Recorde de novos casos em novembro e taxa alta de ocupação de UTI’s acende alerta em Petrolina; “Não foi por falta de aviso”, reforça médico

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A cidade de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, está vivenciando um aumento não somente do número de casos da covid-19, como também de internações de pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Em novembro, o município registrou recorde no número de casos confirmados: foram quase 2,3 mil novos diagnósticos. Além disso, nos últimos dias, a taxa de ocupação dos leitos públicos de UTI voltou a ficar acima de 50%.

No dia 31 de outubro, o boletim epidemiológico da secretaria de Saúde contabilizava 7.412 casos acumulados do novo coronavírus. Ontem, último dia do mês de novembro, esse número já era de 9.412, o que representa um acréscimo de 2.270 novos casos. O número contabilizado durante o mês é bastante superior ao que era visto anteriormente.

Em junho, por exemplo, Petrolina finalizou o mês com 923 casos acumulados. No dia 31 de julho somava 2.881, o que representou um acréscimo de 1.958 novos casos da doença no mês. Esse número subiu para 4.279 no dia 31 de agosto (um acréscimo de mais 1.398 novos casos), e para 5.573 casos acumulados em 30 de setembro, uma soma de mais 1.294 casos. Entre setembro e outubro, foram 1.569 novos casos, o que resultou no número citado no parágrafo acima.

Vale ressaltar ainda que, nesse período, o número de mortes saltou de 54, em 31 de julho, para 126, conforme dados de ontem do boletim epidemiológico.

Leitos de UTI

O cenário também refletiu diretamente na taxa de ocupação dos leitos públicos de UTI. A cidade estava em uma situação bastante confortável, já que desde o inicio de agosto vinha registrando uma queda considerável nos números. Em 31 de julho, quando disponibilizava 50 leitos públicos, a taxa de ocupação era de 66%, número que caiu para 38% em 10 de agosto, e, apesar das diversas oscilações, chegou a ficar em 26,7% em 2 de setembro, quando tinha seis leitos a mais disponíveis – um total de 56.

Ao longo de setembro, a taxa de ocupação ficou, em média, abaixo de 25%, chegando, no dia 7 do referido mês, a ter apenas 10,71% dos leitos ocupados. Um mês depois, em 8 de outubro, quando tinha 61 leitos públicos de UTI disponíveis, a taxa de ocupação chegou a 9,83% e 8,19% no dia posterior. No dia 16, com 20 leitos a menos, Petrolina registrava ocupação de 26,82%. Ao longo do restante do mês, o número manteve-se abaixo de 30%.

Apesar de ter começado novembro com 11,47% dos leitos ocupados, tendo taxa de 6,55% no dia 2, a cidade sofreu uma redução maior no número de leitos. A Policlínica do Hospital Universitário (HU) passou a ter apenas 10 leitos de UTI ativos, e o Hospital de Campanha do governo do estado desativou 20 unidades após as forte chuvas. Com isso, a cidade passou a operar com 31 leitos.

Em 5 de novembro, a taxa era de 16,12%. Passou para 29,03% no dia 7, e 35,48% e 45,16% nos dois dias seguintes. Enfrentou algumas oscilações até voltar a registrar, após meses, ocupação superior a 50% em 22 de novembro (58,06%). No último dia 27 de novembro, ganhou duas novas UTI’s públicas, passando a operar com 33. Neste dia, a taxa era de 57,57%. No domingo (29), a taxa subiu para 69,69%, a mais alta registrada nos últimos meses, ficando em 66,66% nesta segunda-feira (30).

“Não foi por falta de aviso”

Aristóteles Cardona Júnior, médico de família e comunidade e professor na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) ver com preocupação esse atual cenário. Porém, segundo ele, “não foi por falta de aviso”.

“Sempre se soube que em nenhum momento chegamos perto de nos livrar da pandemia. Ela seguia ativa e o que aparece agora nas UTIs é apenas o reflexo de muito descuido por parte da população e, infelizmente, do poder público”, disse o médico, que afirma ainda que todos os números apontam para a necessidade de medidas urgentes.

Segundo o Imperial College de Londres, que estuda transmissão de Covid em todo o mundo, a taxa de transmissão no Brasil está no patamar de 1,3, o que significa que cada 100 pessoas doentes transmitem a doença para outras 130 pessoas, o que, para Cardona Júnior, “demonstra o total descontrole da contenção da doença no país”.

“Medidas de distanciamento e isolamento são eficazes e o mundo é a prova disso. Basta olhar para o que tem sido adotado pela maioria dos países europeus na chamada 2ª onda. Não à toa os resultados já começam a aparecer como menos casos, internamentos e mortes. É preciso esclarecer também que pedir às pessoas para usarem máscaras e evitarem aglomerações é fundamental mas não basta. A responsabilidade é do poder público e neste ponto me preocuparam algumas manifestações na semana passada, minimizando a situação da Covid-19 aqui no município de Petrolina”, ressalta o médico.

Aristóteles acredita que a prefeitura está demorando a adotar novas medidas. Ele ainda fez críticas as aglomerações ocasionadas durante o período de campanha eleitoral.

“Quando se trata da vida das pessoas, não adianta aguardarmos por ações do governo estadual ou federal, esse último agindo muitas vezes de forma absurda e irresponsável com o povo brasileiro. Enquanto isso já passamos das 170 mil mortes no Brasil. Seguindo o ritmo de crescimento atual, estimativas apontam a possibilidade de voltarmos a um patamar acima das mil mortes diárias ainda em 2020. A realização de aglomerações por políticos e partidos já foi uma tragédia em si por todo o estado. Espero que os governantes, pelo menos agora, voltem a se posicionar a favor da vida das pessoas”, finalizou o médico de família e comunidade e professor da Univasf.

Da Redação por Thiago Santos

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