Uma manifestação será realizada na próxima quarta-feira (14), a partir das 09h, em frente ao Ministério Público de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, para pedir justiça para o caso do Policial Militar da Bahia, Joanilson da Silva Amorim, de 33 anos, que foi assassinado durante uma ação da Polícia Civil de Pernambuco. O crime aconteceu tarde do dia 13 de setembro do ano de 2021.
Em contato com o PNB, a viúva da vítima, Ingrid Silva da Rocha, mesmo após um ano do crime, ninguém foi punido.
“Durante todo o ano a família tem vivenciado o sentimento de tristeza. Tristeza pela perda, e também pela impunidade. Estamos vivendo uma situação de omissão por parte do estado de Pernambuco. Um agente público, a serviço do Estado, cometeu o crime e continua no exercício de suas funções de forma tranquila, sem responder a nenhum processo administrativo e nem criminal. A ele, até o momento, não foi imputado nenhuma pena pelo ocorrido”, desabafou Ingrid.
Crime
No dia do crime o policial baiano estava de folga, em casa, quando foi chamado para acudir a mãe e os vizinhos assustados com a presença de um suposto ladrão na rua. O Soldado saiu de casa e poucos metros adiante foi morto por policiais civis que faziam uma operação no local, em busca de criminosos. Joanilson foi alvejado por vários tiros e segundo a Policia Civil, ele teria sido confundido com um “bandido”.
Dois dias após o crime, a mãe do Soldado Nilson, uma idosa de 68 anos, conversou com o Portal Preto No Branco e falou sobre o caso.
“Eu digo que foi despreparo, gente inadequada que não tem preparo para atuar nas ruas. Um Policial preparado, que tem disciplina não faz isso. Meu filho tinha 7 anos de corporação, nunca cometeu nenhuma falha, e foi alvejado por um despreparado, um revoltado. Meu sentimento é de revolta. Além de perder meu filho, saber que ele foi alvejado pela policia porque confundiram ele com uma bandido. Meu coração está partido”, desabafou a mãe.
Inconformada com as circunstâncias da morte do filho, a idosa contou toda a cena daquele momento de aflição, que tem lhe torturado a mente.
“Primeiro o bandido pulou no meu muro, pulou aqui dentro e foi pra fora. Eu disse a meu filho que tinha gente, e eu sai com ele … quando a gente ia chegando no portão, uma policial civil bateu e perguntou se tinha um homem lá dentro. Aí eu expliquei que ele tinha pulado pra fora e ela, a policial, saiu junto com meu filho. Olharam ali um terreno baldio, não viram movimento nenhum, aí seguiram pra lá. Como homem anda mais ligeiro que mulher, ele adiantou dela e chegou primeiro onde estava a um veículo Hilux com os outros policiais”, contou a mãe.
O local era a porta da casa de uma vizinha, que teria saído gritando, após também ver o suposto ladrão no seu quintal.
“A vizinha se desesperou e saiu correndo pra frente da casa, gritando que tinha um bandido dentro do muro dela e os policiais que estavam na rua, não contaram conversa, e já de dentro do carro atiraram. Ela contou que a bala passou raspando nela, que estava com uma criança no colo, e só não morreu porque se abaixou. Eles continuaram atirando. Meu filho estava lá. Mas a vizinha disse que não viu ele. Eu não sei dizer exatamente onde a arma dele estava. Uns dizem que ele sacou a arma, outros que ele nem tirou da cintura. Só sei que quando tiraram ele para a ambulância, a arma não estava”, relatou.
A idosa disse que “não deu tempo ele se identificar lá como policial”. Ela lembra que o filho saiu da porta de sua casa com a policial civil, que também fazia parte da operação.
“Meu filho saiu daqui junto com ela. Só que ele adiantou o passo e ela ficou um pouco mais para trás. No momento que chegou lá foi alvejado e nós aqui de casa ouvimos os tiros e eu corri desesperada”.
A mãe conta ainda que o SAMU demorou entre 30 e 40 minutos para chegar até o local, e enquanto isso o filho não recebeu os primeiros socorros.
“O Samu demorou entre 30 e 40 min, e ele agonizando no chão, pedindo para alguém estancar o sangue. Os policiais lá e ninguém chegou perto dele. Um policial é treinando para isso também, para prestar primeiros socorros, mas em nenhum momento encostaram perto dele para dar socorro. E eu fiquei gritando para darem socorro a ele, dizendo que meu filho não era bandido, meu filho era um policial”, disse.
A idosa lembrou também que questionou sobre a arma do filho, que não estava no local quando ela chegou.
“Quando o Samu chegou e que tiraram ele, eu perguntei pela arma dele. Alguém me disse estava com o delegado. Foi quando o delegado veio até cá e me disse que a arma estava no carro e ia para perícia. Eu perguntei ‘mas por que vai para a perícia se ele não atirou em ninguém e a vitima é ele? Ele respondeu que era de praxe, e até para provar que ele não atirou”, contou.
Mesmo estando profundamente abalada, após presenciar o filho agonizando no chão, gravemente ferido, a idosa teve que acompanhar os policiais civis para depor na delegacia.
“Na hora que meu filho estava dentro da ambulância pra ir para o hospital, eles me disseram que eu precisava ir na delegacia com eles. Eu disse que não tinha condições, que estava cuidando de 3 netas pequenas e não podia deixá-las. Eu estava aérea. Eu me neguei a ir, mas eles disseram que eu tinha que dar um jeito e ir. Então eu fui e passei mais ou menos duas horas lá esperando para até ser ouvida. Quando cheguei no hospital, me avisaram que meu filho já tinha nos deixado. Enquanto meu filho estava agonizando no hospital, eu estava na delegacia esperando para prestar depoimento de um crime que foi cometido pela própria polícia”.
Demonstrando lucidez, ela avaliou: “Atiraram. Foi uma execução mesmo, porque o primeiro tiro foi na cabeça, e isso não se faz nem com bandido. Qual é o dever da policia? Se o cara oferecer risco ou querer fugir, atire numa perna, porque ele não corre. Mas atirar diretamente na cabeça? (…) Ali não tinha pra onde correr, porque estava cercado por todos os lados. Mesmo que fosse um bandido, não tinha como correr”
Perguntada se a Polícia Civil do Estado de Pernambuco teria procurado sua família, após seu filho ter sido assassinado, oferecendo alguma assistência, ela respondeu: “Ninguém nunca apareceu aqui até o momento pra nada. O apoio que estamos recebendo é somente da Polícia Militar da Bahia, da corporação que meu filho servia. Espero que a Justiça seja feira. Minha esperança é que, pelo menos, ele [o autor] seja expulso para que outro inocente não passe pelo que meu filho passou e eu estou passando”, finalizou a mãe do Soldado Nilson.
Da Redação PNB