O reitor temporário da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Paulo César Fagundes Neves, determinou o afastamento do atual Superintendente do Hospital Universitário (HU), que tem sede em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, nesta sexta-feira (4). A decisão é vista como uma manobra para tentar, finalmente, efetuar a trocar do cargo da unidade hospitalar, já que no mês passado, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), que administra a unidade, havia negado um pedido do reitor.
Na época, no ofício enviado à EBSERH, Neves, que vem sendo alvo de diversas polêmicas desde que assumiu temporariamente a função, solicitou que o Prof. Dr. Itamar Santos, atual Superintendente do HU, fosse substituído pelo Prof. Dr. Deranor Gomes de Oliveira, com a justificativa de “ajustar a gestão do Hospital de Ensino aos interesses das partes envolvidas”. Eduardo Chaves Vieira, presidente em exercício da empresa, negou o pedido justificando que o atual superintendente “vem desempenhando suas atribuições com zelo e observância das regras e orientações” e que, na gestão atual, “o HU-Univasf apresentou melhoria em seus índices de eficiência e controle”.
Entretanto, o reitor tomou nova nova decisão e revogou hoje, sem anuência da EBSERH, a portaria que cedeu o servidor ao cargo no HU e determinou o seu retorno às atividades de docência na UNIVASF. Para a decisão, justificou um impasse entre a reitoria da instituição e a EBSERH, no que diz respeito a devolução, por parte da empresa, de 20 respiradores mecânicos que seriam destinados ao tratamento de pacientes com a covid-19, ao Governo do Estado de Pernambuco. No documento, Neves acrescentou que posterior a devolução dos respiradores, a Superintendência do HU instaurou um processo visando à aquisição emergencial de ventiladores para atender à situação de emergência decorrente da pandemia do novo coronavírus.
Considerou ainda uma disposição contida no contrato de gestão firmado entre a Univasf e a EBSERH, “no sentido de que o Superintendente do HU será indicado pelo dirigente máximo da UNIVASF, pressupondo a indispensável afinidade entre os ocupantes dos dois cargos, visando ao efetivo cumprimento do interesse público envolvido”.
Bruno Cezar Silva, que é coordenador de Gestão Ambiental da Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional (Propladi) e representante técnico administrativo do Conselho Universitário da Univasf, já havia afirmado ao PNB que considera a tentativa de troca como de cunho político. Dessa vez, classificou o ato como unilateral e afirmou que a atual gestão tem sido marcada pela “incompetência e falta de planejamento” dos ocupantes do cargo, que são movidos “por ambição política”.
“Itamar Santos, de amigo do reitor, virou o vilão e passou a ser perseguido pelos seus aliados.
Primeiro tentaram trocá-lo pelo prof. Deranor, atual pró-reitor de extensão temporário e sem qualquer experiência na área de gestão hospitalar, mas a sede da Ebserh em Brasília, negou. Afinal, em meio a uma pandemia, e com uma troca recente de cargo, sem qualquer motivo técnico, numa gestão temporária e que no episódio dos respiradores, o erro ficou claro ter sido cometido pela reitoria da Univasf e não da superintendência da HU, então porque a troca unilateral? Mas, como a novela precisa seguir seu curso, com um ato de autoritarismo do atual reitor pró-tempore, que no uso da sua caneta, vem de ofício e diz que o servidor Itamar Santos é “meu” e está cedido, portanto, interrompe a cessão e manda retornar para a Univasf, e assim fica o Hospital da Univasf, sem um Superintendente. Ou a presidência da Ebserh “aceita” quem ele indicar, ou ficará o HU acéfalo. Qual será o fim da novela?”, questionou.
Confira o documento que suspendeu o superintendente
Polêmicas
A gestão temporária de Paulo Fagundes vêm gerando um desconforto dentro da comunidade acadêmica da Univasf, já que o mesmo se envolveu em diversas polêmicas. Na mais recente, houve um impasse entre a reitoria da Univasf e a EBSERH, no que diz respeito a devolução, por parte da empresa, de 20 respiradores mecânicos, que seriam destinados ao tratamento de pacientes com a covid-19, ao Governo do Estado de Pernambuco (reveja).
No dia 29 de maio, membros do Conselho Universitário da Univasf emitiram uma nota de repúdio contra Paulo César Fagundes Neves que abandonou a sessão ordinária que estava sendo realizada. Segundo os conselheiros, o reitor pro-tempore abandonou a reunião alegando que seu expediente se encerrava às 18h e que tinha “outros compromissos” (relembre).
No dia 5 do mesmo mês, em entrevista ao programa Palavra de Mulher Web, Omar Torres, representante da sociedade civil no Conuni, se manifestou contra a nomeação de Paulo César Fagundes Neves como reitor pro-tempore da Univasf e elencou uma série de ações que vem sendo adotadas pelo interventor, e que segundo ele, representam risco à democracia e a autonomia da instituição. Na época com menos de um mês no cargo temporário, segundo Torres, o reitor pro-tempore instituiu uma série de medidas antidemocráticas, desrespeitando, inclusive, o Conuni (clique aqui e confira as decisões tomadas pelo reitor pro-tempore consideradas antidemocráticas pelo conselheiro).
Imbróglio judicial
A universidade desde o final do ano passado vive um imbróglio judicial para nomeação do seu mais novo reitor. Na eleição realizada no dia 5 de novembro do ano passado, o então vice-reitor, Telio Leite, foi eleito para o cargo, juntamente com a vice, profa. Lúcia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira, com cerca de 57% dos votos. A consulta pública teve participação dos discentes, docentes e técnicos. Posteriormente, uma liminar assinada pelo desembargador federal do Tribunal Federal da 5ª Região (TRF5), Cid Marconi, suspendeu a lista tríplice de candidatos, votada em 29 de novembro, enviada pela Univasf ao MEC.
A decisão acatou os argumentos dos candidatos Jorge Cavalcanti e Ferdinando Carvalho, que se mostraram contrários à inclusão de um dos candidatos que compõe a lista tríplice, pois o mesmo não se encontrava em efetivo exercício na Univasf. Em virtude do imbróglio judicial, a lista está temporariamente suspensa. Como o mandato do reitor Julianeli Tolentino de Lima se encerrou no dia 5 de abril, o Ministério da Educação fez a indicação do reitor pro-tempore. Fagundes Neves é professor do curso de Medicina da instituição e atua como médico ortopedista na cidade pernambucana.
O indicado não participou da consulta pública realizada em novembro do ano passado, nem teve seu nome cogitado na lista tríplice votada pelo Conselho Universitário, também no mesmo período, para o cargo da reitoria. Ainda assim, a portaria com a nomeação de Paulo foi assinada no dia 9 de abril pelo então Ministro da Educação na época, Abraham Weintraub, o que gerou desconforto entre estudantes, professores e funcionários da Univasf.
Da Redação