Caruru em Carnaíba do Sertão: Um dia de festa para os erês, como eles gostam

0

[new_royalslider id=”52″]

 

Passava de meio dia no Distrito de Carnaíba do Sertão, distante cerca de 21 km de Juazeiro, quando os fogos, as palmas, os atabaques, chamados de “couro” anunciavam, na casa espiritual de Dudé, Zelador da Umbanda, que o Caruru estava começando neste sábado, 23 de setembro, após a alvorada que aconteceu já pela manhã. Setembro é o mês dedicado a Cosme e Damião e aos Erês.

Crianças sentadas ao redor de um pano de chita estendido, com balas, doces e velas. Os pontos [Na Umbanda, músicas que evocam as entidades] entoados a Cosme e Damião abriam caminhos para o cortejo ao redor do salão, com os líderes espirituais da casa, acompanhados por líderes e membros da Umbanda e do Candomblé.

Eles entraram no salão vestidos a caráter trazendo na cabeça duas grandes travessas da comida para ser oferecida às crianças. Comendo com as mãos, elas, as crianças, se divertiam, enquanto os médiuns recebiam as entidades.

Os erês iam incorporando, juntando-se as crianças para se divertirem. Cantos, brincadeiras, danças giradas pelo salão, e mel que os erês espalhavam pelos rostos dos convidados, além de bolo recheado e balas. Muitas balas.

 

 

Caruru, vatapá, macarrão, arroz, feijão, frango, saladas, refrigerantes, doces de leite, bolo recheado e chocolates. A simplicidade das comidas com sabor marcante feito no grande fogão à lenha e a fartura com que elas se apresentavam, em uma mesa completa serviu aos médiuns da casa e a todos os convidados que vieram do próprio Distrito de Carnaíba e de outras comunidades vizinhas, inclusive de Juazeiro-BA e Petrolina-PE.

Foi uma festa! De intenção religiosa e manifestação cultural. Foi uma brincadeira para os erês, para os meninos e meninas encarnados e para toda aquela gente que foi saudar os irmãos santos, os santos meninos.

Saiba mais:

Tradição e fé na Umbanda do Sertão

No vasto terreiro de terra batida em frente ao templo, após o almoço, uma pausa de descanso para quem participa do giro. Para as crianças presentes. E eram muitas. Correria, brincadeiras na terra. E a disputa para ver quem tinha juntado para si mais doces. O giro retorna. No salão, os pontos saúdam as linhas espirituais. Depois do grande momento dos Erês, vieram Ogum, Oxóssi, Oxum, os Pretos Velhos, Yemanjá e muitas outras entidades que giravam, cantavam, saudavam os participantes e davam passes espirituais e orientações. A festa que havia começado cedo com a alvorada, terminou às 23h saudando o mês de setembro dedicado a Cosme e Damião e a todos os erês que encheram de alegria e diversão a casa de Dudé.

Respeito à diversidade e intolerância religiosa

A beleza e riqueza das religiões com matrizes de culto afro-brasileiro narradas acima é contrastada com a intolerância religiosa presente em espaços públicos, cujo respeito à diversidade deveria ser um preceito fundamental. Como a Escola, por exemplo. No livro “Candomblé e Umbanda no Sertão: Cartografia Social dos Terreiros de Petrolina-PE e Juazeiro-BA, organizado por Juracy Marques, doutor em Antropologia e autoridade acadêmica na área, traz um relato sobre as experiências vividas pelo Pai de Santo Jorge, do Terreiro Ilê Asé Opô Oya Sidè, que sofreu preconceito dentro do espaço escolar, ainda na infância.

“Muitas vezes eu acordava todo sujo e assim um espírito de criança (Erê) me pegava e começava a brincar, correr, se molhar e molhar as pessoas, assim ficava um longo tempo incorporado em mim, e alguns professores sentados rezando pedindo para que aquele espírito fosse embora. Em diversas vezes quando vinha em mim, um monte de pessoas me arrodeando, me fazendo vários tipos de perguntas e eu ainda em transe, meio atordoado sem saber o que dizer e morto de vergonha e assim se repetia por várias vezes. Em outra determinada escola, uma professora de História pediu para fazer uma pesquisa sobre religiões, incluiu todas as religiões, menos o Candomblé”.

Sobre Cosme e Damião

De acordo com o verbete da Wikipédia sobre Cosme e Damião, “eles são santos da Igreja Católica, irmãos gêmeos,  que morreram por volta de 300 d.C. Crê-se que foram médicos, e sua santidade é atribuída pelo motivo de haverem exercido a medicina sem cobrar por isso, devotados à fé. Na Igreja Católica sua festa é celebrada no dia 26 de setembro, de acordo com o atual Calendário Litúrgico Romano do Rito Ordinário, e no dia 27 de setembro, pelo Calendário Litúrgico Romano do Rito Extraordinário. Na Igreja Ortodoxa são celebrados no dia 1 de novembro e também em 1 de julho pelos ortodoxos gregos. Nas religiões afro-brasileiras, onde são sincretizados como entidades infantis, também são festejados em 27 de setembro”.

Ainda de acordo com o verbete, “o dia de São Cosme e Damião é celebrado também pelo Candomblé, Batuque, Xangô do Nordeste, Xambá e pelos centros de Umbanda onde são associados aos ibejis, gêmeos amigos das crianças que teriam a capacidade de agilizar qualquer pedido que lhes fosse feito em troca de doces e guloseimas. O nome Cosme significa ‘o enfeitado’ e Damião, ‘o popular'”.

Da Redação Por Juliano Ferreira

Fotos e vídeo: Juliano Ferreira

DEIXE UMA RESPOSTA

Comentar
Seu nome