“Esquadrão da morte e silêncio da sociedade”, – Por Moisés Almeida

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Ontem a noite nas minhas redes sociais, divulguei estupefato, o assassinato de duas crianças em Petrolina. Ocorre que no mesmo dia pela manhã, eu estava refletindo sobre as caraterísticas das notícias da área policial nos meios de informação desta região, tais como programas de rádio, blogs que também fazem a cobertura, sendo alguns especializados apenas neste tipo de evento.

Percebo como são pobres os critérios de noticiabilidade e de investigação jornalística (nem sei porque estou cobrando isso, já que a maioria dos blogs são de pessoas que nem estudaram jornalismo). Geralmente a notícia tem quase nada de revisão da escrita e é uma reprise do Boletim de Ocorrência, anotado pelos agentes do Estado. Para comprovar o que estou afirmando, transcrevo de um blog, que prefiro não identificá-lo, a seguinte informação sobre uma pessoa encontrada morta: “Na manhã desta sexta-feira (29/03/2019), um corpo do sexo masculino ainda sem identificação, foi encontrado na Orla I de Petrolina PE, Segundo informações, a vítima apresentava uma perfuração no crânio não se por qual objeto. O IC e IML foram acionados para as medidas de praxe. A vítima aparentemente é morador de rua, não encontrado nenhuma identificação com ele.” Raramente a notícia terá continuidade, e os leitores não ficarão sabendo quem foi a pessoa encontrada morta, já que na publicação da matéria, ela não tinha identificação.

Apesar desta constatação, o que acho mais problemático e complicado é a falta de felling por parte dos redatores, radialistas, jornalistas, blogueiros etc., quando da divulgação/exposição de assassinatos tão bárbaros, fatos que já se tornaram corriqueiros nesta região. É comum ex-presidiários serem assassinados em Petrolina e Juazeiro, sem que haja problematização acerca do fenômeno conhecido como “limpeza social” (termo da sociologia que se refere à eliminação de elementos sociais “indesejáveis”, como criminosos, antimoralistas e sem-teto). O modo operandi é sempre o mesmo: duas pessoas numa moto ou num carro eliminam a tiros suas vítimas. Alguém já se perguntou quem são os pistoleiros? Fazem parte de algum esquadrão da morte? São investigados? Não tenho lido informações sobre isso. Se a polícia investiga, também não tenho conhecimento, já que os canais de informação sequer acompanham os casos.

Vejamos por exemplo, os últimos assassinatos que ocorreram entre os dias 28 e 31 de março, com características semelhantes, ou seja, duas pessoas em cada episódio: Na manhã do dia 29, dois corpos foram encontrados próximo ao bairro João Paulo II, “com as mãos e pés amarrados por cordas, com perfurações provenientes de arma de fogo, calibre 12 e 40, cena típica de execução”. Tratavam-se de Willas Soares Alves e Nerivaldo Santos Machado. Já na manhã do dia 31, na região de Lagoa Grande, povoado de Maniçoba em Juazeiro, dois corpos foram encontrados, mortos por arma de calibre 12, sendo as vítimas identificadas como Romildo Sales Silva e Gean Carlos Gomes Vieira. O caso das crianças ocorreu no mesmo período, sendo o corpo de Gustavo Vitor Souza dos Santos, de 13 anos, encontrado na sexta feira, dia 29, e o de Manoel Carlos Souza dos Santos, de 11 anos, encontrado dia 01, mas já em estado de putreção, dando a entender que também foi torturado e morto dia 29.

Os crimes das crianças logo serão esquecidos, como também, esses que listei neste texto. Afinal de contas, reina na sociedade a magna de que “bandido bom, é bandido morto”. Se não lhe assusta crimes com requintes de crueldade, eu fico indignado. Ainda torço para que o Estado possa zelar pela vida, e não feche os olhos ante a crueldade da famosa “justiça com as próprias mãos”.

 

Por Moisés Almeida- Professor

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