Após denúncia do Colegiado de Artes Visuais da Univasf sobre suposto caso de preconceito e a discriminação que teria ocorrido no Centro de Cultura João Gilberto, acusados se manifestam

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Após o Coletivo do Colegiado de Artes Visuais da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), denunciar em nota um suposto caso de preconceito e discriminação que teria ocorrido contra uma discente, no Centro de Cultura João Gilberto, em Juazeiro, na região Norte da Bahia, o gestor do CCJG, Flávio Henrique e o ator e diretor de teatro, Devilles Sena, citados como os acusados, se manifestaram.

Em notas enviadas nesta terça-feira (13) ao Portal Preto no Branco, eles negaram as acusações e deram as suas versões dos fatos.

Nota Flávio Henrique, gestor do CCJG

“Foi com bastante surpresa que recebi no dia de ontem (12/08/2024), uma nota de repúdio oriunda da senhora Alessandra, mediadora da Exposição intitulada “três pedras dentro desta aldeia”, que ocorre no Teatro João Gilberto, o qual estou Coordenador. A nota foi assinada pelo colegiado do curso de artes visuais da UNIVASF.
A supracitada senhora alega, em síntese, que a gestão do Teatro fora omissa em relação a ela, permitindo que sua exposição fosse vilipendiada.
Pois bem vamos à verdade dos fatos!
No dia 07 de agosto do corrente ano, enquanto a exposição acima citada ocorria, fui surpreendido pela senhora Alessandra com um tratamento extremamente hostil, acusando-me de ser omisso, negligente e que sua exposição estava sendo vandalizada. De imediato fui ao local da exposição e fiquei pasmo, pois os supostos “vândalos” eram crianças de uma creche Municipal.
Passei vários minutos observando o fluxo supostamente nocivo e constatei, juntamente com vários funcionários da instituição que a exposição não estava a correr risco.
Vale salientar que por cautela, a área da exposição foi protegida desde sua montagem, pois as portas que davam acesso ao salão foram vedadas, uma porta apenas dava acesso para a cozinha, porta esta que alguém, contrariando ordem expressa, deixou aberta fazendo com que as crianças errassem o caminho de volta ao ônibus. E que logo em seguida foi vedada também.
A senhora Alessandra esbravejou que o projeto “Teatro Escola”, um dos projetos culturais mais relevantes da cidade estava causando baderna, fato que não corresponde à realidade.
Desde que aceitei o desafio de ser gestor do Teatro João Gilberto, entendi que a diversidade deve ser abraçada e assim o fiz, obtendo a aprovação dos artistas que necessitam da instituição.
A humanização, na melhor acepção da palavra, e o maior bem de nossa gestão e não existe um artista sequer, que faz uso do equipamento que não se sinta acolhido por nossos colaboradores e coordenação, não toleramos qualquer tipo de preconceito/discriminação neste espaço.
Por fim, afirmo que nesta instituição não há e não haverá tratamento privilegiado a qualquer artista, linguagem ou segmento, visto que cultura é todo esse amálgama.
Quero aqui agradecer ao apoio dos artistas locais que utilizam o espaço e que já se manifestaram em apoio à nossa atual gestão e expressaram repúdio às declarações inverídicas veiculadas”.

Nota Devilles Sena, ator e diretor de teatro

Direito a resposta

“Em virtude da matéria publicada no dia 12 de agosto, assinada pelo Colegiado do curso de Artes Visuais da Univasf e dos acontecimentos ocorridos no dia 7 do mesmo mês no Centro de Cultura João Gilberto, gostaríamos de esclarecer alguns pontos importantes.

Emitir uma nota de repúdio e afirmar que a imagem e a atuação profissionais foram atacadas é equivalente a alegar que se foi vítima de um crime. É essencial entender a gravidade desses fatos para assumir a responsabilidade pelo que se diz, especialmente ao acusar alguém de agressão verbal sem apresentar provas concretas, baseando-se apenas em interpretações infundadas e narrativas distorcidas do ocorrido.

Em relação aos fatos, a discente não menciona na nota de repúdio assinada pelo colegiado que, naquela manhã, durante a programação do projeto Teatro Escola, fui abordado pela denunciante de forma nada amistosa: “Você tem que ter mais responsabilidade com seu público. Eles estão vandalizando a exposição.” Por um momento, pensei que ela estivesse se referindo ao grupo de adolescentes que adentrava pela escada principal enquanto eu, de imediato, protegia a exposição. No entanto, os “vândalos” aos quais a mediadora se referia eram, na verdade, crianças de 3 a 5 anos de uma creche local, que estavam retornando em fila indiana, com as mãos apoiadas nos ombros dos colegas à frente e acompanhadas por suas professoras. Esse equívoco ocorreu após terem sido liberadas para retornar ao ônibus.

O atual gestor do espaço, Flávio Henrique, dirigiu-se à moça em tom moderado, dizendo-lhe que não havia gostado da maneira como ela o havia abordado, que não havia pessoal suficiente para oferecer o suporte necessário e que não seria possível fechar o teatro em detrimento da exposição. Exaltada, a moça levantou a voz e declarou: “Você está negligenciando o meu trabalho enquanto o Teatro Escola promove toda essa desordem.” Irritado, mas mantendo o controle para não passar uma imagem de descontrole diante da plateia, pedi que ela abaixasse o tom de voz, pois o meu timbre poderia sobrepor o dela.

O Centro Cultural João Gilberto, apesar de ser um espaço geograficamente central, sempre foi palco e plateia para artistas e espectadores vindos das periferias e das mais diversas classes sociais. A fala da mediadora é violenta para aqueles que fazem o centro de cultura funcionar desde a sua criação: periféricos, negros e de origem humilde, assim como eu sou. A fala reforça um estigma de segregação a pessoas que sempre tiveram o acesso a espaços culturais como esses negado, e que, graças ao projeto Teatro Escola, desenvolvido há mais de 40 anos, têm a oportunidade de acessar e desfrutar de espetáculos teatrais.

Tentei explicar que havia um acordo de interação entre o meu trabalho e a exposição, e pedi que a discente me respeitasse. Em tom ainda mais alterado, ela gritou: “Esse centro de cultura é seu?” Respondi: “É meu, dela, dele, daquele, daquela,” apontando para o público de 12 estudantes que compravam ingressos. Ela, que continuava exaltada, disse que ia me mostrar que as coisas não eram como eu pensava. Respondi que não a conhecia de lugar nenhum, nem ela a mim, e que não a reconhecia como alguém para me fazer ameaças. Reforcei que sou defensora ferrenha do meu público e que passaria por cima de qualquer um, se necessário, para defendê-los.

O centro cultural jamais será um espaço reservado apenas à academia, mas também para ela, e eu jamais tolerarei que o meu público, crianças que vêm da mesma origem que eu, sejam desrespeitados e tratados com animosidade dentro de um espaço que lhes pertence por direito. A discente não menciona o tom elevado com que se dirigiu a mim na frente das crianças, muito menos as falas homofóbicas ao me chamar de “viado estressado.”

Meu nome é Devilles, tenho 40 anos dedicados às artes cênicas e 45 anos de militância cultural contra, radicalmente, toda e qualquer forma de segregação. Sou um combatente ferrenho de qualquer preconceito e discriminação, especialmente social, à qual o meu público infantil estava sendo submetido. Não sei se as expressões “vândalos” e “delinquentes” teriam sido usadas se se tratasse de crianças de uma escola privada. Duvido.

Quem praticou crime contra quem?

Meu nome é Devilles”

Redação PNB

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