O 08 de março e as rosas – Por Dalila Santos

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Dalila Santos – jornalista, professora do curso de Jornalismo da UNEB, doutoranda em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismos da UFBA, Militante da Marcha Mundial de Mulheres e do Levante Popular da Juventude.

Todo ano é a mesma coisa: a mídia pauta o Dia Internacional da Mulher trazendo como elemento base a maternidade. São vários depoimentos de filhas e filhos sobre a importância de sua mãe em suas vidas. Ou como as mulheres são essenciais para embelezar o dia-a-dia nas ruas, no trabalho e em casa, muitas vezes bancando a mãe nestes espaços. Quando ligo a TV e vejo estas matérias, parece que anteciparam o segundo domingo de maio para o 08 de março.

Aliás, a questão do Dia das Mães é um assunto que rende outras discussões acerca dos mitos que criam o “instinto materno” nas mulheres. O Dia Internacional da Mulher foi colocado dentro do calendário do comércio, devido à grande procura de flores e presentes para serem ofertadas às mulheres neste dia, principalmente às mães.

A criação do 08 de março é resultado das lutas feministas, que são pautadas historicamente a partir do século XIX (mas as mulheres sempre criaram mecanismos para se libertarem das opressões em outras épocas). Mas em que momento esta data foi criada? A história do marco inicial desta data envolve alguns mitos.

Segundo a pesquisadora Renée Côté, o 08 de março não foi instituído por conta de uma greve de mulheres em 1857, quando muitas delas morreram queimadas em uma fábrica durante um protesto. Algumas fontes históricas revelam que a comemoração começou nos Estados Unidos em 3 maio de 1908, na cidade de Chicago. Já na Europa, o Dia Internacional das Mulheres foi comemorado pelas alemãs em 19 de março de 1911. A data 08 de março aparece registrada na Rússia, durante as manifestações de mulheres operárias do setor têxtil, ocorridas no dia 23 de fevereiro de 1917 (que corresponde ao dia 8 de março no antigo calendário ortodoxo), data em que se comemorava o Dia Internacional das Mulheres na Rússia.

Durante a Conferência Internacional das Mulheres Comunistas, em 1921, foi proposto o 8 de março como data oficial do Dia Internacional da Mulher, lembrando a iniciativa das mulheres durante a Revolução Russa. Assim, a partir de 1922, o Dia Internacional da Mulher passou a ser celebrado oficialmente nesta data. A construção do 08 de março passa pelo protagonismo das mulheres na luta por inserção no mercado, melhores condições de trabalho e conquista do direito ao voto. Inseridas em partidos, associações, coletivos e sindicatos, as mulheres foram às ruas para exigirem igualdade.

Percebemos que algumas demandas reivindicadas no início do século XX ainda não foram contempladas por grande parte das mulheres, por isso a importância dos movimentos feministas e movimentos de mulheres, para que possamos alcançar uma sociedade igualitária para todas e todos. Percebemos a necessidade de englobar o plural MULHERES na nomenclatura da comemoração, devido à diversidade de mulheres que compõem a sociedade e, consequentemente, as demandas são diferenciadas. Porém, todas estão unidas com o mesmo objetivo: serem cidadãs respeitadas e com seus direitos assegurados.

Por isso, neste dia 08 de março, não ofereça uma rosa às mulheres que fazem parte da sua vida, ofereça seu apoio às lutas diárias que elas enfrentam em uma sociedade que ainda utiliza de normas machistas e patriarcais, como ao sair de casa e serem assediadas com extrema violência nas ruas, nos ônibus, nos locais de trabalho e estudo, seja com olhares, o “psiu, gostosa!” e até mesmo os toques. Isso para não mencionar outras demandas das violências sofridas pelas mulheres.

Parabenize as mulheres pelas conquistas e por se manterem de pé diante de tantos obstáculos para a concretização dos seus ideais. O significado do Dia Internacional da (s) Mulher (es) deve ser lembrado diariamente, pois precisamos ter consciência dos séculos de lutas das mulheres para ser tornarem cidadãs e participarem de todos os setores da sociedade.

Neste 08 de março ofereça como presente a estas mulheres as histórias de lutas e vitórias de outras mulheres que morreram para que pudéssemos votar e sermos candidatas nos processos eleitorais, estarmos nas universidades como discentes e docentes – dentre outras conquistas – e que são esquecidas pelos registros históricos e acabam sendo apagadas da memória. No Dia Internacional da (s) Mulher (es) podemos até aceitar uma rosa, pois a mesma é rodeada de fortes espinhos, escudos que protegem a sua aparente delicadeza.

 

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