O sagrado e o profano: comerciantes da “Prainha da Marinha”, em Juazeiro, não poderão vender bebida alcoólica nos novos quiosques; saiba porquê

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5 módulos que vão abrigar 10 quiosques padronizados estão sendo construídos pela Prefeitura de Juazeiro, no Norte da Bahia, como parte da obra que integra a construção do novo Parque Fluvial da cidade, e já em fase de acabamento. Entretanto, a obra que sempre foi um sonho dos barraqueiros que há anos comercializam naquele espaço da Marinha, pode virar uma grande dor de cabeça num futuro bem próximo.

É que, de acordo com informações que chegaram a nossa redação, a venda de bebidas alcoólicas nos quiosques será proibida. A justificativa para a decisão é a presença de uma igreja evangélica na frente dos módulos. E o que seria motivo de comemoração para os barraqueiros, que esperaram anos pelo espaço, vem causando receio. Eles temem o afastamento da clientela e, consequentemente, os prejuízos que sofrerão, pois a tradição nas barracas improvisadas próximo à beira do rio, era a venda do peixe frito acompanhado de cerveja.

As ex-barracas da Marinha virarão lanchonetes, um formato que, segundo os barraqueiros, pode não decolar.

“Essa decisão de proibir a venda de bebida alcoólica só vai trazer prejuízo para a gente. Quem vem tomar banho de rio na Orla espera que pelo menos tenha uma água de coco, nosso tradicional peixe frio e também a cervejinha. É um costume das pessoas em qualquer lugar como esse. Sempre foi a característica da prainha, que é um espaço de lazer, de diversão e a maioria das pessoas que frequenta aqui consome cerveja para se distrair com a família e os amigos. É daqui que tiramos o sustento da nossa família. Isso só vai nos prejudicar”, contou um barraqueiro.

O espaço da Marinha, na Orla II, virou um atrativo para muitos juazeirenses que, antes da pandemia, costumavam lotar o espaço, principalmente nos finais de semana, e onde os ambulantes também circulavam, tirando a principal – e em alguns casos a única – fonte de renda.

(foto: divulgação/PMJ)

O presidente da Associação dos Barraqueiros da Prainha da Marinha, Magno Araújo, confirmou a informação e disse que a decisão foi acertada em uma audiência pública realizada quando o projeto foi apresentado, a fim de evitar possíveis atritos com os membros da igreja evangélica que fica em frente ao local onde os módulos estão sendo construídos. Entretanto, reiterou que, conforme foi acertado com o Prefeito Paulo Bomfim (PT), os barraqueiros poderão vender bebidas alcoólicas no antigo espaço onde a comercialização era feita, na beira do rio, utilizando mesas e sombreiros.

“Fechamos esse contrato para que o projeto fosse aceito e para não correr risco de haver algum empecilho por causa da igreja. Mas é impossível num balneário como aquele, não haver venda de bebidas alcoólicas. Vamos retirar aquelas barracas de madeira que estão na beirada do rio, mas usaremos a beirada do rio parar colocar sombreiros. Estive com Paulo [Bomfim] e ele autorizou. Só não podemos aceitar a chegada de outros ambulantes”, contou Magno.

O possível aval da gestão municipal revela uma grande contradição da obra, anunciada, dentre outros motivos, para ajustar e padronizar o trabalho dos vendedores, através da construção dos módulos. O presidente da Associação dos Barraqueiros disse ainda que a maioria dos barraqueiros concordou com a decisão e está satisfeita com a mudança. Entretanto, um outro barraqueiro ouvido pelo PNB, que também não quis ser identificado, disse estar descontente com a novidade, e questionou o fato de uns estabelecimentos na Orla Nova poderem vender bebida alcoólica, e outros não.

“É um espaço na Orla da cidade. Toda orla, em qualquer lugar do mundo, tem seus bares, restaurantes, quiosques para atender o povo que frequenta o espaço. Não somos nós que estamos no lugar errado. A Vila Gastronômica está bem ali, pertinho da igreja, e além de ter vários bares vendendo bebidas, têm música ao vivo e tudo praticamente todo dia. Nosso movimento é intenso aos finais de semana. Por quê só a gente que não pode vender? Dois pesos e duas medidas?”, questionou.

A intervenção é realizada pela Prefeitura de Juazeiro, através da Secretaria de Obras e Desenvolvimento Urbano (SEDUR), E faz parte da obra de construção do Parque Fluvial de Juazeiro que vem promovendo a recuperação ambiental de parte da margem do Rio São Francisco na cidade (trecho entre o início do bairro Angari e o muro da Marinha). Nesta área, estão sendo construídos 5 blocos, cada um deles com 2 quiosques padronizados e dois banheiros, sendo um adaptado para pessoas com deficiência e instalações elétricas e hidrosanitárias.

O PNB procurou a SEDUR de Juazeiro, que até a publicação dessa matéria, não se manifestou sobre o assunto.

Da Redação

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