Bolsonaro demitiu Alvim após pressão de cúpula do Congresso e da comunidade judaica

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Antes de deixar o Palácio da Alvorada na manhã desta sexta-feira (17), o presidente Jair Bolsonaro já havia sido informado sobre a repercussão negativa do vídeo em que Roberto Alvim, seu secretário nacional de Cultura, parafraseou Joseph Goebbels, ministro da Alemanha nazista (clique aqui).

Em um primeiro momento, Bolsonaro optou pelo silêncio. O presidente saiu da residência oficial por volta de 8h30 e evitou falar com os jornalistas que o aguardavam. “Obrigado, imprensa”, disse após cumprimentar apoiadores e entrar no carro.

Pela manhã, Bolsonaro recebeu diretamente, e por meio de seus auxiliares, queixas de integrantes da comunidade judaica brasileira, que são parte de sua base de apoio. Inicialmente, a ordem era de que o Planalto não comentaria o caso e que caberia a Alvim dar as explicações pelo vídeo divulgado.

Bolsonaro e Alvim conversaram por telefone, e o presidente chegou a dizer ao secretário especial que ele permaneceria no posto. O agora ex-secretário passou então a dar uma série de entrevistas dizendo que não tinha a intenção de elogiar o regime nazista, responsável pela perseguição e assassinato de milhões de judeus. Com o aumento da pressão, horas depois, Bolsonaro foi obrigado a recuar.

Ao longo da manhã, deputados e senadores entraram em contato com o Palácio do Planalto cobrando a exoneração. Segundo relatos feitos à reportagem, líderes da comunidade judaica, cujo apoio ao governo é considerado estratégico pelo presidente, também pediram a Bolsonaro a demissão de Alvim (clique aqui).

A intenção era tentar afastar a crise da Presidência e, em especial, não envolver o secretário de Comunicação Social, Fabio Wajngarten, fragilizado após reportagem da Folha de S.Paulo mostrar que ele recebe, por meio de uma empresa da qual é sócio, dinheiro de agências de publicidade e emissoras de TV contratadas pela própria Secom (clique aqui). Além disso, houve uma preocupação com o fato de Wajngarten ser judeu e de que qualquer comunicação assinada por sua pasta pudesse transparecer que ele estivesse agindo em causa própria.

Ainda pela manhã, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi às redes sociais pedir a saída de Alvim do cargo (clique aqui). “O secretário de Cultura passou de todos os limites. É inaceitável. O governo brasileiro deveria afastá-lo urgente do cargo”, escreveu.

De uma reunião com o presidente, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, saiu com a missão de acalmar os líderes do Congresso. Ele mesmo ligou para Maia e para o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para avisá-los de que Bolsonaro havia decidido demitir Alvim. O comunicado seria publicado oficialmente pelo Palácio do Planalto nas horas seguintes (clique aqui).

Coube a Ramos também tomar a dianteira do caso e telefonar para o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, para informar a decisão do presidente de demitir Alvim. Cultura é atualmente subordinada ao Turismo, pasta para onde foi transferida em novembro, após controvérsias do Ministério da Cidadania com o ex-secretário Henrique Pires, que deixou o cargo acusando o titular, Osmar Terra, de tentativa de censura.

As críticas a Alvim vieram até de aliados, como o escritor Olavo de Carvalho (clique aqui), e foram endossadas pelo comando da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e do STF (Supremo Tribunal Federal). “É inadmissível termos representantes com esse tipo de pensamento. E, pior ainda: que se valha do cargo que ocupa para explicitar simpatia pela ideologia nazista e, absurdo dos absurdos, repita ideias do ministro da Informação de Adolf Hitler, que infligiu o maior flagelo à humanidade”, escreveu Alcolumbre em redes sociais.

O presidente do Senado é de origem judaica e base de apoio do governo Bolsonaro. Em relatos feitos à reportagem, integrantes da embaixada de Israel também manifestaram estarem perplexos com o vídeo publicado por um integrante do governo.

Alvim estava em seu gabinete atendendo jornalistas quando foi informado, por telefone, de sua demissão. Ele interrompeu a agenda de compromissos e decidiu ir por conta própria ao Planalto, em uma tentativa de dar explicações ao presidente. O então secretário não foi recebido por Bolsonaro, que delegou a Ramos e ao chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, a missão de informar a ele que sua permanência no governo era insustentável.

Uma nota confirmando a saída de Alvim (clique aqui) foi distribuída à imprensa no início da tarde, quando Bolsonaro já havia deixado o Planalto para participar de um almoço de confraternização com integrantes da Secretaria de Governo. No texto, ele classificou como “infeliz” o fato de o auxiliar presidencial ter parafraseado um discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista, e ressaltou que, mesmo que ele tenha se desculpado, o episódio “tornou insustentável a sua permanência”. “Reitero nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas”, afirmou. “Manifestamos também nosso total e irrestrito apoio à comunidade judaica, da qual somos amigos e compartilhamos valores em comum”, disse.

Ao longo da tarde desta sexta, aliados do presidente passaram então a buscar substitutos para ocupar a Secretaria de Cultura, marcada por controvérsias desde o início do governo. No fim da tarde, a coluna Mônica Bergamo revelou que a atriz Regina Duarte foi convidada para o posto (clique aqui). A resposta ao governo será dada até este sábado (18).

Ainda entre os nomes cotados estavam Letícia Dornelles, presidente da Casa de Rui Barbosa, o cartunista Ique Woitschach e o artista plástico Muti Randolph. Além disso, o governo Bolsonaro discute a possibilidade de transferir novamente a Cultura para outros ministérios. Entre eles estão Relações Exteriores e Cidadania. O governo não sabe informar ainda se o Prêmio Nacional das Artes, anunciado no vídeo por Alvim, terá continuidade.

 

Fonte Bahia Notícias

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