Especial: Carrancas “diferentonas”, coloridas e reinventadas por um jovem de alma ribeirinha

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O Vale do São Francisco também é conhecido por suas carrancas, escultura que simboliza proteção, segundo a crença popular. Além de serem comuns nas embarcações que navegavam pelas águas do “Velho Chico”, as carrancas também são usadas como objetos de decoração. Elas possuem forma humana ou animal e são produzidas em madeira.

Nas embarcações, ocupavam a proa e dali afastavam os “maus espíritos”, como acreditavam os navegantes.

Espalhou-se no Brasil como arte popular e, vendida em feiras e lojas de produtos artesanais, tomou formas variadas pelas mãos dos “carranqueiros”, artesãos que esculpem a peça, também um amuleto.

De tamanhos variados e expressão forte, as carrancas do Velho Chico, estão nos dicionários de língua portuguesa como uma “figura sombria, de cara feia e disforme, indicativo de mau humor”.

Uma figura assustadora para alguns. Sisuda até!

Mas não para um jovem de 20 anos que resolveu dar cores as carrancas. Pedro Duarte Damasceno Pereira, nascido em Salvador e criado em Juazeiro da Bahia, brincou com as tintas e com muita atitude, deu graça e beleza a escultura.

O trabalho dele vem encantado e conquistando muitos admiradores e ele conta como nasceu a ideia de transformar as carrancas em peças mais leves e coloridas. Uma reinvenção!

“Por volta do ano de 2013, minha mãe pediu que eu pintasse uma coruja de madeira que a gente tinha aqui em casa. Curtimos o resultado colorido. Pouco tempo depois, em meados de 2014, ela pediu que eu pintasse uma carranca grande que temos na porta de casa e que já estava envelhecida por conta do sol. Pintei toda colorida, mas de forma bem simples e despretensiosa. Já em 2016 minha avó pediu que eu fizesse uma carranca colorida para ela. Compramos duas peças, uma pra minha avó e a outra seria para colocar no escritório de meu pai. Por algum motivo eu estava sob muita influência do Dia de Los Muertos naquela época, e decidi que a carranca do escritório seria inspirado nessa temática, isso trouxe uma identidade muito original e diferente pra carranca, e acabou chamando atenção das pessoas. “, relatou o artista em entrevista ao Portal Preto No Branco.

Ainda de acordo com ele, as suas esculturas começaram a ganhar repercussão após um cliente publicar uma foto do seu trabalho nas redes sociais.  “No fim de 2016, as proprietárias do espaço Cubículo, em Petrolina,  me convidaram pra fazer parte da rede colaborativa delas, então eu produzi algumas peças que seriam expostas e vendidas por lá, foi o primeiro comércio do meu trabalho. No começo de 2017 recebi alguns pedidos, dentre eles o de pintar a carranca do Café de Bule. É uma carranca que tem um braço e ela está segurando uma xícara. Foi um trabalho importante, pois eu estava começando e o Café de Bule abraçou a ideia da carranca colorida. Depois disso a produção foi aumentando e se diversificando cada vez mais. Explorei outros modelos de carrancas e tentei incorporar novos elementos na pintura”, declarou.

Atualmente Pedro estuda Animação na Faculdade Melies, em São Paulo e vem aprimorando a sua técnica. “Hoje em dia, algumas coisas que eu estudei na faculdade me ajudam a compor melhor as peças. Tive uma matéria de psicologia das cores, uso do círculo cromático, como combinar cores, etc… Isso me fez estabelecer uma paleta base de cores e me ajudou a criar composições mais bonitas e que funcionem, evitando que a peça fique ‘poluída’ visualmente. Outra coisa que a faculdade me ajudou foi na produção de ‘animações’ para expor as peças, uso a técnica do ‘stop-motion’,de forma bem simples para mostrar a peça em 360 graus”, esclareceu.

Para divulgar as suas carrancas, Pedro criou um página no Facebook, intitulada como Babuluba. “Os pedidos foram aumentando e eu precisava de uma plataforma pra me comunicar com as pessoas, além de divulgar e expor meus trabalhos. O nome, Babuluba, serve mais como um nome comercial, e foi inspirado (e adaptado) por uma expressão da música Let me sing, de Raul”, explicou o jovem artista.

Apesar da influência da cultura mexicana, Pedro disse a nossa redação que também procura manter uma identidade sertaneja/nordestina nas suas peças. “Quando tenho tempo livre, ou quando recebo pedidos específicos, acabo criando peças mais ‘diferentonas’ , como carranca do Bahia, carranca pernambucana, carranca feita pro halloween, etc…). É isso é o que eu quero fazer mais daqui pra frente, buscar novas identidades e possibilidades. Outro plano pro futuro é começar a investir mais tempo em outros projetos pessoais”, conclui o jovem artista.

Com máximos respeito e admiração ao trabalho deste jovem artista, o Portal Preto No Branco, convida seus leitores a conhecerem mais o trabalho de Pedro Duarte, através das redes sociais do artista: Facebook: (/babulubarte) e Instagram: (@babuluba_)

Vale muito a pena!

Da Redação por Yonara Santos

6 COMENTÁRIOS

  1. Amei a criatividade e beleza que alegrou estas criaturas (as carrancas , que tinham a função de assustar e proteger os barqueiros) ele transformou em alegres e felizes ex carrancudas. Belo trabalho. Quero comprar umas.

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