“A notícia deve servir de base para a construção de uma consciência” disse a jornalista Dalila Santos

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Dalila Santos é natural de Salvador-BA e atualmente é Jornalista e docente do curso de Comunicação Social, com Habilitação em Jornalismo em Multimeios da Universidade Estadual da Bahia (UNEB), Campus III em Juazeiro-BA. Além disso, ela é pesquisadora e militante da Marcha Mundial das Mulheres, Núcleo Sertão (MMM).

Em entrevista concedida ao Portal Preto no Branco, Dalila falou sobre uma das suas disciplinas, Crítica da mídia e fez uma analise da mídia local. Acompanhe:

Entrevista- Por Yonara Santos

PNB: Qual a importância da disciplina Crítica da mídia para o curso de
Comunicação Social, com Habilitação em Jornalismo em Multimeios?

D.S: A disciplina é fundamental para análise crítica do jornalismo
produzido no Brasil e na nossa região. Visa formar um profissional
capaz de ter uma análise crítica, com embasamento teórico.

PNB: De que maneira a disciplina está sendo passada para os graduandos?

D.S: Nós fazemos leituras sobre a análise crítica da mídia, elementos que
abordam a comunicação com um direito, um canal de educação e formação
do cidadão. Também visualizamos a experiência de alguns observatórios
da imprensa em outros cursos de jornalismo e o próprio Observatório da
Imprensa, que nasceu em um curso de jornalismo. Além disso, trazemos
alguém que pesquisa a temática na região para falar um pouco da nossa
realidade.

PNB: O que é notícia? Como deve ser a seleção do que é noticiado? E
como a notícia vem sendo tratada pela imprensa regional?

D.S: A notícia é algo que deve servir de base para a construção de uma
consciência, dando elementos para que as pessoas possam entender a
realidade. O que vemos hoje é a notícia como um produto, meramente
usada como um número: quanto mais notícias melhor, sem explorar o
conteúdo das mesmas. Além disso, a criação da realidade, da verdade
através da notícia. O ideal é que as pessoas possam ter acesso à um
vasto conteúdo e possam avaliar a realidade dos fatos a partir desta
base consciente.

PNB: O rádio é um dos mais antigos meios de comunicação que chegaram
aqui na região e ainda muito presente. Qual a sua avaliação, enquanto
jornalista e docente responsável por essa disciplina, dos programas de
rádio da região? O sensacionalismo ainda é uma característica muito
forte nesse meio?

D.S: A questão do rádio é muito forte na região. A realidade aqui não foge
da maioria do Brasil, onde os comunicadores não tem formação na área e
muitas vezes utilizam do sensacionalismo e se tornam formadores de
opinião. Acabam pregando o achismo, trazem suas opiniões sem
embasamento, muitas vezes influenciados por questões políticas. Aliás,
muitas rádios no Brasil são de propriedades de políticos, o que é
proibido.

PNB: Atualmente, em Juazeiro-BA e Petrolina-PE, só existem dois
jornais impressos. A que fator senhora atribui esse fato?

D.S: Acredito que além do movimento mundial de redução dos impressos, por
conta de outras ferramentas de comunicação, a produção local não
aprimorou a sua escrita. Percebemos, na maioria das vezes, a
publicidade das prefeituras, noticias copiadas de outros veículos.
Isso não atrai o leitor, que busca um texto mais completo, com
discussão sobre a temática.

PNB: Em sua opinião, as duas TV’s da região, conseguem cumprir os seus
papéis de formadoras de opinião, trazendo conteúdos críticos, com
apuração, imparcialidade?

D.S: As duas filiadas de uma emissora acabam fazendo esse papel de
formadoras de opinião, pois o acesso a outros canais é difícil aqui em
Juazeiro. A maioria das casas não recebe os sinais de outras
emissoras. Em muitas reportagens as emissoras tentam modificar a forma
de abordar uma determinada notícia, mas na maioria das vezes acabam
seguindo os modelos nacionais, sem dar uma cara regional para as suas
produções. Muitas vezes não percebemos nenhum diferencial das matérias
produzidas aqui e em outras localidades, muito por conta pela
obrigatoriedade em seguir “um padrão” de determinada emissora. Porém,
em alguns momentos me surpreendo com algumas produções e sempre
registro isso em minhas aulas.

PNB: Nos últimos anos, um novo meio de comunicação se tornou o mais
comum na região, os Blogs e portais de notícias. Em sua opinião quais
as vantagens e desvantagens que esses meios trazem para o jornalismo
da região?

D.S: Os blogs são excelentes ferramentas de comunicação, onde podem ser
exploradas diversas linguagens, mas o que observamos é a falta de
responsabilidade nas publicações da maioria dos blogs. Muitos não tem
jornalistas, nem pessoas com experiências na área (quando não se
existia a obrigatoriedade do diploma) em suas redações, o que
atrapalha no processo. Além disso, acaba seguindo um pouco da lógica
do rádio: patrocínio de determinados políticos. Além do exercício do
“copia e cola” de notícias de outros veículos.

Insisto que quando utilizado de forma responsável e com
comprometimento, os blogs são ferramentas fundamentais para abordar
temas específicos, aprofundar o debate.

PNB: Duas TV’s Universitárias realizam uma cobertura jornalística
educativas aqui na região. O que precisa ser feito para que esse meio
ganhe espaço na região?

D.S: Precisamos publicizar mais essas produções, pois elas acabam ficando
apenas dentro das universidades. Muitas pessoas não sabem da
existência dessas duas TV’s, que trazem formas diversas de produções
de matérias, programas jornalísticos, debates… Possuem uma grande
variedade de temas e formas de abordagem. Ambas estão na plataforma
digital, o que facilita o acesso. Acredito que precisamos apresentar
esses veículos para a população, fazer ampla divulgação.

PNB: Qual a sua avaliação sobre o mercado de trabalho
regional que espera esses futuros profissionais de comunicação?

D.S: O mercado para o jornalismo vem sendo reduzido, pois acaba concentrado
a produção das notícias nos grandes grupos, onde os profissionais
exercem diversas funções. Porém, existe um movimento de interiorização
dos veículos de comunicação, o que abre portas para que os novos
profissionais possam se inserir no mercado. Além disso, as ferramentas
tecnológicas podem facilitar o empreendedorismo desses novos
jornalistas, criando um novo mercado que tem amplo espaço e públicos
diversificados.

PNB: Na opinião da senhora, os jornalistas que atuam na imprensa
regional estão qualificados e atualizados na forma de tratar a
notícia?

D.S: Acredito que existe uma parte qualificada, que sempre atualizam o
conhecimento sobre jornalismo e o enxergam de forma e responsável. Por
outro lado, existe uma parte que tem o jornalismo como hobby ou apenas
uma forma de ganhar dinheiro, colocando o seu veículo a serviço de
interesses particulares. O curso de jornalismo da UNEB tem papel
fundamental na reorganização do jornalismo na região, colocando
profissionais com base teórica e prática, com responsabilidade e ética
profissional.

PNB: Os novos profissionais estão tendo espaço e estão sendo
valorizados pela mídia local?

D.S: Temos uma grande gama de profissionais atuando na região que são
oriundos do curso da UNEB. Consigo perceber  a inserção dos novos
profissionais nas diversas plataformas do jornalismo na região. Além
disso, temos muitos estagiários e estagiárias nos veículos de
comunicação da região, fato que também contribuiu para o
desenvolvimento do jornalismo na região.

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