Produtores de uvas do Vale do São Francisco dão prova de que a união é a matéria-prima do cooperativismo

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Reconhecido internacionalmente pela qualidade das suas frutas, o Vale do São Francisco também mostrou recentemente que, em matéria de cooperativismo, a união sempre faz a força e é fundamental.

A prova maior dessa assertiva aconteceu no final de novembro do ano passado, quando um grupo de 29 produtores de uvas da Cooperativa de Produtores Exportadores do Vale do São Francisco (Coopexvale) se uniu em mutirão para ajudar dois dos associados a levantar seis hectares de parreirais que foram ao chão devido às fortes chuvas que caíram em Petrolina – PE.

Proprietário de um lote no projeto de irrigação Senador Nilo Coelho, o produtor e consultor de uvas Augusto Prado lembra do dia 28 daquele mês, quando foi acordado na madrugada com a triste notícia de que dois dos seus oito hectares de parreirais, acostumados com uma irrigação controlada, não tinham aguentado as precipitações de até 65 mm em um mesmo dia e foram derrubados, faltando poucos dias para a colheita. “Com a notícia, mesmo apresentando sintomas de Covid 19, fui ao lote devidamente protegido. Vi o parreiral com 70 toneladas de uvas no chão e a possibilidade de um prejuízo imediato de R$ 490 mil. Entretanto, já estavam no meu lote cerca de 50 pessoas, funcionários e encarregados de cooperados vizinhos. Eles estavam escorando o restante do parreiral para que não fosse maior a perda. Então, o próximo passo foi o que fazer para levantar as plantas, evitando assim um prejuízo maior ainda”, afirmou.

Depois de enviar uma mensagem ao grupo de whatsapp da Coopexvale, informando a situação, não demorou muito e o associado já começou a receber ajuda nas primeiras horas da manhã. De perto e de longe, foram chegando produtores cooperados trazendo trabalhadores e muitos mourões, estacas de madeira e arame. Mais de 100 pessoas conseguiram levantar manualmente os parreirais, planta por planta, em surpreendentes dois dias e meio de intenso trabalho, com muita força de vontade e disposição, mesmo embaixo de chuva.

Impossibilitado de participar do mutirão devido à Covid 19, o produtor lembra ainda que se tivesse de pagar a mão de obra utilizada, os custos seriam de no mínimo R$ 50 mil. “Ainda assim não teríamos como realizar esse trabalho sem a união dos cooperados, pois não tínhamos disponibilidade de mão de obra em função do período da colheita”, pontuou. Hoje, pronto para colher uma boa safra nas áreas soerguidas pelo mutirão, Augusto Prado é só reconhecimento e gratidão. “O que seria impossível para um se mostrou realizável quando na união do conjunto. Um sentimento de irmandade que me ajudou inicialmente depois virou exemplo para todos nós”.

Passado o sufoco inicial, não demorou muito para a cooperativa se reunir e novamente arregaçar as mangas, mobilizando cada um dos associados em mais um mutirão de forças. Dois dias depois de participar dos trabalhos no lote de Augusto Prado, o produtor cooperado Arthur Grimaldi também foi beneficiado com a união do grupo em uma empreitada maior ainda. Seu lote com 60 hectares de uvas, também no projeto Senador Nilo Coelho, recebeu uma precipitação de 187 mm, que colocou por terra quatro hectares de parreirais prontos para colheita.

De acordo com Grimaldi, os cooperados aproveitaram toda a experiência adquirida no primeiro mutirão e concluíram os trabalhos de soerguimento com agilidade e presteza em menos de dois dias, apesar do desafio dobrado. “Tivemos também a participação efetiva de todos os associados que trouxeram cerca de 120 trabalhadores de suas propriedades e juntos evitamos uma perda maior. Conseguimos colher 90 das 120 toneladas comprometidas com a queda dos parreirais e ainda assim tivemos um prejuízo de aproximadamente R$ 200 mil, além de mais R$ 50 mil na compra dos materiais de sustentação. Mas, apesar disso, o balanço que faço é de que quando ajudamos o próximo, o mundo fica melhor”, frisou.

Para o presidente da Coopexvale, Álvaro Solano, a união e a força colaborativa da cooperativa fizeram toda a diferença para que os associados tivessem contando hoje essa história que é uma verdadeira lição de solidariedade, generosidade e empatia. “Além das perdas da nossa cooperativa, as chuvas de novembro do ano passado também derrubaram mais 24 hectares de uvas de oito produtores de Petrolina. Alguns destes não suportaram os prejuízos e mudaram de ramo e outros ainda estão com os parreirais no chão, amargando a perda da produção e os custos com a implantação de novas áreas”, acrescentou. Isso porque, para implantação de um hectare hoje no Vale do São Francisco, é necessário um investimento, em média, de R$ 200 mil.

Com uma área de mais de 500 hectares implantados, os 29 associados da Coopexvale produzem anualmente 16 mil toneladas de uvas que já consolidaram em todo Brasil as marcas Gota de Mel, Doçura do Vale e Uvas do Campo. Obedecendo aos mais rigorosos padrões fitossanitários de produção e armazenamento em um moderno complexo com nove câmaras frias, a Coopexvale está presente em todos os estados brasileiros, comercializando ainda em larga escala para o exterior, principalmente para os mercados da Europa, América do Sul e Estados Unidos. “Hoje, mais que nunca, aprendemos com os exemplos que a matéria-prima do cooperativismo é a união e a capacidade de aliar produtividade e desenvolvimento com equilíbrio ambiental, prosperidade e responsabilidade social”, concluiu Álvaro Solano.

Por Carlos Laerte

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