Sempre Aos Domingos: ” Você combina é com vida, Manuca !”, por Sibelle Fonseca

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Confesso que os domingos nunca foram os meus dias preferidos. Sempre tive uma coisa meio estranha com eles, os dias de domingo. Sinto neles um vazio, acho que são sombrios. Cinzentos. Meu coração sempre aperta nos dias de domingo e eu nunca soube o por quê. Quando estou em um domingo, espero o pior, a surpresa ruim, o susto, o findar de alguma coisa, de alguém. Isso é da minha natureza.

Está mais difícil viver esse domingo de hoje, 12 de novembro de 2017. O luto me vestiu. E vestiu a poesia. A poesia da minha terra está enlutada. Como estão o rio, as palavras, a melodia, os becos e as ruas da cidade e sua gente.

Domingo off line este. Parece mentira que Manuquinha não está mais aqui. Que ao vivo não veremos mais suas performances, nem ouviremos sua voz dando vida as letras que nasciam nele.

Cacete, isso é mesmo verdade?

Você não vai mais esbarrar com ele na rua e ele não vem mais na minha casa. Suas visitas rotineiras, rápidas e poéticas me farão uma falta imensa. Eu fico menor.

“Ô sibelleeee”, gritava rasgado na porta das casas em que já morei, me pedindo para abrir o coração e lê-lo e ouvi-lo. Isso era um imperativo para mim. Imperativo prazeroso. Tomávamos um café forte, fumávamos, eu ouvia seus sonhos, seus últimos versos e suas canções, com os seus tantos parceiros. Eram muitos. Todo dia ele me apresentava um melhor do que o outro, me enriquecendo.

Não sei se ele gostava de ouvir minha opinião ou sentir meu entusiasmo a cada composição que me trazia. O brilho no olho da fã era do que gostava, seguramente. Um dia ele me escreveu: “Querida e amada Sibelle,
obrigado pela força astral e pelo carinho de sempre com a minha música. Você é poesia nas águas do rio e minha poesia sorri quando você passa.”

A poesia morava nele inteiro. Na voz, no jeito, em todos os seus gestos e era a tela do seu olhar para mundo. Seu nome era poesia. O seu eterno é a poesia.

Virei fã dele na adolescência e logo dei um jeito de tornar-me sua amiga. Era uma necessidade minha ser próxima de um menino tão especial e colorido. A luz dele me atraía. E ainda mais sua rebeldia. A poesia dele me assustava. A rapidez pra criar, a ligeireza pra pensar, a voltagem alta pra viver.

Via Manuquinha no Chá das Cinco e ali comecei a gostar destas coisas de arte. Casamos na mesma época. Tivemos a primeira filha na mesma época também e fui acompanhando seus passos. Via o amor dele e de Lu e isso era inspirador.

Quando entrei para a TV pude lhe servir e como eu me sentia feliz por isso. A cada entrevista, a cada reportagem em que ele era o personagem principal, mais eu virava fã e mais nosso laço se apertava.

Vi e falei de Manuca no teatro, no cinema, na música. Vi e falei de Manuca provendo idéias, projetos, sonhos. Uma usina de arte existia na cabeça daquele aparelho franzino e intuído. Se psicografava, não sei, mas percebia que uma legião de espíritos sopravam pra ele. Nicanor, um deles.

Vi e falei de Manuca nos festivais, no Grammy, sendo gravado cada dia mais, lançando livros, novas ideias, amadurecendo, virando avô, voando.

Noticiei Manuca por 27 anos, mas bem antes disso ele já vivia na minha vida.

Pensei que ele era “imorrível”. Nunca me imaginei noticiando sua passagem para o outro plano.

Está sendo muito difícil redigir Manuquinha como um corpo. Escrever palavras como funeral, sepultamento, velório, pesar e luto, ligadas a ele. Ele não combina com nada disso.

Poxa, poeta, não era pra ser assim.

Não é pra ser assim. E não será. Você combina é com vida, Manuca! Você é alma. Agora, mais esprito será. Espírito de luz e poesia. Mais um espirito familiar que ganho.

Um espirito leve. Que brinca com as palavras e sabe fazer poesia. Que emana música e alegria. Um espirito do bem que agora fortalece a legião das melhores energias.

Continuamos conectados. Você estará online pra sempre na minha história. Na história de Juazeiro e do universo da poesia.

Pra terminar essa escrita dolorosa e molhada, te mando um bilhete: “Querido e amado Manuca, obrigada pela força astral e pelo carinho de sempre com a minha vida. Você é poesia nas águas do rio e minha poesia sorri agora, mais ainda, quando você passa.”

Passe bem, meu amigo!

Você deixa uma saudade imensa e ficará “imorrível” em mim, nos outros seus, na poesia, no rio, em Juazeiro.

Você ficará pra sempre, meu irmão de luz!

Você transcendeu. Está eternizado.

“Eu sempre soube que você é especial. Mas nunca soube que especial era tanto”. (Manuca Almeida).

Sibelle Fonseca é radialista, juazeirense apaixonada, militante do jornalismo, pedagoga, feminista, conselheira da mulher, mãe de quatro filhos, cantora nas horas mais prazerosas, defensora dos direitos humanos e uma amante da vida e de gente.

4 COMENTÁRIOS

  1. Sibelle, querida, lhe conheço de nome, de tanto Manuquete falar. Sei bem o que você está sentindo, sinto mais ou menos o mesmo. Manuca fará uma falta enorme na minha vida e na vida de muitas pessoas. Que Deus dê conforto a Lu e as meninas e nos ajude a aceitar a sua partida. Tá difícil.

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