STRJ: 48 anos de lutas e resistência na defesa dos trabalhadores/as rurais de Juazeiro-BA

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João Oliveira entregando as primeiras carteiras aos associados do STRJ, em 1972

 

A década de 1970 foi marcada pela repressão política e social. A liberdade de expressão e pensamento foram esmagadas pela ditadura militar de 1964, que cassou direitos políticos, decretou a lei antigreve, proporcionou a precarização do trabalho, a censura. Por outro lado, foi um momento de grande efervescência dos movimentos populares em todo país. Neste contexto, marcado por fortes conflitos e resistência, nasceu o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Juazeiro (STRJ), no dia 06 de fevereiro de 1971.

Tudo começou a partir da luta dos trabalhadores, pela garantia dos seus direitos. João Oliveira Coelho, 77, que compôs a primeira diretoria do STRJ, recorda que a entidade passou a funcionar, sob a coordenação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). “A iniciativa partiu de Antônio Oliveira, delegado sindical da Fetag-Ba, que fundou o sindicato de Juazeiro e de algumas cidades próximas”, confirmou Coelho.

A primeira sede do sindicato funcionou na rua Joaquim de Queiroz, próximo onde atualmente fica a secretaria de educação do município. A entidade, atuou na clandestinidade por alguns anos, e em 1972 foi reconhecida pelo Ministério do Trabalho, após eleição direta, com os primeiros 65 sócios, todos homens. A filiação garantia o acesso ao Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador (FUNRURAL), que proporcionava a realização de exames, na Maternidade Municipal de Juazeiro e na Pro-Matre.

José Alves Duarte, 54, popularmente conhecido como “Didi da Massaroca”, compõe a atual diretoria do STRJ e travou, junto com os trabalhadores, lutas importantes, guardadas em sua memória. O diretor de políticas salariais do STRJ relembrou que nesta época, o movimento sindical passou a ser uma importante forma de organização.

 “Com o golpe militar de 1964, a população procurava se organizar através dos movimentos e o sindical, que estava surgindo por região, aparecia com mais força”, afirmou Didi.

SINDICALIZAÇÃO FEMININA: As mulheres não tinham direito a filiação sindical. Apenas uma pessoa da família, geralmente o patriarca, poderia ser sindicalizado e os benefícios se estendia aos demais membros.  Josefa Rita da Silva,72, lembra com orgulho o dia em que quebrou as barreiras do machismo, e aos 25 anos, se tornou a primeira sócia do sindicato de Juazeiro, no início da década de 1980. Mas não foi uma tarefa fácil.

Zefa Rita ou Zefinha para os mais íntimos, era cortadora de cana da Agrovale e atuava junto aos movimentos populares da época, em Sobradinho. Ela recorda com exatidão que no dia 25 de julho de 1980, durante o governo de Figueiredo, foi realizada uma manifestação em frente ao sindicato de Juazeiro, que na época, funcionava na rua Carmela Dutra, na Orla da cidade. Foi nesse momento que começou a articulação para que Zefinha tivesse o direito a sindicalização.

Em meio a muitos risos, Zefinha lembrou que para se filiar ao sindicato, teve que usar a documentação de um trabalhador falecido, e na clandestinidade, garantiu o direito das mulheres à sindicalização. “Depois que fizemos uma mobilização na ponte para o assentamento de pessoas do projeto Maniçoba e Curaçá, descobriram que o homem tinha morrido e eu usei a ficha dele. Ninguém queria me deixar falar, mas eu pedi a palavra e falei. No dia seguinte, consegui filiar cinco mulheres”, confessou Zefinha.

AGRICULTURA FAMILIAR: O trabalho do sindicato com a agricultura familiar, possibilitou, segundo João Oliveira, a introdução dos projetos irrigados na região. “O sindicato era o responsável por dar o aval para que o Tourão, o Mandacaru, a Maniçoba e por último, o projeto Curaçá, pudessem se instalar no município”, explicou.

ASSALARIAMENTO RURAL: O Grito da Terra Brasil, realizado após o fim do golpe militar, tirou o STRJ da clandestinidade. O sindicato assumiu também a bandeira do assalariamento rural, buscando garantir direitos à categoria.  A primeira greve da Agrovale, em 1987, mudou o cenário e a vida dos trabalhadores/as canavieiros da região, conforme conta Emerson José da Silva, 38, Mitú, atual presidente do STRJ.

 “Os trabalhadores, principalmente as mulheres, não tinham direito a carteira assinada. Trabalhavam avulso. Após a greve, os direitos trabalhistas começaram, aos poucos, a serem respeitados”, explicou Mitú.

As negociações da hortifruticultura irrigada tiveram início em 1993. No ano seguinte, os sindicatos rurais do Vale do São Francisco unificaram as lutas, com a elaboração da Convenção Coletiva do Trabalho Unificada, Bahia e Pernambuco.

UNIDADE E LUTA: O STRJ também tem atuado na revitalização dos perímetros irrigados, no acesso ao crédito rural, na garantia de direitos previdenciários. Regina Lúcia Vieira, 57, secretária geral do STRJ, atuou nos no final dos anos 2000, na mobilização de políticas públicas para o semiárido, com os programas do Governo Federal, Um Milhão de Cisternas (P1MC) e Uma Terra e Duas Águas (P1+2). “Foi um período marcante. A gente chegava a andar 30km, no interior de Juazeiro, apenas com uma moto e a alegria das famílias, ao receber a política pública, compensava qualquer desgaste”, afirmou Lucinha.

Agnaldo Meira,47, vereador de Juazeiro e ex-presidente sindical, também fez parte dessa história, com atuação na agricultura familiar e nas negociações coletivas da hortifruticultura e canavieiros. A administração do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Juazeiro evolui. Atualmente a entidade possui duas sedes próprias, adquiridas nos anos 2000, dois carros novos, uma moto, um trator, conta com assessoria jurídica, consultório odontológico e conseguiu quitar mais de 500 mil reais em dívidas.

“Foram conquistas essenciais, que legitimam a importância do STRJ na cidade, 48 anos possibilitando mudanças na vida dos agricultores/as rurais e assalariados/as” disse Meira.

Comemoração do aniversário de 48 anos do STRJ

 Na manhã desta quarta-feira (06), trabalhadores/as rurais e dirigentes do STRJ, comemoraram mais um ano de lutas e relembraram as conquistas importantes da entidade, no fortalecimento da agricultura familiar e na defesa dos direitos dos assalariados.

 

Por Sheila Feitosa/ Ascom

 

 

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