Em nota, SindUnivasf repudia “ideia da reitoria da universidade de doar parte do terreno da instituição em Juazeiro à Polícia Federal”

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O Professor Rafael Torres, presidente do Sindicato dos Docentes da Univasf- Universidade Federal do Vale do São Francisco, enviou ao PNB uma nota de repúdio da entidade “a ideia da reitoria da universidade de doar parte do terreno da instituição em Juazeiro à Polícia Federal.”

Para Rafael Torres a intenção é um “um total absurdo.”

“Ao invés de trazer residências universitárias, mais salas de aula, laboratórios, espaços de convivência, eles querem trazer a PF para dentro do campus. Desta forma, a Assembleia dos Docentes da Univasf aprovou uma nota de repúdio, que retrata esta situação,” disse o professor.

Confira:

NOTA DE REPÚDIO DA ASSEMBLEIA DA SEÇÃO SINDICAL DOS/AS DOCENTES DA UNIVASF

A SINDUNIVASF, Seção Sindical dos/as docentes da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), repudia a atitude e fala do Reitor, prof. Télio Leite, que, em Reunião ordinária do Conselho Universitário (Conuni), realizada no dia 23 de fevereiro de 2024, declarou apoio a proposta da Polícia Federal (PF) para que a Univasf doasse parte do terreno do Campus da cidade de Juazeiro-BA para a construção da sua sede. Além disso, o reitor, sem um aviso prévio, trouxe delegados da PF para participar da reunião do Conuni, o que provocou nos conselheiros presentes um sentimento de constrangimento e intimidação, uma vez que iriam debater o assunto na presença dos interessados.

Ainda na reunião, o reitor se disse sensibilizado com a situação da PF que, segundo ele, corria risco de ter a sua sede deslocada do município de Juazeiro para outras cidades, por falta de um espaço para sua construção. Na ocasião, os delegados apresentaram as contrapartidas da PF à universidade, que seriam basicamente: priorizar a Univasf para receber doações de carros, equipamentos eletrônicos, balanças e drogas (com intuito de pesquisa) apreendidas, além de possibilitar o acesso da comunidade acadêmica a cursos e treinamentos oferecidos pela instituição policial.

Ou seja, a Univasf doaria parte de um dos seus terrenos mais nobres (centro/orla de Juazeiro), comprado com recursos próprios, à PF na base de um tipo de escambo bem abstrato, aleatório e humilhante.

Na prática, estaríamos sendo financiados pelo crime organizado, ou melhor, pela ação repressiva do estado contra o crime organizado. Humilhante ou não? Além de toda incerteza que envolve este tipo de procedimento, uma vez que o material apreendido em operações policiais não é tão facilmente e automaticamente liberado para ser doado a instituições públicas, pois representa prova em processos judiciais. É ou não um acordo bem obscuro e abstrato?

A postura entreguista do reitor (praticamente gratuita) ainda desconsidera o histórico de opressão às universidades públicas do poder policial no Brasil. Não é preciso ir muito longe para termos exemplos de ações violentas e autoritárias da polícia, incluindo a PF, dentro de Universidades. Por exemplo, em 2018, policiais federais invadiram a Universidade Federal de Campina Grande, às vésperas da eleição presidencial, para recolher o “Manifesto em Defesa da Democracia e da Universidade Pública”, que foi aprovado em assembleia da seção sindical dos docentes da instituição.

Na sua fala desastrosa, o reitor ainda deixou a entender que o campus de Juazeiro tinha áreas não aproveitadas ou subutilizadas. Como um campus que não tem residência universitária, que tem limitações de uso de salas e laboratórios, que não tem salas adequadas e individuais para docentes, e que não tem área de convivência, pode ceder parte do seu terreno para outra instituição? Vale considerar que o campus de Juazeiro fica às margens do Rio São Francisco, ou seja, a área disponível para construções no local já é naturalmente limitada.

A SINDUNIVASF não é contrária a presença da PF em Juazeiro, mas entende que não é justificável que esta instituição precise de terreno da Univasf para construção da sua sede. Acreditamos que existem vários terrenos disponíveis da União no município, e que a prefeitura de Juazeiro tem total interesse em manter a PF na cidade, podendo facilmente conseguir um local para a construção da sua sede. Também lembramos que o Ministério da Justiça e Segurança Pública, ao qual a PF é subordinada, é um dos poucos que tem seu orçamento mantido ou aumentado nos últimos anos, diferentemente do Ministério da Educação, que tem seus recursos cada vez mais limitados e que continuamente vem reduzindo o seu investimento nas Universidades Públicas.

Sendo assim, a SINDUNIVASF é totalmente contrária à proposta de doação de parte do terreno do campus de Juazeiro da Univasf à PF. A SINDUNIVASF defende, de forma irrestrita, que a reitoria se esforce para garantir, no campus de Juazeiro, a construção de residências universitárias, de salas individuais e adequadas ao trabalho docente, e de mais salas de aulas e laboratórios para a expansão da Universidade no local, com a oferta de mais vagas e mais cursos de graduação e pós-graduação. Também pedimos, encarecidamente, que a reitoria da Univasf lute pela construção de espaços de convivência, que faltam em todos os campi da instituição. Estes espaços são vitais para o desenvolvimento da universidade, especialmente para permitir a troca de saberes e conhecimentos, a expressão do pensamento criativo e crítico e das pluralidades. Tudo isto é totalmente incompatível com a presença simultânea de uma instituição do aparato repressor estatal dentro/ao lado da universidade.

Assembleia da Seção Sindical dos/as Docentes da Univasf (Nota aprovada por unanimidade)/ Petrolina, 29 de fevereiro de 2024.

Nota de repúdio da Assembleia Docente da Univasf

Redação PNB

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