“Nossa fé não se consome: Sobre Dona Filonila e Juazeiro”, por Sibelle Fonseca

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Dona Filonila Torres de Aquino, Dona Nilinha, era vizinha dos meus avós, com quem fui criada. Uma católica fervorosa de Curaçá, beata das mais rígidas, professora, mulher sem nenhuma vaidade. Nunca vi Dona Filonila de batom, nem de ombros de fora. Ela não fazia as sobrancelhas, nunca teve um namorado, era casta, e tinha uma filha chamada Betânia. As duas viviam em uma casa que era quase um convento. Sombrio. Nunca ouvi uma música naquela sala, povoada de regras e também de arte. Dona Filonila era uma artesã caprichosa. Uma moça velha prendada no dedilhar do terço, e de exímias mãos para costura, pintura e tudo mais. Ela ficou no caritó e deu conta de ser uma solteirona virgem, que adotou uma menina. Betânia, minha primeira amiguinha de infância.

Dona Filonila era uma mulher politizada. Eleitora de Arnaldo Vieira, que disputou a prefeitura com o empresário do Supermercado Pinguim, Etelvir Dantas, confeccionou uma formiga gigante toda de ferro, e em camurça, para afrontar os leões na campanha eleitoral da época. Ela fez também o hino da chapa Arnaldo Vieira e Joseph Bandeira (primeiro vice-prefeito de Juazeiro).

“Votando no de cima, o de baixo é quem apanha. Apanha, apanha. Votando no de baixo, o de cima é quem ganha. Quem ganha, quem ganha. É, a letra A, Arnaldo Vieira é quem vai ganhar”, dizia o que chamamos hoje de jingle.

Lembrei de Dona Nilinha nesta véspera de aniversário de Juazeiro. Ela morreu deve ter mais de 40 anos, quando o município tinha uns 100 e poucos. Nunca mais tive notícias de Betânia, acho que pouquíssimos se lembram de Dona Filonila como eu me lembro de uma Juazeiro tão charmosa, autêntica e especial como era Dona Nilinha.

Juazeiro está bem acabrunhada, frustrada, de cabeça baixa, feito o patinho feio. Fico triste com isso. Meu sentimento é de compaixão, revolta, desilusão, eu confesso.

Mas eu, que não me rendo, valho-me a Dona Nilinha, aquela senhora pudica e revolucionária. Submissa e forte! Juazeirense por opção, que nem eu.

Juazeiro é meu planeta. Daqui vejo o mundo e um mundo vive em mim. Juazeiro é minha pátria, minha gleba, minha nação.

Cantemos! 

“Juazeiro, terra amada
Lutarei por teu progresso
Hei de ver-te coroada
Com os Iauréis de teu sucesso

Tens beleza e alegria
Do teu povo hospitaleiro
Que deseja ver-te sempre
Triunfante e altaneiro

Que conheçam outras terras
O valor da tua gente,
Tradição que tu encerras
De um tempo agora ausente

Juazeiro és esperança
Pois nos lembra o teu nome
A cor verde da bonança
Nossa fé não se consome

Tua glória já não é fugaz
Faz teu povo prazenteiro
Dar as mãos e construir a paz
De teus sonhos, Juazeiro”.

 

Sibelle Fonseca, juazeirense desde 1967

 

 

 

 

 

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