A Ilha do Fogo é do Povo

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(Imagem ilustrativa)
São seis horas da manhã de sábado na Ilha do Fogo, situada entre as cidades de Juazeiro e Petrolina. A areia fofa e o vento frio das árvores são um privilégio para João Carlos, que pratica atividade física todos os dias. “Venho na ilha por ser um lugar tranquilo nesse horário.  A natureza, água do rio me fazem bem”, diz João Contador, como é conhecido por seus clientes.
O que poucas pessoas sabem é que a Ilha do Fogo foi objeto de expedição científica realizada pelo engenheiro e geógrafo Theodoro Fernandes Sampaio no final do século XIX e início do século XX. Em seu livro “Rio São Francisco e Chapada Diamantina”, editado em 1906, o engenheiro retrata de maneira simbólica a beleza natural da ilha e a cidade de Juazeiro, a qual denominou como um “empório do sertão brasileiro” e uma zona de influência comercial, destacando a porção do ilhéu. “Entre Petrolina e Juazeiro há no meio do rio um “ilhéo pitttoresco”, denominado por alto penhasco em forma de torre, do cinto do qual se desfruta o belo panorama da cidade e das regiões mais distantes. Espécie de jardim natural, formado pelos aluviões, é a pequena ilha o lago preferido dos juazeirenses e petrolinenses para os seus folguedos, pescarias e jantares”, descreveu.
Já conhecida como “Ilha do  Fogo”, Teodoro Sampaio a identificou como pequeno museu mineralógico, com duzentos ou trezentos metros e que exibe uma grande variedade de rochas e minerais, característica do vale. “Há ali uma rocha hornblenda duríssima que forma um quartzo escuro, fragmento esparsos de congloratos ou pudings, infiltrações de ferro e sílica, graphferro e sílica, graphito impuro, blocos graníticos, grande copia de seixos de quartzo  de cores diversas, fragmentos de agathas  de topázio  e pingos  d´agua”, descreveu no relato científico de sua viagem.
Terreno acidentado, formada por uma única rocha, o espaço eleva-se ao poente, formando um morro de aproximadamente 20 metros de altura. A origem do seu nome se deu por conta dos índios que ocupavam a ilha. Quando a ponte não existia, à noite acendiam fogueiras para chamar a atenção das pessoas que ficam observando o movimento dos respectivos cais das cidades ribeirinhas. No alto, fica um cruzeiro que durante muito tempo serviu de orientação aos navegantes na divisa das duas cidades. Também foi utilizado como espaço para subestação de energia na primeira metade do século XX.
Lazer 
Atualmente, o pequeno ilhéu é opção de lazer. Da sombra de uma árvore, Gildemar Rodrigues observa seus netos se refrescando no rio São Francisco. “Adorei visitar a ilha. É a minha primeira vez. A brisa leve e água quentinha me fazem relaxar”, afirma a professora de história. “Só não gostei muito porque não tem sinalização na ponte. Sinalização para pedestre, sabe? Devia ter uma sinalização, uma faixa de pedestre pra gente poder passar tranquila”, complementa.
Na ilha ainda não existe uma infraestutura apropriada para atender o turista. Por isso, convém levar os pertences necessários para aproveitar o dia. Por outro lado, a sociedade civil tem cobrado políticas públicas que deem andamento a um processo de revitalização com gestão compartilhada entre os municípios de Petrolina e Juazeiro. A circulação de caiaques movimenta ainda mais as águas do Velho Chico. “Sou de Petrolina, mas nos finais de semana, especialmente no domingo, venho sempre com a minha família”, diz Juliana Pereira, empresária. “No meio da cidade, poder andar de caiaque é fabuloso”.
A Ilha do Fogo esconde uma antiga lenda: a serpente presa a três fios de Maria dos cabelos de nossa Senhora das Grotas (Padroeira de Juazeiro-BA). No dia em que a serpente se libertar, as cidades de Juazeiro e Petrolina serão inundadas. Não faltam depoimentos de pessoas que afirmam piamente terem se deparado com a tal serpente d’água. “Coloca a cabeça debaixo d’água. Você pode ouvir o chocalho dela”, dizem. Essa lenda é dada como uma forma de proteção da ilha contra a degradação humana.
Entre muitas visitas, selfies e lendas, a ilha é frequentada por vários tipos de pessoas de todas as idades, sem distinção de cor, raça ou ideologia. Afinal, como diz os versos de uma banda regional, “a ilha do fogo é do povo”.
 
 
Texto e fotos: Ilana Yngrid
Agência de Notícias Multiciência

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