Sempre Aos Domingos: “Então, vamos lá! Mãos a obra, cristãos e cristãs!”, por Sibelle Fonseca

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Olhe bem pra esta foto. Se você não estiver vendo o que vejo, sinto muito. Sinto pela humanidade. E me perdoe a ousadia de te aconselhar a “se benzer”, como diz a música que canta a Preta Gil.

Esta imagem traduz o que de pior tem a sociedade. Nítido está o preconceito, irmão da ignorância e primo da estupidez.

Tá aí a prova descarada e acintosa do racismo. Duas bonecas iguais, com valores diferentes. A de cor preta, mais barata. Num país notadamente negro nas suas ruas e raízes, a boneca mais comprada é a branca. Também para as crianças afrodescendentes. Não acredito que a escolha seja delas. O capital é branco. A mídia também.

E a crueldade da prateleira da loja de brinquedos, é cotidiana na vida real. A carne preta é mais barata. A supremacia branca é perversa e tem gente que se presta a disseminar a discriminação, sem o menor pudor.

“Não, eu não sou racista”, dizem. Mas torcem o nariz pra o negro que está paquerando sua caçula e é amigo do mais velho. Olham de canto para o jovem black power na universidade e para o médico preto que chegou lá e não foi fácil.

“Não, eu não sou racista”, dizem. Mas lá adiante repetem que cabelo de preto é ruim e ele tem “inhaca”.

O pior de tudo é que essa raça de gente perversa, além de racista, oprime de todas as formas o diferente, o estabelecido como “parte mais fraca”. São uns covardes que não vacilam em discriminar mulheres, gays, lésbicas e trans e os que vivem esmagados na base da pirâmide. Podem reparar! Os racistas, são também machistas, misóginos, homofóbicos, exploradores, arrogantes, hipócritas, uns estúpidos eles são.

Então, no domingo de natal, eu quero falar de cristianismo. Quero falar do empresário que se diz cristão e etiqueta a boneca preta com menor valor. E também dos pais que “deus me livre de comprar uma boneca dessa”. Dos que espancam e matam mulheres. Dos que perseguem e atacam gays, trans e fazem piadas com a sexualidade alheia. Dos que preferem “cheiro de cavalo a cheiro de gente”, rasgam os direitos humanos, defendem a pena de morte, os interesses da elite dominante, o capitalismo selvagem, a condenação de adolescentes e repetem que “pobres que se explodam”.

Dizem os ensinamentos religiosos que Natal é tempo de nascimento.

Então, vamos lá! Mãos a obra, cristãos e cristãs! Vamos desconstruir preconceitos, esta é a melhor forma de oração. Que tal libertarmo-nos deles? Isso é tarefa diária e carece vigília. Se somos mesmo seguidores de Jesus de Nazaré, o menino dono da festa religiosa de hoje, olhemos e sintamos todos e todas de forma igual, vendo o humano que existem em cada um de nós. Respeitemos o outro, a outra, o próximo e também aquele que não é tão próximo.

Que na ceia de logo mais sejam servidas compreensão, generosidade, leveza, colaboração, tolerância e simplicidade. Que a coragem, a resistência e o enfrentamento de Jesus guiem a nossa conduta de combater injustiças e a opressão. Que o espirito natalino chegue varrendo os nossos lixos morais e nossas atrocidades.

Não haverá nascimento, se repetirmos conceitos e preconceitos arraigados.

Não será um natal feliz e nem um ano novo em nada, se não mexermos dentro de nós e desejarmos a evolução.

Evolução, é o que desejo. Para mim, para você!

Sibelle Fonseca é radialista, juazeirense apaixonada, militante do jornalismo, pedagoga, feminista, conselheira da mulher, mãe de quatro filhos, cantora nas horas mais prazerosas, defensora dos direitos humanos e uma amante da vida e de gente.

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