A representação do Brasil em Bahamas deve enviar amanhã (28) mais uma nota diplomática ao Ministério das Relações Exteriores do país reiterando o pedido de apoio na busca dos brasileiros desaparecidos desde novembro em suposta travessia para os Estados Unidos. Segundo Marisa Barinske, encarregada de Negócios da Embaixada do Brasil em Nassau, capital de Bahamas, já foram feitos vários pedidos desde o início das investigações e até agora não houve nenhuma resposta oficial do governo bahamense.
“A gente está desesperadamente atrás de uma solução. Nós vamos pedir reforço da atuação da polícia de fronteira de Bahamas que atua junto com a polícia da costa norte-americana. Estamos em contato direto e permanente com as autoridades marítimas e ninguém tem ideia do que pode ter ocorrido”, afirmou Marisa à Agência Brasil. A embaixada brasileira em Nassau está trabalhando em parceria com o Consulado do Brasil em Miami.
O documento seria enviado hoje (27), mas, como é feriado em Bahamas, o governo brasileiro vai encaminhar o novo pedido nesta quarta-feira. Até agora, não foram encontrados registros de detenção de brasileiros que integram a lista de desaparecidos, nem indícios de nenhuma embarcação naufragada ou à deriva. “Ainda não sabemos absolutamente nada, é o maior mistério que enfrentamos. Não só nós, mas todas as autoridades envolvidas”, disse.
Marisa está há dois anos em Bahamas e nunca viu um caso como esse nas ilhas. Particularmente, ela acredita que os brasileiros não chegaram a embarcar e estão presos em algum lugar. “O próprio adido da embaixada americana acredita que eles não naufragaram, senão eles já teriam sido descobertos por vestígios como roupas, boias, coletes salva-vidas. E nada disso foi encontrado até agora.”
Rota ilegal
Segundo Marisa, o número de brasileiros presos na tentativa de ingressar ilegalmente no território norte-americano pelas Bahamas aumentou significativamente depois que Donald Trump foi eleito como presidente dos Estados Unidos. Uma das promessas de Trump durante a corrida eleitoral foi a restrição da entrada de migrantes em território norte-americano.
Por ano, as prisões de brasileiros em Bahamas chegavam à média de 50, número que deve dobrar ao fim de 2016. “A média de detenções era de dez a 12 a cada dois meses. Depois da eleição de Trump, pelo menos cinco brasileiros são detidos por semana”, afirmou a encarregada.
A rota mais utilizada pelos brasileiros para entrar nos Estados Unidos era o México, mas nos últimos anos muitos imigrantes têm escolhido o caminho que passa por Bahamas. Geralmente, os brasileiros saem das ilhas de Bimini e Grand Bahamas, principais pontos de embarque em direção à costa da Flórida, sob a condução de coiotes haitianos ou cubanos, também imigrantes ilegais. Na semana passada, um grupo de brasileiros foi preso tentando embarcar da Ilha de Ábaco, um ponto mais distante da rota tradicionalmente feita pelos traficantes.
Para a diplomata, o desaparecimento dos brasileiros serve de alerta e, mais do que as políticas restritivas de Trump, poderá inibir o movimento de brasileiros que têm a intenção de ingressar ilegalmente nos Estados Unidos por essa rota. “O caso por si próprio faz com que o brasileiro tema essa travessia pela rota das Bahamas. Eles seguem em barcos de pescador, em condições precárias, e o mar aqui é muito perigoso. Nós tivemos a passagem do furacão Matthew em outubro e até o final de novembro é época de furacão. Será o próprio brasileiro que ficará mais alerta”, completou Marisa Barinske.
Embaixada dos Estados Unidos
A assessoria da Embaixada dos EUA no Brasil informou à Agência Brasil que o governo norte-americano está auxiliando o governo brasileiro com informações e em tudo o que é preciso para a resolução do caso do desaparecimento dos brasileiros em Bahamas. Mas a embaixada não vai se pronunciar, pois considera que o assunto é de responsabilidade integral do Brasil.
Agência Brasil