UFRB protocola medida cautelar para afastar aluno denunciado por racismo de Centro da universidade

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(foto: Reprodução/TV Bahia)

O estudante do curso de Ciências Sociais denunciado por racismo dentro do campus da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), foi afastado preventivamente do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) onde ocorreu o caso. A informação foi divulgada em nota, nesta sexta-feira (13), pela instituição de ensino.

De acordo com a UFRB, foi expedida uma medida cautelar visando o afastamento preventivo do estudante das dependências físicas do CAHL.

A instituição destacou, entretanto, que Danilo Araújo de Góis não terá prejuízo em suas atividades acadêmicas, porque o curso regular de Ciências Sociais não tem aulas no CAHL. A matéria que ele fazia no local era optativa.

A nota da UFRB diz ainda que Danilo não tomou ciência do documento que impede a entrada nele no CAHL, porque não foi localizado pela instituição.

Segundo a universidade, o estudante também foi suspenso da residência universitária localizada na cidade de São Félix, vizinha a Cachoeira. Uma comissão internada foi formada para investigar se houve descumprimento de normas referente à moradia estudantil.

Na terça-feira (10), um estudante tentou invadir o quarto que Danilo dormia, com um pedaço de pau na mão. A ação foi gravada pelos colegas de Danilo e, no vídeo, é possível ver o estudante dizendo que está consciente do que está fazendo e falando que não vai aceitar a atitude racista do colega.

Ainda de acordo com a UFRB, Danilo foi abrigado em uma instituição religiosa em Cachoeira, mas que deixou o local na quarta-feira (11).

Depoimento do aluno

Danilo foi ouvido pela Polícia Civil, na manhã de quinta-feira (12), na Central de Flagrantes, em Salvador. Conforme o delegado João Mateus, que investiga o caso, o suspeito negou racismo e disse que não pegou a prova da mão da professora por “questão de energia”.

Em entrevista ao G1, o delegado informou que Danilo disse, durante o depoimento, que o caso não passou de um “mal-entendido” e que ele não costuma pegar objetos na mão de pessoas desconhecidas por “questões particulares em relação a religião”.

“Ele se predispôs a ser ouvido e, na verdade, ele negou ter praticado a atitude racista e disse que não passou de um mal-entendido, porque ele é uma pessoa sensitiva, ele tem algumas questões particulares em relação a religião dele, que ele lê muito a bíblia e lê muito cânticos e ele tem uma hipersensibilidade”, disse o delegado.

“Ele disse que se sente mal se aproximando de qualquer pessoa, então evita entrar em contato e pegar coisas das mãos de quem ele não conhece e tocar em pessoas que ele não conhece, porque ele se sente mal muitas vezes quando faz isso”, concluiu o delegado João Mateus.

Ainda segundo o delegado, Danilo Góis disse que não falou nada ofensivo para professora Isabel Cristina Ferreira dos Reis e em relação a cor de pele dela. O estudante contou que passou por uma situação parecida uma semana antes, e que o caso não foi considerado racismo, porque a professora não era negra.

Ainda segundo o delegado João Mateus, Danilo Góis contou que não conseguiu se explicar para a coordenadora da UFRB, porque os alunos começaram a gritar e chamar ele de racista.

Caso

A professora da UFRB Isabel Cristina Ferreira dos Reis denunciou à Polícia Civil que sofreu racismo durante a aplicação de provas, dentro do campus da instituição, na cidade de Cachoeira, na noite de segunda-feira (9). O caso é investigado. A docente entrou com um ação no Ministério Público da Bahia (MP-BA).

A ação foi gravada por estudantes que estavam dentro da sala de aula. As imagens mostram Danilo Araújo de Góis se recusando a pegar a prova na mão da professora e pedindo que ela colocasse o exame em cima da mesa para que ele pudesse pegar.

O vídeo ainda mostra que a coordenadora do curso fala para a professora que é um direito dela continuar na sala sem o aluno. “A senhora, professora, se sente confortável em condições de prosseguir a avaliação com o estudante na sala? Porque é seu direito [que ele saia da sala]”.

Em entrevista ao G1, a professora do curso de Licenciatura em História revelou ainda que os estudantes já tinham contado que ele não gostava de encostar em pessoas negras e homossexuais e que, além disso, ele se recusava a pegar qualquer coisa na mão de pessoas negras.

Segundo a UFRB, Danilo tentou entrar na universidade através de cotas raciais. O pedido do estudante foi feito durante o vestibular de 2018.2, mas acabou indeferido.

Investigação

Segundo a polícia, o estudante do curso de Ciências Sociais, Danilo Araújo de Góis, esteve na Delegacia de Cachoeira e relatou que foi vítima de preconceito, porque os estudantes não deixaram ele se explicar e o chamaram de racista. Ele registrou um boletim de ocorrência e foi liberado. A professora Isabel Cristina Ferreira dos Reis também registrou o caso na delegacia.

Em nota, a UFRB informou que repudia a atitude do estudante para com a professora e outros alunos do Centro de Artes, Humanidades e Letras, em Cachoeira.

A instituição também informou que criou uma comissão para apurar as denúncias encaminhadas por estudantes e professores do Centro de Artes, que informam ter presenciado outras manifestações de preconceito racial, de gênero e de homofobia por parte do estudante.

A comissão abriu um processo administrativo, que tramitará de acordo com as normas previstas no regimento da UFRB. O estudante pode ser penalizado com advertência verbal, repreensão escrita, suspensão de 30 dias, suspensão de 90 dias e desligamento da Universidade.

De acordo com a UFRB, a instituição está tomando as medidas administrativas e jurídicas cabíveis para contribuir com a apuração dos fatos ocorridos.

G1

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