Servidores do Departamento de Ciências Humanas da UNEB de Juazeiro criam abaixo-assinado repudiando política do ministro da Educação

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(foto: arquivo)

Docentes e técnicos do Departamento de Ciências Humanas (DCH) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Campus III em Juazeiro, criaram um abaixo-assinado repudiando a política do Ministério da Educação e uma carta pública divulgada pela Associação Docentes Pela Liberdade (DPL), em apoio ao ministro Abraham Weintraub, investigado por crime de racismo após alegar que a China estaria se beneficiando propositalmente da pandemia.

A carta da DPL foi divulgada na última sexta-feira (5), após o ministro prestar depoimento à Polícia Federal. O DPL se intitula como “um grupo apartidário, formado por docentes e profissionais de qualquer área, cujo interesse é recuperar a qualidade da educação no Brasil, romper com a hegemonia da esquerda e combater a perseguição ideológica”.

No abaixo-assinado, os servidores do DCH salientam que “o citado coletivo abdicou de um conjunto de pressupostos básicos, éticos, humanísticos e científicos para assumir tal apoio, em um momento em que o referido ministro demonstra sua total inadequação ao cargo que ocupa”, e reforçam que, em suas recentes postagens nas redes sociais, o Weintraub “não apenas demonstra incapacidade analítica e argumentativa, ou ao menos um tom ponderado que se exige de um cargo da sua investidura, como também comete os mais crassos erros gramaticais e violentos ataques à Língua Portuguesa”.

Os servidores mencionam alguns episódios que envolvem o Ministro da Educação e que sustentam a nota de repúdio: o desmonte das verbas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); a retirada de bolsas de pesquisa nas Ciências Humanas; e o modo desqualificado com que o ministro se dirige aos docentes das Universidades, o descaso para com a Universidade Pública, a disseminação de “fakenews”, pelo próprio ministro, em vídeo em que ele afirma que determinada Universidade Pública tem plantações de maconha [leia na integra abaixo].

O documento virtual têm o intuito de recolher 500 assinaturas, e, até o momento em que essa matéria estava sendo produzida, já se aproximava de 400, em um período de menos de 20 horas [clique aqui e assine].

Íntegra da nota

Nós, docentes e técnicos do Departamento de Ciências Humanas do campus III da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e de demais instituições de ensino superior, vimos repudiar a carta de apoio de uma autointitulada “Associação Docentes pela Liberdade” ao atual ministro da Educação, Abraham Weintraub. Salientamos que o citado coletivo abdicou de um conjunto de pressupostos básicos, éticos, humanísticos e científicos para assumir tal apoio, em um momento em que o referido ministro demonstra sua total inadequação ao cargo que ocupa.

Os referidos Doutores não fazem qualquer menção às suas próprias pesquisas para respaldar seu apoio, mas recorrem a dados noticiosos, certamente como parte da estratégia de falsificação da realidade. É preciso mesmo aceitar, como nos diria Pierre Bourdieu, “o argumento da Força, em detrimento da força dos argumentos”, para renunciar aos padrões mínimos de civilidade e aderir a um projeto de destruição dos bens culturais desse país, tal como o atual governo vem realizando, em todos os âmbitos.

Basta mencionar três episódios para sustentar a nossa presente afirmação: o desmonte das verbas do CNPQ e da CAPES, a retirada de bolsas de pesquisa nas Ciências Humanas, o modo desqualificado com que o ministro se dirige aos docentes das Universidades, o descaso para com a Universidade Pública, a disseminação de “fakenews”, pelo próprio ministro, em vídeo em que ele afirma que determinada Universidade Pública tem plantações de maconha, e outros tantos pronunciamentos públicos, compõem um conjunto de imposturas que demonstram sua inaptidão.

O referido ministro homenageou um autointitulado “filósofo” chamado Olavo de Carvalho que, entre outras aberrações, acredita que a “Terra é plana”, promove distorções inconcebíveis nas obras de grandes autores, renomados internacionalmente, como Paulo Freire e Darcy Ribeiro. Um segundo conjunto de episódios diz respeito às suas lastimáveis tomadas de posição antidemocráticas e antirrepublicanas, como na recente reunião ministerial do dia 22 de abril de 2020, em que o ministro atacou abertamente o Supremo Tribunal Federal, em ato de total desrespeito para com as instituições que devem prezar pelo Estado Democrático de Direito.

Um terceiro conjunto de atos se mostra ao longo do período, desde que se tornou ministro: trata-se das recorrentes manifestações públicas, em redes sociais, em que Weintraub não apenas demonstra incapacidade analítica e argumentativa, ou ao menos um tom ponderado que se exige de um cargo da sua investidura, como também comete os mais crassos erros gramaticais e violentos ataques à Língua Portuguesa, como noticiou o Portal de Notícias G1, em 10/01/2020. Ele escreveu em uma rede social a palavra “imprecionante” e, após ser corrigido pelos seus apoiadores, apagou a mensagem, corrigindo-a. Não se trata de um mero erro de português, desses que qualquer um de nós possa cometer, por mais elevados que sejam os nossos níveis de instrução, mas revela a grande fragilidade da carta supracitada.

Este é apenas um sintoma de um problema muito mais grave. Simplesmente, não se pode atribuir a “defesa da Educação Brasileira em todos os seus níveis”, do “ensino por excelência”, como apregoa a carta, a um ministro que ofende os padrões mínimos civilizacionais, cometendo inúmeros atos de racismo e ameaçando os direitos arduamente conquistados pela população brasileira, e que tem na Constituição de 1988, um dos seus marcos fundamentais. Nesta, o acesso a uma Educação Pública de qualidade é direito do cidadão e obrigação do Estado.
Em nome desses valores e princípios constitucionais, éticos, científicos e humanos, repudiamos veementemente qualquer apoio inconsequente e oportunista ao atual Ministro da Educação, afirmando que sua presença em tão essencial ministério é um retrocesso civilizatório e uma violência a população brasileira, sobretudo aos povos indígenas e negros que o atual ministro insiste em negar-lhes a existência, como amplamente difundido em recente reunião ministerial.

É nosso dever, como professores e servidores de uma Universidade Pública, nos manifestarmos pela defesa da liberdade de lutar pela igualdade de direitos sociais – na educação, na saúde, raciais, de gênero, dentre outros. Repudiamos qualquer atitude que ameace a luta pela Educação de qualidade, pelo desenvolvimento da pesquisa científica, e pelo cumprimento do papel histórico da Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade, na reparação das injustiças históricas, na consolidação de um conhecimento emancipatório, tecnicamente qualificado, humana e ecologicamente orientado, integrado ao ideal de uma sociedade mais justa e fraterna, econômica e culturalmente.

Da Redação

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