Recém-nascida morre na Maternidade de Juazeiro e mãe da criança afirma que houve negligência no atendimento: “Eles não fizeram nada para salvar minha filha”; SESAU se manifesta

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Uma recém-nascida foi a óbito no Hospital Materno Infantil do município de Juazeiro, na região Norte da Bahia, após apenas três dias de nascida, com insuficiência respiratória crônica. Em contato com o Portal Preto no Branco, a mãe da menina acusa a unidade de negligência.

Eliete Carvalho Nascimento apontou uma sequência de erros que teriam ocorrido no HDMI desde o momento do parto, ocorrido na última quarta-feira (14).

“Eu tive minha filha na maternidade de Juazeiro e meu parto foi feito apenas pela enfermeira. Em nenhum momento teve um médico acompanhando. Tinha, apenas, uma enfermeira e mais ou menos quatro a cinco estagiárias. Em nenhum momento, teve um médico para olhar como estava sendo o parto e auxiliar caso acontecesse alguma coisa comigo ou com minha filha. Os erros já começaram no momento do parto. Além disso, meu parto foi complicado, pois eu não tinha forças. Eu falei para a enfermeira que eu não tinha forças. Eu falei para ela, eu supliquei que colocasse um soro ou fizesse um corte, mas ela falou que ali não tinha corte, não tinha soro, não tinha nada, e que se eu quisesse ter minha filha, que eu fizesse força e colocasse para fora. Passou muito tempo para eu conseguir ter minha filha. A criança coroava, mas como eu não tinha forças, voltava. Ai, quando ela coroou de novo, outra enfermeira enfiou as duas mãos na minha vagina, abriu e puxou a menina. A minha filha saiu com dificuldade de respirar e nem chorou direito. Meu marido perguntou se a nossa bebê não ia chorar, foi quando a enfermeira virou a menina de costas para baixo e ela começou a chorar, mas um chorinho bem fraquinho. Depois, eles levaram ela para o quarto e, quando chegaram lá, eu vi que a respiração dela era ofegante, muito rápida, como se fosse uma respiração de cansaço. Eu falei para eles que a menina não estava bem e mesmo assim deixaram ela no quarto”, relata.

A mãe conta ainda que, mesmo com dificuldade para respirar, a criança recebeu alta hospitalar no dia seguinte após o nascimento.

“No dia 15, com 24 horas após o parto, eles me deram alta. O máximo que passei lá foi um dia e algumas horas. Fizeram apenas os exames do ouvido e do olhinho. Eles disseram que estava tudo normal, mas a respiração da menina era ofegante. Quando eu dava o peito para minha filha, ela se engasgava, eu a botava para baixo e ela soltava uma gosma, um líquido branco, que não era o leite, e mesmo assim eles deram alta. O estagiário examinou ela, ouviu os batimentos e também viu que a respiração dela estava ofegante. Ele até demorou examinando a respiração dela. Quando eu falei para ele que ela estava com a respiração ofegante, ele disse que falaria para a pediatra. Quando a pediatra chegou, disse que não tinha nada errado e que os outros exames estavam normais. Quando eu cheguei em casa, a menina não dormia, quando mamava, ficava cansada. Ela nem chorava direito”, acrescentou a mãe.

Em casa, o quadro da criança se agravou. Os pais retornaram para a unidade com a filha, quando segundo eles, os erros continuaram.

“No dia 16, às 10 horas, a gente levou ela de volta para a maternidade. Pensamos em ir para o Hospital da Criança, mas no meio do caminho ela parou de respirar e o hospital mais próximo era a maternidade. Quando chegamos lá, não queriam deixar a gente entrar e disseram, com muita ignorância, que a gente não deveria ter ido para lá. Depois de muita insistência nossa, levaram minha filha para dentro, deram os primeiros socorros e colocaram ela no aquecedor. Quando colocaram ela no aquecedor, eu vi que ela mexia as pernas, os braços, tudo. Quando foi depois, eles começaram a dar antibiótico, sedativo e remédio para convulsão para minha filha, dizendo que a menina tinha entrado com quadro de convulsão, mas ela não entrou com quadro de convulsão. Ela entrou com dificuldade de respirar. Sempre que eu ia visitar a minha filha, eles não deixavam eu ver a menina. Eu olhava pela fresta da porta e via minha filha ali, toda com aparelhos, e eu podendo só olhar pela brechinha da porta, sem poder pegar minha filha, sem poder olhar ela direito. No outro dia, a enfermeira tirou ela do aquecedor e botou na incubadora. O médico disse que ela estava estável, mas precisava de um leito de UTI neonatal. Ele disse que lá não tinha recurso. Neste mesmo dia, às 20h, ela não resistiu e morreu. No laudo, deu insuficiência respiratória crônica. Mandei meu marido providenciar tudo e vim embora. Eu não aguentava ver minha filha lá, morta, sem poder fazer mais nada”, desabafou.

A mãe finalizou cobrando que providências sejam adotadas, para que outras famílias não passem pelo mesmo sofrimento.

“Eles não fizeram nada para salvar minha filha. Não procuraram nada, não procuraram recursos. Se, no dia em que ela nasceu, eles tivessem examinado ela direito, tivessem feito uma limpeza nasal, tivessem botado ela em uma incubadora ou transferido ela para outro hospital com recursos, ela poderia ter sobrevivido. Mas toda vez que ela se engasgava, a gente falava com a enfermeira e a enfermeira dizia que era normal. Para eles, tanto faz nascer vivo ou nascer morto, eles não estão nem aí. Ignoram. Lá, morrem muitas crianças por falta de assistência. Ali não tem sentimento, não tem amor. Já passou da hora de fazer algo, tomar providências”, concluiu.

Encaminhamos a denúncia para a Secretaria de Saúde de Juazeiro. A SESAU se manifestou sobre o caso em nota.

Veja na íntegra:

“A Secretaria de Saúde de Juazeiro (Sesau) lamenta e se solidariza com a dor dos familiares, mas é preciso esclarecer que os pais trouxeram o bebê até a Maternidade Municipal, no dia 16 de fevereiro, apresentando problemas respiratórios. Apesar da Maternidade não ser uma unidade com perfil de atendimento para emergências pediátricas, já que se trata de uma maternidade para atendimentos de baixa complexidade, a equipe prestou os primeiros socorros.

Após a estabilização do quadro de saúde, o paciente foi incluído no sistema de regulação para que fosse encaminhado para uma unidade hospitalar de referência pediátrica.

A Sesau ainda destaca que o parto da criança, realizado no dia 14 de fevereiro, foi realizando por profissionais capacitados seguindo todas as determinações para realização de partos naturais estabelecidas pelo Ministério da Saúde. Todo o procedimento foi realizado sem maiores intercorrências e mãe e bebê receberam alta apresentando boas condições de saúde”.

Redação PNB

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