(foto: reprodução)
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) emitiu uma nota repudiando a agressão física sofrida pelo jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept Brasil, cometida pelo colunista da Jovem Pan, o também jornalista Augusto Nunes. O órgão também criticou os políticos que difundiram mensagens de incitação direta à violência.
A agressão aconteceu ao vivo durante o programa Pânico. O encontro, segundo Greenwald, não havia sido anunciado previamente, e sua participação no programa, ao lado de Nunes, com quem tem antigas divergências, foi uma surpresa. O jornalista brasileiro acertou um tapa no norte-americano após Glenn lembrar de uma declaração dada pelo agressor.
Em 1º de setembro deste ano, Augusto Nunes criticou a instituição familiar de Glenn e chegou a dizer que os filhos adotivos de Glenn, que é casado com o deputado federal David Miranda (Psol-RJ), deveriam voltar para o abrigo e os pais perderem a guarda. Desde então, os jornalistas trocam farpas nas redes sociais.
Quando Glenn lembrou do comentário de Nunes, ele retrucou dizendo que o fez em tom bem humorado e com ironias. O norte-americano seguiu chamando o colega de covarde, quando foi agredido fisicamente com dois tapas, sendo que um deles atingiu o rosto do estrangeiro.
Apoio à agressão
Diversos aliados do presidente Jair Bolsonaro (PSL), publicaram mensagens defendendo a agressão.
O deputado e líder do PSL na Câmara, Eduardo Bolsonaro (SP), classificou como “legítima defesa da honra” a agressão física que Nunes cometeu por ter sido chamado de covarde. Para o filho de Jair Bolsonaro, por ter sido chamado de covarde, Nunes ficou sem outra opção, a não ser agredir o jornalista.
“Fato que Augusto Nunes reagiu em legítima defesa de sua honra. Ninguém é obrigado a ser violentado a todo momento com distorções de suas falas, ser xingado na cara e aceitar. @augustosnunes não teve opção. Reagiu como qualquer pessoa normal com sangue mas veias poderia reagir”, escreveu no Twitter.
A bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF) compartilhou o vídeo da agressão acompanhado de uma hashtag em que dizia que o Augusto Nunes a representa.
O deputado Filipe Barros (PSL-PR) compartilhou uma publicação em que afirma que o único erro do jornalista que agrediu um colega de profissão ao vivo em rede nacional, foi “bater de mão aberta”.
“O crime, a mentira, o escárnio, JAMAIS merecem respeito! Reagir a canalhices que partem de um criminoso cínico e folgado é questão de honra. Apesar de várias vezes discordar de seus comentários e independentemente dos fatos citados, presto solidariedade ao homem @augustosnunes !”, escreveu Carlos Bolsonaro no Twitter.
Repúdio
O youtuber Felipe Neto criticou a agressão do jornalista Augusto Nunes contra o também jornalista Glenn Greenwald. “Sim, é um COVARDE. E o Glenn não foi informado pelo Pânico q ele estaria no programa”, disse ele no Twitter.
O jornalista Fabio Pannunzio disse que Augusto Nunes deveria se ajoelhar aos pés de Glenn Greenwald, editor do The Intercept, por fazer “o trabalho que ex-jornalistas como ele se recusam a fazer”.
“Sinceramente, eu fico com pena do @augustosnunes. Deveria se ajoelhar aos pés do @ggreenwald por fazer aqui o trabalho que ex-jornalistas como ele se recusam a fazer. Depois de velho, virou sargento miliciano da guarda pretoriana do bolsonarismo”, acrescentou.
O comediante Rafinha Bastos chamou de “canalhice” a citação dos filhos feita por Augusto Nunes para atacar o jornalista Glenn Greenwald e manifestou solidariedade ao editor do The Intercept.
“É muita canalhice falar da criação dos filhos de alguém da forma leviana que esse idiota fez. Conheci o Glenn e a família há 2 anos. O cara é um pai exemplar, super envolvido e cuidadoso. Esse Augusto Nunes é um imbecil”, disse.
A Abraji também repudiou a agressão e ressaltou que a cena de violência “passou a ser usada a seguir como exemplo de comportamento a ser adotado pelos descontentes com a imprensa em geral” e criticou os membros do governo “e pessoas influentes no poder difundiram mensagens de incitação direta à violência” (leia na íntegra abaixo).
A rádio Jovem Pan se desculpou publicamente ao jornalista Glenn Greenwald. Em nota, lamentou o ocorrido e assegurou que “sempre abriu suas portas para convidados de diferentes campos ideológicos e com opiniões dissonantes, para que cada brasileiro forme seu juízo tendo acesso a visões variadas sobre os temas mais relevantes no momento” (leia na íntegra abaixo).
Nota da Jovem Pan
A Jovem Pan lamenta o episódio ocorrido ao vivo no programa Pânico desta quinta-feira (7) entre os jornalistas Augusto Nunes e Glenn Greenwald.
Defensora vigilante dos princípios democráticos, do pluralismo de ideias e da liberdade de expressão, a Jovem Pan sempre abriu suas portas para convidados de diferentes campos ideológicos e com opiniões dissonantes, para que cada brasileiro forme seu juízo tendo acesso a visões variadas sobre os temas mais relevantes do momento.
Uma das principais marcas do Pânico é receber personalidades para o debate aberto e franco, bem-humorado e eventualmente ácido. Glenn Greenwald já participou da bancada em diversas outras oportunidades.
A liberdade de expressão e crítica concedida pela Jovem Pan a seus comentaristas e convidados, contudo, não se estende a nenhum tipo de ofensas e agressões. A empresa repudia com veemência esses comportamentos.
A Jovem Pan pede desculpas aos ouvintes, espectadores e convidados desta edição do Pânico, inclusive Glenn Greenwald.
Grupo Jovem Pan
Nota da Abraji
A agressão física de Augusto Nunes contra Glenn Greenwald, após uma discussão acalorada, deu início a uma onda de ataques à imprensa, na internet, como poucas vezes vimos nos últimos anos no Brasil.
A cena de violência, difundida exponencialmente nas redes sociais nesta quinta-feira, 7.nov.2019, passou a ser usada a seguir como exemplo de comportamento a ser adotado pelos descontentes com a imprensa em geral – a despeito do episódio em si envolver desavenças e comentários de cunho pessoal entre Nunes e Greenwald.
Como em outras ocasiões, membros do governo e pessoas influentes no poder difundiram mensagens de incitação direta à violência, como no caso de Olavo de Carvalho, ou de aprovação velada, como no caso de um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro.
A Abraji emite notas sobre ameaças a jornalistas no exercício da profissão. O debate ocorrido na emissora não corresponde a esse parâmetro. Entretanto, a onda de reações que se seguiu ao episódio dispara um alerta que não pode ser ignorado a respeito do estágio que a hostilidade aos jornalistas e aos veículos de imprensa atingiu no Brasil. Quem atiça esse clima de hostilidade tem intenção de calar vozes críticas e sufocar a liberdade de expressão – sem ela, as outras liberdades também morrerão.
* com informações do Congresso em Foco
Da Redação