Especial: grupo de risco da Covid-19, idosos mudam rotina durante o distanciamento social

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Embora toda a população mundial esteja vulnerável à infecção do novo coronavírus, segundo a Organização Mundial da Saúde pessoas com mais de 60 anos, sem exceção, estão no grupo de risco, pois caso sejam infectadas, possuem maiores chances de desenvolver complicações que podem levar à morte, por causa de alterações no sistema imunológico naturais da idade.

Por isso, a recomendação é de que as medidas de segurança, como o isolamento social, sejam ainda mais rigorosas para esse público.

Pensando nisso, a educadora Sayonara Marins decidiu se isolar junto com o marido e os pais de 76 e 80 anos, em uma chácara da família, que fica na zona rural de Petrolina, no sertão pernambucano. Os quatro estão no local desde o dia 17 de março.

“Meu dois irmãos e eu, em comum acordo, achamos melhor trazê-los pra roça, porque aqui eles ficariam melhor. O lugar é mais arejado, e eles aproveitam para cuidar da plantação e das galinhas. Nenhum dos dois foi contra essa decisão. No início minha mãe, que tem 76 anos, ficou apreensiva diante das enxurradas de informações, aí achava que se adoecesse, pela experiência que teve a dois anos quando ficou 9 dias na UTI e chegou a ser entubada, ia morrer, ela só pensava nisso. Mas graças a Deus hoje está mais calma. Não ouvimos e nem assistimos muitas notícias sobre os números apresentados diariamente. Estamos aproveitando o melhor, sem pensar quando vai acabar, mas temos a certeza que tudo vai passar”, declarou .

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Sayonara, o marido e os pais estão tentando adaptar as atividades antigas a nova rotina (Fotos arquivo)

Sayonara contou ainda como está sendo a nova rotina. “Tomamos café juntos, tomamos sol, costuramos, almoçamos juntos, rezamos o terço da misericórdia às três horas, lemos bastante, vemos filmes, rezamos o terço de nossa Senhora a noite, e assistimos pelas redes sociais as missas das nossas paróquias. Além de outros afazeres domésticos”.

Questionada sobre como estão sendo os cuidados para evitar a infecção do vírus, a educadora explicou que apenas ela e o esposo estão do local quando necessário. “Higienizamos tudo que chega. Nunca pensei que ia limpar cada pacote de arroz, feijão, enlatados. Tudo que veio ou vem da feira a gente limpa com um higienizador que meu irmão trouxe. Também uso a solução de água sanitária com a mesma medida de água pra limpar tudo. A casa está sempre limpa. Já temos dentro do carro, álcool gel e um higienizador pras mãos e passamos na direção, nas portas. Quando a gente sai do carro, limpamos as sandálias, não chegamos perto dos meus pais, lavamos as mãos e vamos logo tomar banho. Isso tudo é muito estranho, porque a gente não pode pedir a bença segurando e beijando a mão deles como de costume, nem abraçamos”, lamentou.

Sayonara, que deixou três filhas adolescentes em sua residência na sede da cidade, falou como estão fazendo para matar a saudades do restante da família. “Botamos internet na chácara para melhorar a comunicação. Estamos sempre em contato com todos. Estamos longe e ao mesmo tempo perto por conta da tecnologia. A fé no nosso Senhor Jesus Cristo é que faz com que os dias passem um a um na certeza que tudo vai passar, e vivemos cada dia de forma maravilhosa. Tive que fazer uma escolha e não podia deixar meus pais sozinhos. Seria pior, pois eles acabariam adoecendo de solidão e tristeza.”, finalizou.

Já para o Juazeirense Sandro Benevides, a missão de manter os pais, de 67 anos, isolados não foi tão fácil. De acordo com ele, o casal que é proprietário de um restaurante em Juazeiro, tive dificuldade para se adaptar a nova rotina.

“Na semana em que os primeiros decretos foram publicados eles obedeceram as normas da OMS, porém na semana seguinte eles começaram a sair, tanto pra tomar vacina, quanto pra ir banco e supermercado, tomando todos os cuidados de higiene. Com o passar dos dias eles não suportavam mais ficar só na nossa residência, por isso eles passaram a ir diariamente para a chácara da família, que fica aqui mesmo na cidade e onde estão meus irmãos. Eles saiam de casa pela manhã e voltavam à noite”.

Carlos Benevides (Gordo) e Albertina Benevides estão cumprindo o distanciamento social em uma chácara da família (Foto: arquivo pessoal)

Sandro contou ainda tentou convencê-los a não sair de casa, mas eles foram resistentes. “Quando minha mãe se desesperou e começou a chorar querendo sair, eu vi que não dava mais e dei liberdade pra eles. Eu e meu irmãos chegamos a sugerir que eles ficassem apenas na chácara, mas eles demoraram a concordar. Agora, eles finalmente concordaram. Lá eles também estão tendo todos os cuidados”.

Mas os pais de Sandro não são os únicos que tiveram dificuldade de adaptação a nova rotina. Na região ainda é comum encontramos idosos na filas dos bancos, farmácias e supermercados.

Psicólogo Elias Fernandes (foto: arquivo pessoal)

Para entendemos sobre essa resistência que ocorre por parte de alguns idosos, conversamos com o psicólogo Elias Fernandes, especialista em saúde coletiva. De acordo com ele, esse comportamento pode ser provocado por dois processos, o traço de personalidade e a busca por autonomia.

“Adultos que são teimosos, se tornam idosos teimosos. É mais fácil mudar o comportamento de crianças e adolescentes do que de pessoas mais velhas, porque essas pessoas já estão em uma perspectiva de que elas não precisam mais de conselhos, não precisam mais modificar seus comportamentos, porque elas sempre foram assim. A gente tem uma imagem que quando a pessoa envelhece, ela fica boazinha, mas não, ela continua com as mesmas características. Mas um fator que chama a atenção, é que a velhice ela incluí muitas perdas, inclusive a perda de autonomia. Por exemplo, essas pessoas já foram em algum momento chefes da família. Tudo era em torno dela, elas participavam ativamente das decisões familiares, eram consultadas. Agora, por causa da idade, essas pessoas começam a perder esse espaço. Então elas querem fazer as coisas que elas sempre fizeram para reafirmar essa autonomia. Esse movimento que a gente chama de teimosia, é a busca por poder fazer o que sempre fez. E nesse momento, não poder sair de casa, não poder fazer coisas que eles sempre fizeram, pode soar como perda de autonomia. É como se uma outra pessoa estivesse regulando os comportamentos deles, dizendo o que eles podem fazer ou não. E isso, em qualquer fase da nossa vida é difícil. Com tudo, muitos idosos também já passam por um processo de demência como Alzheimer ou outro tipo comorbidade, e ai tudo fica mais difícil de ser internalizado, compreendido”.

Questionamos quais atividades podem ser feitas com os idosos durante esse período de isolamento social.

“Primeiro é preciso saber qual a rotina que eles tinham antes. O que eles gostavam de fazer? Eles gostavam de assistir TV, fazer esportes, caminhada, conversar com os vizinhos, com a família? E a partir daí tentar adaptar o que ele já fazia, para essa nova rotina, buscando estimular esses idosos nos aspectos físicos, cognitivos e psicossociais. Além disso, hoje em dia a internet também é um recurso importante, onde a pessoa pode buscar o que está sendo feito com os idosos em outros lugares e usar como modelo”, indicou o psicólogo.

Elias ressaltou ainda que é importante que os idosos não fiquem desamparados nesse momento.

“A gente também precisa pensar em que está apoiando esse idoso, porque tudo isso fica mais difícil quando os idosos não tem ninguém para apoia-los. Se a gente está falando de um idoso que tem a família, que tem pessoas próximas e ajudando, essa rotina fica mais fácil. Então, nesse momento a gente tem que ter paciência com esse idoso, e tentar incluir cada vez mais ele nas atividades dentro de casa. Conversar com ele, pedir a opinião dele, envolve-lo nos jogos que possivelmente a família venha a fazer, contar histórias antigas, pedir que esse idoso conte como foi a sua juventude. Tudo isso são processos importantes para a manutenção da saúde mental desse idoso.”, concluiu.

Boletim

De acordo com os últimos dados divulgados, o número de infectados pela Covid-19 em Petrolina subiu para 21. Desses, 10 foram confirmados através de testes rápidos feitos pela prefeitura e 11 diagnosticados através do exame realizado pelo laboratório do governo do estado.

De todos os casos confirmados na cidade, 4 já são considerados curados clinicamente, enquanto um paciente teve alta médica e encontra-se sem sintomas. Petrolina ainda não é zona de transmissão comunitária e nenhuma morte causada pela Covid-19 foi registrada até o momento.

A prefeitura aguarda resultados de outros exames feitos pelo estado e vai continuar realizando os testes rápidos em pessoas que já vinham sendo monitoradas pela equipe de saúde da rede municipal. Com relação aos dados relacionados à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), o boletim aponta que 10 casos são investigados e 29 foram descartados. Confirmados somam 9 casos, além de 1 óbito.

Os dados apontam que Juazeiro permanece com 142 notificações para o coronavírus. Destes, 10 pessoas tiveram resultados positivos, 64 exames já foram descartados e 68 estão em análise pelo Laboratório Central (LACEN) em Salvador. Dos casos confirmados, dois já estão recuperados, ou seja, com cura clínica.

Um óbito foi registrado na cidade. A vítima era um idoso de 63 anos.

Para H1N1 os dados permanecem os mesmos, sendo 66 notificações. Destas, 18 casos confirmados, incluindo dois óbitos, 24 exames já foram descartados e outros 24 permanecem em investigação.

Da Redação Por Yonara Santos

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