“8 de Março é dia de luta”, por Luana Rodrigues

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Acordei hoje muito emocionada. Mesmo recebendo tantas felicitações, começando por um beijo e abraço do meu marido, pelo Dia Internacional da Mulher, não conseguir relaxar ou comemorar. Desde ontem meu corpo inteiro estremece quando penso na mãe juazeirense, do bairro Itaberaba que em seu colo viu sua filha de 16 anos ser estuprada a sangue frio por mais 8 horas. Quando vejo uma postagem contando a história da mulher grávida que pediu a vizinha “Me tira daquele inferno, não aguento mais”, e morreu após ser espancada pelo marido em Barra Mansa–RJ. Quando lembro de Dandara, mulher TRANS espancada publicamente por vários homens no Ceará, e das tantas outras que são violentadas a cada 5 min ou das irmãs que são mortas a cada 1:30 nesse País.

Quando se trata de nós, mulheres negras, o peso é inúmeras vezes maior, já que somos nós que despontamos nas estatísticas da violência de gênero e do abandono. São nossas crianças negras que tem 70% a mais de chances de serem pobres e 30% de estarem fora da escola. São as nossas meninas negras as maiores vítimas do estupro e violência sexual.

Sinto-me triste, sem muito para comemorar, por que ainda não compreendemos que a união é imprescindível para modificar a condição da mulheres na sociedade. Ou saímos da condição de reprodutoras, cuidadoras, propriedade ou jurisdição das instituições sociais ou permaneceremos expostas a qualquer tipo de violência. E não minhas irmãs, não estaremos vivas e muito menos seguras.

Essa violência não é por amor, ou doença, e nem ocorre de maneira isolada. A causa dessa patologia social tem suas raízes fincadas no patriarcado, no colonialismo e atende perfeitamente aos interesses do capitalismo com destaque para a atualidade considerando o avanço do fascismo a partir da Ascensão da extrema direita no Brasil e no mundo. Para concluir, convido todas vocês para que possamos refletir juntas com Audre Lorde, uma militante do feminismo negro, que por volta das décadas de 70 e 80 nos ensinava sobre empoderamento e sororidade: “Não sou livre enquanto outra mulher não for, mesmo que suas correntes sejam diferentes das minhas”.

Que essa frase nos embale no dia de hoje e na vida.

8 de Março é dia de luta.

Luana Rodrigues, mulher negra Juazeirense e militante do feminismo negro.

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