“Aqui é Juazeiro” – Por Márcio Jandir

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Não há um só dia que a minha alma não invada as ruas, enquanto as casas estão de portas fechadas e a madrugada exerce o seu império de silêncio e plenitude, apenas interrompido por corpos que vagam e pensamentos que passeiam buscando algo que parece perdido entre lembranças e sonhos.

Da  manhã ensolarada do dia 15 de julho de 1978, ainda posso sentir o cheiro das ruas repletas de pessoas, do sol de ouro que queimava a pele e do sonho de terra grande que enchia nosso peito, embalado pelo desfile cívico que, para a minha existência, era como se naquele momento ali fosse o mundo todo.

Tudo cantava naquela hora de euforia, progresso, gente promissora, com a hidrelétrica ouvia lampejos que uma nova Califórnia nascia nos trópicos, em breves tempos nosso solo fértil faria brotar riqueza, homens e mulheres trabalhando e prosperando.

Deus te salve Cidade encantadora ! Que o Salitre nos traga os frutos, que do Tourão também venham, plantando Maniçoba e Mandacaru, trazendo mais gente, dando provas ao nosso País da viabilidade de uma região que precisa ser incentivada para que atinja o desenvolvimento.

Eu nem sabia o quanto aquela manhã festiva marcaria tanto a minha vida, ela e os dias de ensaio que a antecederam, entoando o hino centenário, me revestiram de amor espiritual e intelectual por minha terra amada, maior que o cordão de umbigo que nos ligava pela maternidade.

A Ilha do Fogo ainda era nossa, tínhamos a Santa Casa de Misericórdia e o SEMEC, a nossa loja de compra era Pioneira, já tinha semáforo e empresa de ônibus ligando os bairros,  revistas e jornais e uma rádio que era a nossa Globo com programa Pagão, Crônicas dos nossos intelectuais, música clássica ou     “ao cair da tarde”, olhos marejados de belas músicas, fechando as nossas tardes com  a Ave Maria.

Quanta cultura e tradição, “Na Esteira do Tempo”,  como “O pássaro que Criou Raízes”, nas “Lavadeiras do Angari” dos Festivais da Franvale, da AUJ, da Fonte Luminosa, do arco da Praça da Bandeira, do Coreto da Misericórdia, do “chá” que tomava à 5.

“E nós para onde vamos ?” Não sei em que rua nos perdemos.

Não sei se verei a manhã do dia 15 de julho de 2028, quando o sesquicentenário Juazeiro receberá uma manha de festa, espero que crianças decantem essa cidade com doce canto e amor capazes de nos trazer de volta para o futuro que perdemos.

“Um galo só não tece uma manhã”, as muitas almas e espíritos que se encontram entre sonhos e lembranças precisam ensaiar o canto que vai tecer a manhã dos nossos sonhos, onde o orgulho nos faça proclamar Aqui é Juazeiro!

Há os que querem e vão se entregar, quantos mais quiserem cantar, o canto vai ecoar e essa manhã vai acontecer, Deus irá fazer resplandecer alegria na face do nosso Povo.

 

Por Márcio Jandir, Um Juazeirense  

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