“Existem pessoas que não veem com bons olhos a minha participação no caso Beatriz”, afirmou o perito Sanguinetti ao Preto no Branco

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Na última terça- feira (19), uma caravana do movimento “Somos Todos Beatriz” saiu de Juazeiro/BA e Petrolina/PE para pedir ao Governador de Pernambuco, Paulo Câmara, em Recife, mais investimentos e empenho nas investigações do caso Beatriz Motta, brutalmente assassinada no Colégio Nossa Senhora Maria Auxiliadora, em dezembro do ano passado.

A reivindicação dos pais da criança, Sandro e Lucia Mota, que também viajaram mais de 600 quilômetros, não era outra senão pressionar o Governo do Estado para dar celeridade e atenção ao caso.
Paralela à reivindicação da família de Beatriz, que afirma confiar no trabalho da polícia civil, mesmo depois de mais de sete meses sem dar uma resposta para o crime bárbaro, o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, através de seu representante legal, o advogado Clailson Ribeiro, solicitou do perito George Sanguinetti que viesse a Petrolina participar das investigações.

O portal Preto No Branco conversou, por telefone, com o perito que confirmou o convite.

“No dia 11 deste mês, após um encontro aqui na minha residência em Maceió, o advogado do Colégio Maria Auxiliadora solicitou à justiça que eu tivesse acesso aos autos, como assistente técnico da escola. Falta exatamente esse despacho para que eu vá a Petrolina. Não adianta eu ouvir pessoas e comparecer ao local do crime, se eu não tiver acesso ao que já foi feito até agora. Eu acredito que as investigações tem um bom material para ser trabalhado, o que está faltando talvez é um detalhe que passou despercebido, uma vertente de investigação. Então eu estou aguardando essa liberação”, afirmou o perito.

O inquérito segue sob sigilo e qualquer acesso a informações contidas nele deve ser autorizado pela justiça.

Em seu perfil em uma rede social, Sanguinetti tem feito comentários sobre as investigações e levantado algumas indagações acerca do trabalho realizado até agora pela polícia pernambucana. Mais recentemente, assumiu a defesa da instituição religiosa, criticada pelo movimento “Somos Todos Beatriz” e também pelos pais da criança, de ter sido negligente com a segurança do colégio no dia do crime, quando acontecia uma festa “à portas abertas” e sem nenhum tipo de controle, como senhas de acesso por exemplo, entre outros pontos questionados em desfavor do colégio.

Disse o perito, em sua página de facebook, isentando o colégio, que pretende contratá-lo, de qualquer responsabilidade:

“Tem que haver relação de causalidade com a morte violenta, para se responsabilizar, atribuir culpa. Inicio com esta citação para que os arautos que proclamam, opiniões malévolas de culpa ao Colégio, tenham conhecimento que não há culpa, pois não ficou estabelecido nexo de causalidade. Com os pais presentes, o alunado, familiares, sociedade local, durante uma comemoração interna de formatura,que reunia mais de duas mil e quinhentas pessoas, uma criança é assassinada de modo bárbaro. O tradicional Colégio católico, com tanto serviço prestado à cidade e à região, administrado por irmãs de uma Ordem Religiosa tão próxima do Senhor, tem sua imagem maculada, com a divulgação e até propaganda caluniosa. Está sendo agredido sem culpa. Não aceito e lamento é desejar atribuir culpa a terceiros, inocentes, que nada tem a ver com o crime hediondo; no caso o Colégio, também vítima da barbaridade”

Esse pensamento confronta com o sentimento dos pais de Beatriz Mota, que questionam a ausência de uma equipe mínima de segurança especializada, o controle através de senhas e uma maior colaboração do colégio nas investigações.

Sanguinetti, que vem emitindo opinião sobre o caso à distância, já afirmou que possui fotografias da criança morta e de algumas cenas do crime. Perguntado como isso foi possível, já que o perito ainda não teve acesso aos autos, ele respondeu:

“As fotos que tenho foram encaminhadas por pessoas que estavam na festa. Eu tenho ex-alunos que são médicos ai na cidade, tenho pessoas amigas e eles, sabendo da minha atividade, me enviaram estas fotos. Quando aconteceu o crime, se dirigiram a mim e eu pedi o material. Uma pessoa fez fotos com celular, me enviou e eu fiz uma coletânea. Nada me chegou através da polícia”, esclareceu.

O perito afirmou ainda que fez uma análise destas fotos:
“Eu não tenho fotos do Instituto Médico Legal. Mas tenho várias fotos da cena do crime, do quarto de material esportivo, fotos em várias posições. Aí eu pude ver algumas coisas bem significativas. E eu tenho um equipamento que amplia essas fotos e dá variação de coloração. Técnicas recentes para serem usadas em imagens. O material que eu tenho é do dia do crime. O material do cadáver que chegou ao IML se torna permanente pelos exames, então a materialidade de recepcionalidade está registrada. Foi dito pela perícia que a vítima não foi assassinada no interior do quarto que foi encontrada, mas não foi apresentado outro local. Isso que eu quero investigar. Também existiam pessoas que estavam sentadas antes do desaparecimento da menina e no período de tempo do crime, a imagem não mostra pelo menos três pessoas. Só não viu isso quem não quis ver. Essas pessoas só reaparecem e voltam a sentar onde estavam, já no período das buscas. Isso está muito evidente”, declarou o perito.

Perguntado sobre a possibilidade da criança ter sido vítima de algum ritual de magia negra, ele descartou:
“Eu descarto a hipótese de magia negra. Tenho alguns livros que abordam criminalística e magia negra e sei que, geralmente, nos rituais há um corte na jugular, na região cervical. Há um preparo necessário e não teve a coleta do sangue. Pela minha experiência, eu descarto”, afirmou.

Sanguinetti concluiu a entrevista dizendo que, enquanto aguarda a liberação da justiça para entrar no caso, está trabalhando à distância. “Se a excelência achar que devo participar do caso, estarei aí. Se não, trabalho à distância, porque também sou pai e estou chocado com a barbaridade do crime. Sete meses é tempo demais para não ter uma linha de investigação.

O Maria Auxiliadora pleiteia um contra-laudo ou perícia paralela de Sanguinetti. O casal Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá também pleitearam.
Eles contrataram Sanguineti também.

Os dois foram condenados pelo homicídio triplamente qualificado da menina Isabella Nardoni, em 2008. Permanecem na cadeia até hoje. Sanguinetti escreveu o livro “A condenação do casal Nardoni – erros e contradições periciais”, que o juiz Enéas Costa Garcia, da 5ª Vara Cível de São Paulo, atendendo a um pedido da mãe da menina, Ana Carolina de Oliveira, determinou busca e apreensão dos exemplares da obra.

O perito também atuou no controverso laudo sobre a morte de PC Farias, em 1996. E voltou à cena para provar que o goleiro Bruno não matou a amante Eliza Samúdio.
A vinda de George Sanguinetti divide opiniões e tem provocado reações nas redes sociais. Os pais da criança não foram ouvidos pela direção do colégio contratante, sobre a vinda do perito. Seria de bom tom respaldar-se no desejo dos maiores interessados na elucidação do caso, os pais de Beatriz, vítimas reais do brutal assassinato.

Sanguinetti já sabe o que muitos pensam sobre a sua vinda e responde:

“Como vejo nas redes sociais, minha participação no caso desagrada um pouco. Tem pessoas que não veem com bons olhos essa minha participação no caso, mas eu já estou acostumado com essa polêmicas”, concluiu o perito.

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