Desde que voltaram a funcionar com atendimento presencial, bares, restaurantes e estabelecimentos comerciais de Juazeiro, no Norte da Bahia, e Petrolina, no Sertão de Pernambuco, estão sendo obrigados a cumprir uma série de medidas de prevenção contra a covid-19, entre elas, a aferição da temperatura corporal dos clientes antes de adentrar o espaço. Aqueles que tiverem detectada temperatura maior que 37,8 ºC devem ser orientados a procurar uma unidade de saúde.
A aferição é feita através dos termômetros infravermelhos, que usam um sensor passivo para detectar a radiação infravermelha emitida pelo calor do corpo. Essa radiação é um tipo de luz, num espectro que não é visível ao ser humano, emitido por todo corpo quente. O termômetro não emite radiação, ele somente detecta a radiação emitida pelo corpo, daí ser usada a expressão “sensor passivo”, conforme diz a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Segundo o órgão, a norma técnica usada em território nacional estabelece as condições de calibração e uso dos termômetros clínicos infravermelhos, sendo a região da testa o local indicado para garantir a precisão da medida. Entretanto, alguns estabelecimento comerciais de Juazeiro e Petrolina, mudaram a forma de utilização do termômetro infravermelho para a medir a temperatura corporal.
(foto: reprodução/internet)
A estudante Iasmin Monteiro disse ter estranho a alteração do procedimento quando visitou alguns estabelecimentos comerciais. “Quando entrei em uma determinada loja aqui em Juazeiro, o vigilante aferiu a temperatura no meu pulso. Perguntei por quê ele estava fazendo aquilo, sendo que o certo é na testa, e ele me disse que era por causa do YouTube, já que está circulando a informação que aferir a temperatura na testa pode causar problemas no cérebro. Reafirmei para ele a importância de consultar um profissional sério em relação a isso e não cair em qualquer conversa na internet”, contou a estudante.
O estudante Igor Rafael, que reside em Petrolina, também disse ter estranhado a mudança. “Comigo aconteceu quando fui ao shopping. Esperei a medição na testa, mas aconteceu no pulso. Imaginei que haviam mudado a orientação sobre isso, mas quando pesquisei na internet, junto a sites de órgãos oficiais de saúde, vi que nada tinha mudado. Isso é preocupante, pois pode ter acontecido de muitas pessoas que apresentavam febre terem sido autorizadas a entrar nesses espaços quando a orientação seria retornar para casa”, acrescentou.
Fake news
A Anvisa já emitiu uma nota pública informando que é falsa a notícia de que o uso de termômetros infravermelhos direcionados para a testa pode fazer mal ao ser humano, em especial à região da glândula pineal, que tem função de produção e regulação de hormônios e fica localizada próximo ao tálamo e hipotálamo, na parte mais central do cérebro.
(foto: reprodução/O Globo)
“Com base na avaliação de referências bibliográficas e recomendações sobre esses produtos, a Anvisa conclui e informa à população que a medição de temperatura por termômetro infravermelho direcionado à testa é inofensiva ao ser humano. O órgão informa, ainda, que esses produtos não emitem radiação, somente captam o calor emitido pelo corpo humano na forma de radiação infravermelha”, explicou o órgão.
Ainda segundo a Agência de Saúde, o uso do termômetro infravermelho para medir a temperatura corporal em outra parte do corpo pode levar a erro de leitura, a não ser que tal procedimento esteja explícito no manual do produto.
Orientação não mudou
A secretaria de Saúde de Juazeiro se manifestou através de nota e esclareceu que não houve nenhuma orientação do órgão municipal e nem do Comitê de Enfrentamento à COVID-19 para mudança do local do corpo na aferição de temperatura. Reforçou ainda que a mudança partiu por iniciativa dos próprios comerciantes após fake news que circularam nas redes sociais.
A secretaria disse que está em consonância com a Anvisa, a qual determina que a testa é a parte do corpo indicada para garantir a precisão da medida da temperatura, destacando que o uso do termômetro infravermelho não acarreta risco à saúde das pessoas. Disse ainda que, junto ao Comitê, emitirão um comunicado aos estabelecimentos para que a aferição volte a ser feita com o termômetro direcionado à testa, e que a SEMAURB fará a fiscalização para o cumprimento correto da medida.
O Sindicato dos Comerciários de Juazeiro e Região (Sindcom) também informou que não houve nenhuma orientação para a mudança.
O PNB também procurou a secretaria de Saúde de Pernambuco, porém, até o fechamento dessa edição, não obteve retorno. A Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Petrolina também foi procurada, mas não se manifestou até a publicação da reportagem.
Da Redação por Thiago Santos