Acusado de roubo, jovem negro diz que se arrepende de dizer “racismo não existe”.

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O universitário David Castro foi ofendido e acusado de roubar um celular em uma lanchonete de Fortaleza; logo depois, a mulher achou o aparelho dentro da própria bolsa.

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O estudante de Engenharia Civil David Castro contou ter sido vítima de racismo em uma lanchonete de Fortaleza. Na última terça-feira (5), ele estava próximo a uma senhora que perdeu o celular, chamou um dos sócios do local e acusou o jovem de ter furtado o objeto. “Eu não havia percebido que a senhora estava falando de mim até ela vir na minha frente e dizer ‘Devolve meu iPhone, seu negro bandido. É negro, só pode ser ladrão’”, relatou.

A mulher, então, pediu que David fosse revistado, mas depois encontrou o aparelho celular dentro da própria bolsa. “Lembrei de todas as vezes em que abri minha boca pra dizer que o racismo não existia e sei agora o quanto eu estava enganado. Somos vítimas de uma sociedade cruel e ignorante”, lamentou o universitário.

David ligou para a polícia, levou testemunhas à delegacia e abriu um processo contra a agressora. “Eu nunca havia sofrido racismo explicitamente e fico imaginando que, se em um local de ‘burguesia’ isso acontece, imaginem nas periferias do nosso país”, disse.

Leia o depoimento na íntegra, publicado no Facebook dele.

“NÃO É “MIMIMI”
Terça feira (05/07) fui com um amigo até uma hamburgueria na Dom Luis, como de costume pedi meu lanche, até que certo ponto, uma senhora, que estava na mesa de trás, começou a falar sobre o sumiço do seu aparelho celular que supostamente estava em cima da mesa que ela ocupava, todos que estavam no estabelecimento perceberam a movimentação da senhora até que ela chamou o André (um dos sócios do estabelecimento), que por sinal é meu amigo, e disse em alto e bom som que um NEGRINHO LADÃO E SAFADO havia roubado seu celular, eu não havia percebido que a senhora estava falando de mim até ela vir na minha frente e dizer “Devolve meu iphone seu nego bandido, é negro, só pode ser ladrão”. Haviam várias pessoas dentro do estabelecimento mas eu era o único negro próximo a senhora, eu fiquei pasmo e sem ação, ninguém NUNCA, NUNCA havia me chamado de bandido ou ladrão, na hora respondi que não havia pego celular nenhum e ela continuou “chama o segurança, não deixa ele sair pq ele te que me devolver meu telefone” então eu, sem acreditar no que tava ouvindo, educadamente falei: minha senhora, eu não peguei seu telefone, se a senhora quiser me revistar fique há vontade, ela disse “eu não discuto com bandido, vc (se dirigindo ao André) revista ele pq ele tá com meu celular” o mesmo disse que me conhecia e que eu seria incapaz de roubar qualquer coisa e que por isso não era necessário me revistar. Pra encurtar a história, depois de muito escândalo o André pediu pra que ela novamente procurasse com calma o celular dentro da bolsa e resultado, o telefone estava na bolsa dela. Ela, olhou pra mim e disse “meu filho, me desculpe, eu me enganei” eu segurei no braço dela disse que não desculpava, e que ela só ia sair dali com a polícia. Na hora, liguei pra polícia que rapidamente chegou, expliquei tudo e eles a conduziram para delegacia, liguei para o advogado que foi direto pra delegacia, levei dois clientes e o André como testemunhas e abri um processo contra senhora Verônica Castilho de Brito Monte (uma mulher de meia idade, classe alta, branca, filha de militar), por injúria, difamação e racismo. Eu voltei pra casa chorando e completamente arrasado em saber que em pleno século 21 tem gente tão pequena, capaz de acusar alguém de ladrão por sua cor de pele e por perceber que o racismo está em todos os níveis da sociedade, nunca passei por isso na vida, eu não tava sujo ou mal vestido (mesmo que tivesse) o único motivo pra ter sido acusado, foi a minha cor que tenho muito orgulho de ter.
Não é mimimi, passar por isso foi a pior experiência da vida. Eu fui criado cercado de pessoas incríveis e de amigos, colegas, conhecidos cheios de luz, eu nunca havia sofrido racismo explicitamente e fico imaginando que se em um local de “burguesia” isso acontece, imaginem nas periferias do nosso país, eu lembrei de todas as vezes em que abri minha boca pra dizer que o racismo não existia e sei agora o quanto eu estava enganado. Nós, somos vítimas de uma sociedade cruel e ignorante.
Chegado em casa, fui dar um google pra saber mais sobre os dados de racismo e violência contra negros no Brasil e me assustei com o que li e queria compartilhar com vcs
Vcs sabiam que m 2014, morreram no Brasil 49.932 pessoas vítimas de homicídio, ou seja, 26,2 pessoas a cada 100 mil habitantes. 70,6% das vítimas eram negras. No mesmo ano, 26.854 jovens entre 15 e 29 foram vítimas de homicídio, ou seja, 53,5% do total; 74,6% dos jovens assassinados eram negros e 91,3% das vítimas de homicídio eram do sexo masculino. Já as vítimas jovens (ente 15 e 29 anos) correspondem a 53% do total e a diferença entre jovens brancos e negros salta de 4.807 para 12.190 homicídios, entre 2004 e 2014. É assustador pensar que mais de 70% dos homicídios no Brasil são contra negros. E ainda tem um certo deputado no brasil (que alguns acéfalos chamam de mito) que ao ser indagado sobre seus filhos se casarem com uma mulher negra citou a seguinte pérola “Eu não corro esse risco, meus filhos foram muito bem educados” é esse tipo de gente que alimenta o racismo na sociedade.

Eu não me calei, espero que você não se cale, denuncie, racismo é crime e essas pessoas precisam ser punidas.
Eu não quero nada dessa mulher além de respeito, e como diz a Andréia Coelho “o mundo precisa de mais luz”.”

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