Opinião: As tramas do poder por trás das eleições para reitoria da UNEB

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A Universidade do Estado da Bahia possui 29 departamentos em 24 cidades polo, sendo a maior instituição multicampi da América Latina. É altamente estratégica a sua campanha para reitoria. Transcende as discussões da comunidade acadêmica. E eu ousaria dizer mais: a comunidade acadêmica é nas tramas políticas, a de menor relevância nos processos políticos. Segue-se então o “efeito manada”. Estudantes, técnicos e docentes são colocados como peças secundárias no tabuleiro das negociatas.

Toda a discussão vem de cima. As trocas, os acordos e os favores são intensos. 2018 se aproxima e essa eleição para a reitoria é estratégica para 2018. Deputados apoiam candidaturas pensando em seus redutos eleitorais dispersos por todo o interior baiano. Prefeitos também entram nas negociatas também com base nos “currais eleitorais”. “Eu te apoio, mas em 2018, a UNEB precisa ser palanque pra gente nas cidades e nos territórios X, Y, Z”.

Eu, na minha humilde ingenuidade, antes de conhecer as regras do jogo, imaginava em uma inocência de dar dó que a discussão perpassava pelas necessidades da instituição em si, de uma construção coletiva de programas de gestão que contemplasse as reais demandas da academia.

O esfacelado, apático e corroído movimento estudantil da UNEB é usado como massa de manobra para interesses que contemplam qualquer pragmatismo, menos as políticas de assistência estudantil, já que os estudantes vivem das parcas migalhas que a Administração Central concede, com poucas bolsas, atrasos no pagamento das tais bolsas, a ponto de os estudantes terem que ficar mendigando através de ligações para a Praes a fim de saber quando receberá o minguado recurso destinado às cosméticas “políticas de assistência estudantil”.

Cada deputado com mandato quer manter e ainda estender seus tentáculos sobre os currais eleitorais nos territórios de identidade da grande Bahia. Esses mesmos deputados se articulam com os prefeitos, que se articulam com os vereadores, que se articulam com a base. A pobre da “base”, mal sabe que só serve como escada para meia dúzia ascender ao poder.

Abrangendo toda a Bahia, a UNEB possui uma das campanhas para reitoria mais caras que se possa imaginar. É impensável construir uma candidatura que seja fruto de um desejo coletivo, de uma experiência genuína e orgânica entre docentes, técnicos e estudantes. Sendo assim, fica a pergunta: quem financia estas campanhas milionárias, com viagens, caravanas, hospedagens? Qual o preço a se pagar pela eleição de uma reitoria como a da UNEB?

A pergunta é meramente retórica. Todos sabemos como funciona. Agências de publicidade são contratadas. O esquema é altamente profissional. É pesado. Pobres estudantes em seus encontros, com seus gritos de guerra, servindo a máquina da reitoria.

São gado, são massa de manobra. São escadas para que alguns conquistem e mantenham o poder. Os técnicos, se sentem traídos a cada campanha, a cada eleição. Sobra retórica e falta ação. Planos de carreira estagnados. Salários aquém do que precisam ganhar para sobreviverem com uma dignidade mínima. E os terceirizados? O que falar? Precarização extrema. Atrasos recorrentes. Invisibilidade.

A ‘suposta’ elite pensante da academia, os docentes, se envolvem em todas estas tramas escusas. Os diretores de departamento barganham em troca de verbas, de cargos, de interesses pessoais, que estão longe de contemplar uma ideia de coletividade. É claro que nem todo mundo age assim, meu texto não pressupõe uma generalização, mas traz a tona, para os e as estudantes, principalmente, como funcionam as regras do jogo.

Sobra marketing, publicidade, espetacularização. Enquanto isso, nós, os pobres mortais, continuamos apáticos, acomodados, calados, inertes. Balançando a cabeça para toda essa baixaria política que é sistêmica do país e que a academia apenas reproduz. As peças estão postas. Os jogos já começaram. Fiquem atentos. Não sejam massa de manobra. Pensem. Reflitam. Critiquem.

Por Juliano Ferreira

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