Uma ciência interdisciplinar, um movimento de transformação social e uma agricultura ecológica de base sustentável. Falar e fazer agroecologia não pode ser algo restrito apenas a uma forma de produção, é muito mais complexo e diverso, envolvendo todas as relações de trabalho e convivência. Essa foi a principal mensagem do 5º Encontro da Escola de Formação da Juventude Rural, realizado na noite do dia 17 de maio.
Os agrônomos do Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP) Adão José e Victor Maciel e a técnica em agroecologia do território de fundo de pasto de Areia Grande em Casa Nova (BA) Paula Oliveira foram os/as convidados/as para partilhar suas experiências com jovens de diversas comunidades dos municípios da Diocese de Juazeiro (BA).
A jovem Paula Oliveira destacou que a agroecologia vai além da alimentação saudável. Muita gente acaba confundindo uma produção orgânica (sem insumos químicos) com a agroecológica, por exemplo. “Não é apenas produzir sem agrotóxicos, a agroecologia promove a economia solidária, tá ligada à cultura, ao modo de viver da comunidade. Eu tenho um canteiro agroecológico, eu e minha mãe produzimos, principalmente para nossa mesa, depois para os vizinhos e depois pra venda”, comentou a técnica em agroecologia. Paula, além de estar no dia a dia no campo, também se dedica à divulgação da produção agroecológica através da página @sitio.cacimba_do_meio nas redes sociais.
Por ir além do processo de produzir um alimento e levar em consideração tudo que está dentro dos agroecossistemas (ex: terra, plantas, animais, pessoas, relações sociais, etc.) a agroecologia também pode ser vista como um movimento, afirmou o engenheiro agrônomo Adão José. “A agroecologia também analisa se você não feriu o direito de alguém (homens, mulheres, jovens…) durante o processo de produção. Quando há oposição a algo que está destruindo, não só os seres animais e vegetais, mas culturas, populações, isso também é fazer agroecologia, porque a agroecologia é o equilíbrio de tudo”, ressaltou. Adão José ainda chamou a atenção para o fato de que a agroecologia está ligada às realidades locais. “O fundo de pasto é uma forma sábia que as populações dessa região encontraram de fazer a agroecologia, mantendo a caatinga em pé e tirando o sustento dali”, acrescentou.
Já o agrônomo Victor Maciel fez um breve relato sobre o surgimento da agroecologia enquanto ciência na década 1980, em contraponto à chamada “revolução verde”, processo de mecanização no campo que resultou na destruição de parte da biodiversidade dos biomas brasileiros e expulsão de povos e comunidades camponesas de seus territórios. Victor também destacou o papel das pautas da juventude dentro do movimento agroecológico. “A agroecologia defende o protagonismo da juventude, que os/as jovens tenham a sua participação na produção, no gerenciamento, das decisões dos agroecossistemas. Que eles possam ter seu espaço para produzir, comercializar produtos, debater e participar”, pontuou o agrônomo.
O último encontro dessa turma da Escola de Formação da Juventude Rural acontecerá no próximo sábado (29) e contará com a participação do assessor das Pastorais Sociais Roberto Malvezzi (Gogó) e o integrante da Coordenação Nacional da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) Elias Neto. A temática abordada será espiritualidade e juventude.
Texto: Comunicação CPT Juazeiro/BA