Está circulando na internet uma petição popular pela Conservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Petrolina, endereçada ao Presidente da Câmara dos Vereadores do município, com o seguinte teor:
“Nós abaixo assinados, estamos chocados com a possibilidade de intervenção no Palácio Episcopal de Petrolina, Patrimônio Cultural tombado, conforme artigo 11 das Disposições Transitórias da Lei Orgânica do Município, e sua possível descaracterização destruindo a história cultural e a paisagem da nossa cidade para fins privados tão restritivos como os shopping. É triste ver que um imóvel que foi da igreja destinado a este fim, considerando o déficit social profundo em ambientes culturais dignos na nossa cidade. Queremos portanto ser consultados e opinar sobre o seu destino, Com esta razão, portanto,vamos nos unir contra essa discrepância disfarçada de desenvolvimento que nos é imposta e convocar o máximo de pessoas para esta causa.
A petição surgiu depois da informação de que existe um projeto de construção de um “shopping popular”, nas adjacências do Palácio Diocesano da cidade. O anuncio das vendas dos boxes já vem sendo feito e segundo informações de petrolinenses indignados com os projeto, as árvores da área externa do Palácio já foram destruídas.
O Palácio é propriedade da Diocese e assim como a Catedral, é patrimônio histórico da comunidade. De acordo com a Lei Orgânica do Município, estaria na lista de edifícios a serem tombados pelo Poder executivo.
O bispo emérito de Petrolina Dom Frei Paulo Cardoso, se manifestou sobre a possível intervenção e se disse “amargurado e entristecido” com o projeto. Dom Frei Paulo criticou duramente os administradores da diocese, que venderam parte do imóvel.
Veja na íntegra carta do bispo Dom Frei Paulo Cardoso
Ao clero da Diocese de Petrolina. Caros irmãos no Sacerdócio ministerial.
1. Profundamente amargurado e entristecido, tomei conhecimento de que se pretende levar adiante o projeto de construção de um “shopping popular”, nas adjacências do Palácio Diocesano. As imagens do projeto continuam a circular abundantemente na internet. Já se anuncia o início imediato das vendas dos “boxes”. As frondosas árvores do “quintal” do Palácio já foram destruídas.
2. Inicialmente, cheguei a pensar na conveniência de publicar uma “Carta Aberta” ao Clero, às autoridades constituídas e à sociedade petrolinense, sobretudo a população católica. Mas depois achei mais conveniente dirigir-me primeiro ao Clero
3. Todos sabem de minha posição, radicalmente contrária, desde que, há dois anos ou mais, começaram a circular notícias a respeito. Senti-me no direito e na obrigação de externar minha opinião ao então Bispo diocesano, ao próprio clero e ao Colégio dos Consultores.
4. As razões por mim apresentadas são já conhecidas. Entre outras, relembraria: a) O alto significado histórico e afetivo do Palácio para a Diocese e para toda a sociedade petrolinense. O Palácio e a Catedral, sonhos realizados pelo grande Dom Antônio Malan, constituem como que uma única coisa. b) Se, para atender às necessidades da Diocese, o plano era construir algo, dispúnhamos e dispomos de duas áreas excelentes e livres, muito bem localizadas: a área adjacente e contígua ao “Palacinho”, e a ampla área de terreno do Pio XI, que dá para a Av. Guararapes.
5. O atual projeto que se está levando a cabo, não recebeu a aprovação da Secretaria de Obras, por razões técnicas e evidentes. Chegou-se mesmo a denominar de “camelódromo” o que se estava propondo construir.
6. Cheguei a encaminhar Ofício ao Prefeito anterior, solicitando a não-aprovação do projeto.
7. Repito que, se o Palácio é propriedade da Diocese, constitui também um patrimônio da comunidade, assim como a Catedral.
8. O Palácio, figura na Lei Orgânica do Município, como primeiro dos edifícios a serem tombados pelo Poder executivo. Projeto de tal importância, a meu ver, deveria ter passado pela Câmara de Vereadores, e também pelo crivo da própria comunidade, do clero, e recebido aprovação do Colégio de Consultores, para sua validade e legitimidade.
9. A atual crise pela qual passa o país, sem perspectiva de melhora, tem ocasionando o fechamento de tantas lojas e casas comerciais no centro da cidade. É sensato pensar na construção dos boxes projetados?
10.O que virá a significar tal projeto, em termos de irreparável agressão ao próprio Palácio – construído em área doada, quando da criação da Diocese, para o fim muito claro e específico de residência do Bispo? É bom ressaltar que o atual projeto tornará inviável a residência ali de um futuro bispo.
11.Entre outras, são estas as razões que sempre me levaram a opor-me radicalmente a tal projeto. Achei que, mesmo sendo emérito, não podia me omitir. Assim como acho que o primeiro a não poder omitir-se seria o próprio clero! A história haverá de nos cobrar. Pedindo desculpas, mas achei-me no direito de poder partilhar estas preocupações. Não nos faltem as luzes do Espírito Santo, pela intercessão da Senhora e Rainha dos Anjos.
Fraternalmente, Dom Frei Paulo Cardoso
Bispo emérito de Petrolina.
Da Redação Por Sibelle Fonseca
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