O bizarro “one man show” e sua bizarra plateia

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“Isso que dá pagar pau pra quem é de fora e menosprezar quem tanto luta por vocês. Vem um #@!$&@ qualquer, fala merda e leva nossa grana embora, e esse terr(hum)orista é só mais um desses tantos. Mas teve quem aplaudiu, quem contratou, quem pagou, e quem se omitiu!”, Euri Mania, rapper juazeirense.

“Estamos todos indignados com o “projeto” de humorista que veio aqui dar um “show” de falta de educação, falta de ética profissional, e sob o falso manto da liberdade de expressão, atenta contra a dignidade do povo e da cidade de Juazeiro, justamente por isso não devemos sequer citar o seu nome ou compartilhar o vídeo, pois assim estaremos lhe dando mais credibilidade e fama, assim como ajudando as aves do mau agouro que torcem contra a cidade a destilarem seu veneno em forma de um humor que não tem graça nenhuma. Se você está indignado, se você ama Juazeiro, não dê voz a esse patife”, Paulo Chancey, jornalista alagoano, residente em Juazeiro.

“As duas cidades são imponentes, históricas, exportadoras de talentos. Não é um sulista desinformado que vai diminuir suas qualificações, as duas cidades e seus prefeitos merecem respeito. Humorismo é dom e quem não possui se imbeciliza quando tenta ser engraçado”, Pedro Cordeiro, advogado juazeirense.

Esses são alguns depoimentos indignados que estão circulando nas redes sociais sobre uma apresentação que aconteceu no Teatro Dona Amélia do Sesc, em Petrolina, nos dias 26 e 27 de agosto, trazido pela empresa Cereja Produções.

O stand-up comedy “Partiu Portugal”, de um paranaense chamado Diogo Portugal, muito pouco conhecido nesta região e que faz a linha do humor sórdido e grotesco, permeado no discurso de ódio e preconceito, provocou juazeirenses e petrolinenses, despertando os piores sentimentos em nome do que está longe de ser arte.

A Cereja Produções, com expertise em contratar globais e stand-up deste gênero, cobrou cinquenta reais por um ingresso e o público pagou para ser ofendido e achincalhado. Pagou, riu e aplaudiu. Constrangimento!

As “piadas” toscas e de muitíssimo mal gosto e agressividade desqualificavam Juazeiro, faziam chacota com Petrolina, alimentavam o bairrismo, desrespeitavam prefeitos, ex-prefeitos e o povo. Ovacionado, o canastrão do humor, ganhava mais liberdade para sua expressão fascista.

Gente deste tipo não tem vergonha de assumir preconceitos de gênero, sexualidade, raça, classe social, origem, e etnia e desconhecem valores humanos, sobretudo o do respeito. Desconhecem também o bom-senso. Involuídos, querem virar celebridade a qualquer preço porque são desprovidos de valor. Estúpidos, são ofensivos e imorais porque só têm, por alguns minutos, a luz dos holofotes. Que some facilmente, sem jamais querer compará-los a algum cometa. Fui na internet pesquisar a vida deste desconhecido. “Diogo Portugal é um humorista brasileiro. Faz espetáculos de stand-up comedy, nos quais apresenta textos de autoria própria e interpreta diversos personagens” (Wikipédia).

Sim, ele interpreta personagens.  E os piores personagens. E representa tipos iguais aos que lhes defende e compartilham da sua sordidez. Aqueles que desrespeitam as mulheres (“Elas parecem carrancas”, disse ele), pratica a violência simbólica contra a comunidade gay (“Quer dá o #@%, vai no shopping de Juazeiro”), são racistas, raivosos, machistas, homofóbicos, opressores, agressivos, negativos, manipuladores e também frustrados.

O humor apresentado de pé e que teve um “seleto” público de quatro, o humor de “cara limpa” que teve a cara de pau de cobrar para falar mal e desdenhar de um lugar e de uma gente que riu de si própria, mostraram a que ponto chegou a dignidade das pessoas. O bizarro “one man show” contou a piada da tragédia humana.

Ele nem observou o nosso cotidiano… Não sabe ele dos nossos gênios e genialidades. Não sabe de nada esse rapaz que fala em nome da liberdade de expressão, para expressar seus ódios particulares, sem limites.

A verdadeira arte serve como protesto e transforma. E Juazeiro e Petrolina precisam protestar contra muita coisa. Tem muitos maus feitos e não feitos. Mas aquilo lá nada tinha de arte e serviu à discórdia, à disputa política rasteira, serviu à oposição burra de Juazeiro (desta que é minha cidade, eu posso falar), que se alimenta da política do ódio, do quanto pior melhor e rói a corda do torcer contra.

Ele, o contador de anedotas, tem 48 anos e já deveria ter evoluído. Mas deixa ele lá com a insignificância do seu talento.

O que me interessa é ler Juazeiro, tão atacada por ele, neste episódio.

Juazeiro tem 131 de história. Já deveria ter evoluído bem mais. Principalmente nas mentes, na maneira de pensar, fazer e viver a cidade. Na maneira de fazer política. Mas não, alguns filhos da mais que centenária cidade ajudam a chicotear a própria terra. Dão risada das próprias mazelas. Regozijam-se ao serem desqualificados , mas nada constroem. Preferem dar risadas, fazer piadas, tecer coisa alguma enquanto esperam sua vez de levar alguma vantagem.

Juazeiro já poderia ter evoluído bem mais.

E eu lamento muito tudo isso. Lamento também a displicência de produtores que oferecem lixos culturais. E de quem paga por eles. Lamento a atitude de quem compartilha esses lixos. De quem se aproveita deles para manipular e despertar ódios.

Os meus aplausos são para os que defendem, se rebelam, combatem, resistem e assim constroem.

Da Redação Por Sibelle Fonseca

5 COMENTÁRIOS

  1. Olá Sibele tudo bem,

    Sou de Juazeiro e moro em Curitiba desde 2000. Este rapaz é um humorista decadente e não é mais chamado para nada em Curitiba e no Paraná!!! Ele é sem noção e não merece nosso tempo!!!

    Abs

  2. Muito bom texto Sibelle, infelizmente uns poucos “juazeirenses” que não influem e nem contribuem por nossa cidade, se deixam ser manipulados por uma miséria que vem dos afundes denegrir nossa cidade e nosso povo. Vamos amar mais, curtir mais, cuidar mais de nossa cidade. #eu amo e respeito minha Juazeiro, de artes e artistas, de música e músicos, de muita gente boa e hospitaleiras. Juazeiro isala poesia, música e talentos em todas as áreas.

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