Noite de São João sem Guerra de Espadas em Senhor do Bonfim?

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O Ministério Público da Bahia (MP-BA) recomendou à prefeitura de Senhor do Bonfim que não promova, prepare, apoie ou coopere com a execução da guerra de espadas na cidade.

Uma contradição, já que o município tem a guerra de espadas como tradição nos festejos juninos e, o executivo sancionou na terça-feira(13) o projeto de lei que transforma a guerra de espadas em patrimônio cultural e imaterial da cidade.

Na recomendação, o MP é claro e ameaça ” quem for pego participando da “brincadeira” pode ser preso em flagrante e responder pelo crime previsto na lei de combate à posse e comercialização de armas de fogo e munição. A pena é de três a seis anos de prisão, além de pagamento de multa.

A medida do MP divide opiniões na cidade. Alguns moradores, receosos com os acidentes a que as pessoas, principalmente os participantes ficam expostos, defendem o fim da tradição. Informações dão conta de que, no São João de 2016, ao menos 19 pessoas tiveram ferimentos no município por conta da guerra de espadas.

Mas há um movimento forte de defesa da guerra de espadas, entre os agentes culturais, espadeiros e apreciadores da brincadeira que caracteriza o São João de Senhor do Bonfim.

O Secretário de Cultura do município, Rodrigo Wanderley diz que ” é um abuso de poder e uma violência. Essa foi a percepção da comunidade. A guerra faz parte do São João. É a manifestação cultural mais importante dentro do São João”, afirmou

O Ex diretor de Cultura do município Ricardo Bitencourt, que participou da organização dos festejos e consequentemente do acompanhamento da guerra, de 2002 a 2008, diz que a guerra é um movimento do povo de Bonfim e não é uma produção da prefeitura  “Tem à ver com a relação de pertencimento do povo com o seu lugar, seu bairro e com a movimentação popular de defesa de suas fogueiras. É uma ocupação livre das ruas e de conhecimento de todos, que inclusive tem hora para iniciar e terminar. É uma “guerra pacífica”! Não há ataque ao outro! Há incidentes registrados, mas são muito pequenos se comparados a outras coisas que acontecem também dentro da festa, como acidentes motivados por ingestão de álcool.

Ricardo Bitencourt, bonfinense, que desde a mocidade acompanha o roteiro dos espadeiros, lamenta a medida do MP “Tratar a Guerra de Espadas de Senhor do Bonfim como algo ilegal é lamentável e sem cabimento. Mostra total desconhecimento sobre essa expressão da cultura bonfinense e sobre sua festa”, revelou.

O sentimento dele é o mesmo de muitos outros bonfinenses que na noite de hoje não virão a luz, o brilho, a alegria e a chama viva da tradição nas ruas da cidade.

O bonfinense Osvaldo Aragão se manifestou na sua página do facebook e protestou: “Revoltado, indignado, triste e quase chorando. Devolvam minha tradição! Vcs não nasceram na gamboa, nem nas populares, muito menos no alto ou no centro de Bonfim. Vcs sabem onde fica o Quice, Carrapichel ou Igara? Sabiam que nossa cidade nasceu na missão? Já ouviram falar em Pedro Amorim, Bobo e Edinho baiano? Sabiam que a roda do Palmeira não tem nada com o Palmeiras de São Paulo? Sabia que Dr Nequinho, apesar de ser médico, era um excelente músico? Pois é! Isso não é 0,00001% da história da nossa Bonfim. Respeitem nossos antepassados e nossos filhos e netos! Peçam desculpas a população! Quero nossa tradição respeitada! Viva a guerra de espadas! Viva os espadeiros! VIVA BONFIM!”

Pela medida imposta pelo MP, Senhor do Bonfim perderá a sua mais forte manifestação cultural.

Mas a noite deste dia 23  é quem vai dizer o destino da tradição. Se depender dos espadeiros, preparados para guerrear, pode haver surpresas …

Da Redação

 

1 COMENTÁRIO

  1. Bom dia! !!
    Fui criado em Sr. do Bonfim, morei na cidade de 1973 até 1999. Nunca participei da “Guerra de espadas”, porém sou a favor de que se mantenha a tradição, desde que haja um local apropriado para a realização desse evento. Obrigado!!

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