante para mim.

E já inclinada a soprar para o alto que me desse apenas o que eu merecesse, reagi com uma solicitação ao Arquiteto do Universo: “Não me abandones em hora alguma, meu Deus!”, roguei na prece, também dirigida a Yansã, a oxum, aos santos e demais orixás e energias salutares.

Daí iniciou-se uma prece silenciosa e muito verdadeira. E pulando um sem fim de ondinhas, pus-me a rogar: Não me abandones na doença, para que eu não desanime. E nem na saúde para que eu não me sinta imortal. Não me abandones nem na sorte e nem no azar. Não me abandones na solidão, nem na solitude, o que é bem diferente. Solitude é o pleno contato consigo mesmo, quando não há necessidade de estar sempre em companhia de outras pessoas. Não me abandones na dor, no insucesso. Não me abandones na morte e nem nos renascimentos todos. Não me abandones na tristeza e muito menos na alegria. Não me abandones no desespero e nem na euforia. Não me abandones nas minhas escolhas e nem na consequência delas. Não me abandones nem nas perdas e nem nos ganhos. Nas conquistas e frustrações, não me abandones, Senhor! Fica perto se não tiver um amor pra toda vida e, mesmo que eu tenha, não me deixe mais ainda, eu te peço. Porque é preciso Deus pra conviver com alguém. Não me deixes na estrada, nem no leito, nem na mesa de bar. Não me deixes na hora difícil e nas fáceis, marque tua presença, eu te imploro. Não me deixes na hora dos julgamentos e na condenação.  Nem nos momentos de elogios e condecorações. A vaidade sempre está a espreita. No prazer, esteja do meu lado. Nas agruras, por favor. Quando me faltarem os amigos, esteja comigo. Na presença deles, se manifeste. Quando me faltarem fé no ser humano, desesperança e quando a revolta se aproximar de mim, cole bem muito, meu Deus!  Nos voos e nos abismos, não me abandones. Não me abandones quando eu for assediada pelo mal e nem pelo bem, para que eu não os subestime. Não me abandones na hora na palavra, das decisões, da menor atitude a tomar. Nas traições, me ampare. Não me abandones nem no plantio e nem na colheita. Na fartura, na escassez e nas mil fases ruins, não saias de perto de mim.

Quem está livre da gangorra da vida? Ninguém, ninguém. O que a gente precisa nos altos e baixos, senão de que Deus esteja por perto? Somente ele com sua força, com sua fé e sabedoria nos bastarão em todas as horas. No bem bom e no inferno astral, com Deus tudo é engrandecedor. Ou não ?

Nos embates e empatias, só Deus! Quando a gente muda de direção ou fica na inercia, só Deus para nos sustentar! Não me abandones em nenhum momento, te suplico! Eu não sou auto-suficiente nem na felicidade, quem dirá na falta dela?

Então, só espero que o universo tenha ouvido minhas preces ao pé do mar. “Não me abandones em hora alguma, meu Senhor”e nem a ninguém que, como eu, entenda que é nada sem a tua presença.

Me benzi e deixei o mar voltando pra roda de gente que, de mãos dadas, cantava um hino de louvor. Eram os meus. Uma gente feliz que Deus nunca abandona. Voltei para o afeto da minha irmã que nem parecia ter cinco anos que não nos víamos, para o casal de homens que contagiava a todos com muito afeto e respeito, voltei para a fogueira ardente onde minha filha caçula se aquecia com o que somos e temos.

Uma gente que implora a Deus, a Yansã, a Oxum, aos santos e demais orixás e energias, que estejam presentes em todos os momentos, porque somos pequenos demais pra fazer qualquer outro pedido que não seja este: “Não nos abandones, em hora alguma”!

Que o mar de Atalaia leve as ondinhas que pulei, até o infinito e que ele me escute! Que o Universo nos escute e as divindades estejam presentes em cada instante deste 2019.

Sibelle Fonseca é radialista, militante do jornalismo, pedagoga, feminista, conselheira da mulher, mãe de quatro filhos, cantora nas horas mais prazerosas, defensora dos direitos humanos e uma amante da vida e de gente.

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