O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta quinta-feira (6) que não pensa em reeleição. A declaração foi feita após o presidente reclamar das críticas feitas a seu governo pela imprensa.
“Não estou preocupado com reeleição. Podem continuar escrevendo [incompreensível]. Não vou brochar para atender vocês pensando em reeleição. Eu sou imbrochável”, disse na saída do Palácio da Alvorada.
Em uma entrevista de 50 minutos, o presidente repetiu diversas vezes que não estava preocupado com a disputa eleitoral de 2022 e dirigiu uma série de críticas à imprensa, repetindo que falta verdade e espírito patriótico na cobertura jornalística.
Na porta do Alvorada, ele comentou ainda que quem se preocupa com política “não dá certo”. Essa última declaração foi feita quando ele foi perguntado sobre a situação do ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil), que tem favorecido seu reduto eleitoral à frente da principal pasta do governo.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente disse que dará “cartão vermelho” para ministros que usarem o cargo de olho nas eleições.
“É um ponto a ser estudado, tá ok? Qualquer ministro que, porventura, queira aí usar o ministério [para], em vez de atender ao Brasil, atender ao seu estado ou ao seu município está fadado a levar um cartão vermelho. Eu não vou confirmar o que você falou aí, mas, em havendo…”, disse.
Reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo na última sexta-feira (31) mostra que Onyx favoreceu o seu reduto eleitoral na agenda de trabalho no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro.
Levantamento feito pela Folha de S.Paulo identificou uma média de três encontros por semana com representantes e políticos do Rio Grande do Sul, estado pelo qual o ministro se elegeu deputado em 2018.
“E outra coisa, os ministros sabem que eu fico ligado, no que for possível, em quase tudo. Percebendo, não conta com a minha simpatia. Até porque eu sempre falei que quem se preocupa com política não vai dar certo. Até porque o pessoal local vai começar a bater: ‘Por que está vindo mais recurso para tal estado e não para todos de maneira uniforme?’. Se isso estiver acontecendo, né, teremos problemas pela frente. Mas até o momento não plotei isso aí no Onyx, não. Até o momento”, disse.
Onyx está enfraquecido no cargo de ministro após uma série de desgastes que levaram a um esvaziamento de sua pasta. Até o momento, Bolsonaro tem evitado falar sobre sua permanência no governo.
Ainda nesta quinta, Bolsonaro disse não ver nenhum problema na conduta do chefe da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), Fabio Wajngarten.
“O que está de errado no Wajngarten até agora? Não vi nada de errado. Não viram nada de errado”, disse ao ser perguntado sobre investigação da Polícia Federal aberta contra o secretário e sobre ele ter omitido informações à Comissão de Ética da Presidência.
A Polícia Federal atendeu a um pedido do Ministério Público Federal feito na semana passada e abriu inquérito para investigar o secretário de Comunicação da Presidência. A solicitação da Procuradoria à PF foi feita a partir de representações apresentadas com base em reportagens da Folha de S.Paulo.
No dia 15 de janeiro, a Folha de S.Paulo mostrou que Wajngarten é sócio de uma empresa, a FW Comunicação, que recebe dinheiro de emissoras de TV, entre elas Record e Band, e de agências contratadas pela própria Secom, ministérios e estatais do governo Jair Bolsonaro. Ele nega irregularidades e conflitos de interesse.
A legislação que trata do tema proíbe integrantes da cúpula do governo de manter negócios com pessoas físicas ou jurídicas que possam ser afetadas por suas decisões. Entre as penalidades previstas está a demissão do agente público. A prática também pode configurar ato de improbidade administrativa, se demonstrado o benefício indevido.
Apesar da ação da PF, Bolsonaro voltou a dizer que não é o órgão que está atrás do chefe da Secom e disse que não discutiria mais o assunto.
“Não vou discutir esse assunto aqui, zero até agora”, afirmou.
Na sequência, o presidente minimizou as acusações contra seu auxiliar e disse que ele mesmo já foi alvo de apurações no STF (Supremo Tribunal Federal). Em setembro de 2018, ainda como candidato a presidente, Bolsonaro teve uma denúncia contra si rejeitada pela corte.
A primeira turma do Tribunal rejeitou denúncia da Procuradoria-Geral da República contra ele decorrente de acusação de crime de racismo em relação a quilombolas e refugiados.
“Fui acusado de racismo no passado, resolvi o problema. E, quando você é absolvido ou é arquivado, ninguém toca mais no assunto, silêncio total. Zero, eu já fui no Supremo e respondi três anos por racismo, dois anos por crime ambiental, vários outros processos, eu chamei um amigo meu de oito arrobas e me processaram”, disse.
Bolsonaro disse que está ficando muito chato viver no Brasil e que não se pode mais brincar com ninguém.
“Eu estou preocupadíssimo, já passei de seis arrobas, minha barriga está crescendo e não estou grávido. Qual o problema de brincar entre amigos? Está ficando chato viver no Brasil. Estão querendo processar gente que vai no estádio, o cara vai lá no estádio e fala besteira para caramba”, afirmou.
Apesar da resistência de Bolsonaro em demitir Wajngarten, reportagem da Folha de S.Paulo de quarta-feira (5) mostrou que seus auxiliares aumentaram a pressão interna no Planalto pela saída do secretário.
A abertura pela Polícia Federal de um inquérito para investigá-lo intensificou a cobrança interna para que Wajngarten se afaste do cargo. A avaliação de integrantes do núcleo militar e do grupo ideológico ouvidos pela Folha de S.Paulo é que a permanência do assessor presidencial se tornou insustentável.
Na avaliação deles, a manutenção de Wajngarten no cargo só aumenta o desgaste que o episódio já causou na imagem do governo. No entanto, Bolsonaro, de acordo com seus aliados, não considera afastar o chefe da Secom durante a tramitação da investigação da PF.
Apesar do aumento do desgaste, a aposta dos dois núcleos palacianos é a de que, apesar de a saída de Wajngarten ser uma questão de tempo, não ocorrerá em curto prazo.
Fonte Bocão News