Das contradições políticas dos tempos atuais por Danilo Duarte

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Fui convidado por alguns amigos a prestigiar um evento do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), em Juazeiro-BA, ocasião onde seriam apresentados à comunidade os pré-candidatos ao cargo de chefe do executivo municipal. Estava eu sem fazer nada, resolvi participar desse momento importante para os rumos da minha cidade.

 O fato é que estava indo tudo normal, seguindo o protocolo. A militância seguia ativa como sempre, a plateia – um misto de políticos, funcionários, amigos, familiares, curiosos, entusiastas, gente contra e a favor do governo – parecia aquelas de festival de música: muita animação, gritos e aplausos, principalmente no momento da fala do pré-candidato preferido de cada grupo.

Carlos Neiva, Joaquim Neto e Paulo Bonfim tiveram a oportunidade de explanar sobre sua relação com a cidade e, sobretudo, um pouco de suas experiências na política. Isso tudo em contados 10 minutos para cada.

Enfim, seria mais um evento comum em um ano de acirrada competição entre os partidos de situação e de oposição em busca do poder no âmbito municipal. Mas, eis que surge uma aberração entre os partidos que farão parte da base aliada do governo. Eis que surge em pleno seio do plantel comunista local, o Partido Social Cristão (PSC), representado pelo médico e empresário Paganini Nobre Mota, dono do único jornal impresso de Juazeiro.

Aberração porque nem é necessário saber muito a respeito das ideologias dos dois partidos, para concluir que os dois estão em lados opostos no que se refere a bandeiras de luta. No entanto, na manhã seguinte, dediquei um tempo a uma breve pesquisa sobre históricos, ideologias e projetos políticos de ambos os partidos.

A comparação entre esses dois partidos antagonistas historicamente, mas que vão dividir o mesmo palanque aqui em Juazeiro, só reforçou o sentimento que eu tive quando vi aquela cena dantesca. Dentre as informações colhidas nos sites oficiais de cada partido, destaca-se o trecho onde o PCdoB declara o que ele chama de “O desafio da contemporaneidade”:

O desafio, na atualidade, é conduzir o processo político a um patamar mais promissor. O Brasil precisa e tem condições de efetivar um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento (NPND) com realizações arrojadas. Este projeto é chamado a suplantar os impasses e deformações resultantes das vicissitudes da sua história política e socioeconômica (…) As contradições estruturais e fundamentais da realidade brasileira exigem como resposta consequente superar: (…) a condição de Estado conservador, sob controle dos círculos financeiros. Em defesa do Estado democrático, laico, inovador, que garanta ampla liberdade para o povo e sua participação política na gestão do Estado.

Em contrapartida, o Partido Social Cristão, aquele que faz da religião e da política uma simbiose de absurdos e opressões contra minorias e direitos conquistados a duras penas, conta no seu histórico que, “Assim nascia o Partido Social Cristão, sustentado na Doutrina Social Cristã, inspirado nos valores e propósitos do Cristianismo, em busca de uma sociedade justa, solidária e fraterna. (…) O PSC foi criado para ser um partido diferente no cenário político brasileiro, que procura de maneira altiva novos rumos para a nacionalidade, defendendo a conservação do meio ambiente, o desenvolvimento sustentável, o bem-estar dos idosos e aposentados, a segurança no trânsito e os níveis estáveis de emprego”.

Diante do exposto, resolvi parar minha ligeira pesquisa por aí. No entanto, essa aliança entre comunistas e conservadores serviu também para abrir os meus olhos sobre a coligação que se apresenta para unir forças em prol do programa encabeçado pelo PCdoB.

E foi aí que eu percebi que o buraco era mais embaixo. Que o problema não era só a anomálica parceria entre comunistas e conservadores. Se formos analisar o cenário político a nível nacional e se trouxermos à discussão aquilo que despertou o Brasil para o debate político, o impeachment, veremos que essa coligação trata-se, na verdade, de uma união entre partidos favoráveis e contrários ao processo que afastou do cargo a presidenta Dilma Rousseff.

Aliás, dos dez partidos que integram a tal base aliada do governo Isaac Carvalho, PCdoB, PT, PROS, PRB, PSC, PR, PP, PSL, PSD e PTB, apenas o PCdoB (partido do prefeito) e o PT (partido da presidenta) votaram contra o processo de impeachment de Dilma. O percentual dos votos nos demais partidos ficou da seguinte forma:

Partido

Percentual de deputados que votaram SIM

PSL

100%

PRB

100%

PSC

100%

PP

84,4%

PSD

78,4%

PTB

70%

PROS

66,7%

PR

65%

Alguém vai dizer que não dá para comparar os cenários dos níveis nacional e municipal, macro e micro. Podem até dizer que aqui a realidade é outra (se é, eu não sei). Mas isso não me convence. O que eu vi foi que nem o atual prefeito, nem o presidente do diretório municipal do PCdoB, Gilson Araújo, nem a plateia, nem mesmo a militância demonstraram algum desconforto em estar dividindo o palanque com o que tem de mais conservador no cenário político nacional.

Nenhum desconforto em estar ao lado daquilo que representa a possibilidade de um retrocesso no que diz respeito aos avanços sociais, sobretudo no âmbito dos grupos considerados minorias, como os LGBTs, mulheres, negros, indígenas, ou ainda retrocessos nas discussões a respeito da descriminalização da maconha, do aborto, e tudo aquilo que os conservadores acusam de afronta à moral, aos bons costumes e à tradicional família brasileira.

Contrariando a máxima de que se conselho fosse bom não se dava, se vendia, segue o apelo: Comunistas de Juazeiro, revejam essa anomalia que futuramente, caso os partidos coloquem em prática suas “ideologias”, pode macular a história do PCdoB aqui em nossa cidade. Ainda há tempo!

 Por Danilo Duarte

Foto: Zelito Rodrigues

Mais informações em:

 http://www.pcdob.org.br/documento.php?id_documento_arquivo=1

http://www.psc.org.br/site/partido-social-cristao/historico.html

http://www.ebc.com.br/noticias/2016/04/saiba-quem-votou-contra-a-favor-impeachment-dilma-na-camara-deputados

http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/04/veja-estados-e-partidos-que-mais-votaram-pelo-impeachment-na-camara.html

2 COMENTÁRIOS

  1. Excelente texto, importante observar que num passado não muito distante esses camaradas não eram comunistas ( e nem socialistas. ), talvez o que acontece no momento seja apenas uma volta às origens, uma vez que o próprio prefeito é oriundo de uma direita juazeirense já esquecida, não há dúvidas que o Tsunami de Brasilia respinga por aqui também, essa eletricidade no ar, essa dúvida…três candidatos em vez de um?? Enquanto uma oposição que já nasce sem folego, sem projetos realizados e que só aparece ás vésperas das eleições espreita…Enfim, resta aguardar os próximos capítulos dessa novela, que eu creio, será muito interessante.

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