“Mulher, mulher, mulher. Tem homem que não gosta, tem homem que não quer. A pior coisa do mundo é um homem sem mulher. ”
Este é o brado que, segundo informações que chegaram ao PNB, estaria sendo ensaiado por estudantes do Colégio da Polícia Militar de Juazeiro para ser apresentado durante o desfile de 7 de setembro na cidade.
Alguns leitores indignados, reclamaram que o conteúdo é machista e homofóbico.
“Espero que o comando da escola reveja essa postura e se retrate junto a população. A escola militar é um órgão público, que deve defender e difundir o respeito a diversidade e combater qualquer tipo de preconceito”, declarou a leitora Maíra Costa.
“Que brado horroroso! E ainda vindo de uma instituição de educação”, disse Joice Oliveira.
“Que fraseado triste! Repudiamos!”, acrescentou a leitora Cida Lyra.
Os brados, gritos de guerra cantados por policias militares durante treinamentos e algumas cerimônias, são carregados de significados que exaltam a vida da caserna, bem como a missão policial militar, dando ênfase ao papel de proteção ao cidadão e a sociedade. Também ressaltam os valores da instituição, como disciplina, hierarquia e a
disposição para cumprir a missão, mesmo com o sacrifício da própria vida.
Eles fazem parte da cultura militar e transmitem valores e crenças da instituição.
O brado em questão é criticado justamente pelo seu conteúdo.
“Mulher, mulher, mulher tem homem que não gosta, tem homem que não quer”, uma citação que não contempla a diversidade de gêneros.
O trecho que finaliza o grito de guerra, “A pior coisa do mundo é um homem sem mulher “, também não é encarado com um elogio a mulher, mas a sua objetificação, denunciando que a instituição de ensino militarizada não vem atualizando suas narrativas.
Em conversa com o PNB, o ativista Alzyr Brasileiro, da Aliança Nacional LGBT, declarou que pretende acionar o Ministério Público caso o fato seja comprovado.
“É deprimente um brado tão depreciativo, que tem a mulher como objeto, além de fazer apologia ao machismo e a LGBTfobia, está sendo usado por uma instituição que tem como objetivo educar, fazendo com que seus alunos, em sua maior parte crianças e adolescentes, citem essa agressão. Em tempos tão sombrios, isso não pode acontecer, pois só fortalece aquilo que tanto lutamos contra. Estamos de olho, a população também, a denúncia chegou e estamos averiguando os fatos. Caso tenha ocorrido ou ocorra o uso desses “versos” tão medíocres e ignorantes, iremos apresentar uma denúncia ao Ministério Público”, afirmou Alzyr Brasileiro.
O PNB entrou em contato com a direção da instituição, que em nota, fez esclarecimentos sobre o conteúdo do citado grito de guerra.
Veja a resposta
O processo de formação do policial militar é composto por disciplinas de cunho teórico e práticas. De igual modo, a grade curricular dos Colégios da Polícia Militar, dentro da Educação Física e instrução de Ordem Unida tem como compromisso fixar os pilares do militarismo (hierarquia e disciplina). Durante estas práticas são cantadas as Canções Militares, também conhecidas como cânticos não oficiais elaborados pelos próprios policiais, trazidos de cursos ou de conhecimento através da cultura, “com objetivos motivacionais e de criação e reforço de um espírito de coesão do grupo, nas quais, estas “canções” costumam refletir a mística, a missão ou as ações que interpretam sua real profissão”. (PEREIRA, 2002, p. 46).
Entendendo que o processo interpretativo é de livre conotação e que, por vezes a presença de figuras de linguagens e do emprego de termos subjetivos permitem uma amplitude de entendimento, como diz Orlandi (2003): “se as palavras não têm um sentido em si mesmas, é porque derivam seus sentidos das formações discursivas em que se inscrevem” […], com isso, nos evidencia que o que se diz nem sempre é o que se ouve.
Entretanto, com o fito de evitar interpretações dúbias o Colégio da Polícia Militar, já há algum tempo, descaracterizou a utilização dessas canções pelos discentes nos treinamentos e sete de setembro.
No que pese existir tal orientação, alguns alunos inadvertidamente iniciam canções, de conhecimento geral – https://www.docsity.com/pt/livro-de-cancoes-tfm-texto/4857177/ – sem a devida autorização e que, em algumas situações, incorrem em transgressão disciplinar.
O Colégio da Polícia Militar sempre primou por respeito as individualidades e constrói seus pilares baseados em uma formação holística dos nossos discentes.
Da Redação