Leitor critica falta de representatividade em evento sobre inclusão de pessoas autistas, realizado pela Seculte, em Juazeiro: “Exemplo clássico de capacitismo”

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Um leitor do Portal Preto no Branco entrou em contato com nossa redação para criticar a falta de representatividade durante atividades da “Semana da Conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista”, evento realizado pela prefeitura de Juazeiro, Norte da Bahia, no período de 14 a 17 de abril. Conforme o relato, nenhuma pessoa com TEA teria sido convidada pela gestão para falar sobre as suas vivências e experiências na série de atividades que aconteceu no Centro de Cultura João Gilberto.

“Nenhum autista no palco de um evento sobre inclusão de pessoas autistas. A proposta, à primeira vista, era de um espaço para aprender, dialogar e construir pontes de empatia e conhecimento sobre o autismo. No entanto, o que se viu foi mais um exemplo clássico de capacitismo disfarçado de boa intenção. Foram várias palestras, todas comandadas por psicólogos, terapeutas, educadores e médicos. Muitos dados, muitas teorias e muitos discursos prontos sobre o autismo, mas em meio a tudo isso, nenhuma pessoa autista teve a oportunidade de falar, não tinha nenhum autista no palco de um evento sobre inclusão de pessoas autistas”.

O leitor classificou ainda que a exclusão de vozes autistas em um evento sobre inclusão é uma prática de “capacitismo escancarado”.

“É a crença enraizada de que a pessoa autista precisa sempre ser interpretada, traduzida, explicada por alguém “de fora”, é o silenciamento mascarado de inclusão. Quantos pais e mães de crianças autistas estavam ali sentados, escutando tudo aquilo, e se perguntaram em silêncio: Será que fariam isso com meu filho? Será que, no futuro, vão tirar dele o direito de falar sobre sua própria vida?”, questionou.

Ele finalizou com um desabafo destacando a contradição entre o discurso e a prática da gestão municipal.

“É triste imaginar que tantas famílias atípicas estejam ali, na plateia, confiando em uma proposta de inclusão que, na prática, exclui quem mais deveria ser valorizado. Que tipo de futuro estamos desenhando se os espaços de fala continuam sendo negados às próprias pessoas autistas? Se eu fosse um profissional presente nesse evento, sinceramente, sentiria vergonha! Vergonha por ser cúmplice de um sistema que silencia, vergonha de ver a palavra “inclusão” sendo usada enquanto se ignora justamente quem deveria estar no centro dessa conversa. Falar de autismo sem autistas é como falar de racismo sem pessoas negras, de acessibilidade sem pessoas com deficiência”, concluiu.

Encaminhamos as considerações do leitor para a Prefeitura de Juazeiro. Em resposta, a gestão municipal informou que “a Semana da Conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista foi idealizada como a primeira de uma série de ações voltadas à contribuir com a construção de uma cultura mais inclusiva. Esta primeira atividade teve como foco discutir o cotidiano de profissionais que atuam com pessoas com autismo em contextos escolares, clínicos e sociais, com o objetivo de refletir sobre práticas mais acolhedoras e eficazes. Para tanto, contou com a participação de profissionais com autismo, familiares e demais interessados nas discussões e interações. Ainda assim, reconhecemos que o nível máximo de representatividade é sempre necessário para a verdadeira inclusão. Conforme previsto para a série, a segunda etapa contará com a temática das vozes autistas, completamente centrada na participação de especialistas, coletivos e organizações do movimento neurodivergente”.

Redação PNB 

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