Há oito anos meu pai fez a passagem e a cada dia suas frases me inspiram, deveras.
Meu velho pai, um homem sábio e semi-analfabeto. Um vivedor inquieto, instigado, conturbado até. Severo e afetuoso, ao mesmo tempo. Um menino brincalhão, cidadão reto. Ansioso e apaziguador, ao mesmo tempo. Uma contradição meu pai e nisso me vejo nele. Ele tinha lá suas dores e amores. Soltava alguma coisa, vez em quando, mas nunca foi mais profundo. O que me parecia era que ele driblou tudo muito bem. As frustrações, as derrotas, as pressões… Que ele viveu tudo muito bem. A alegria, a felicidade, as conquistas… Meu pai teve uma existência tranquila. E vive em mim.
Mas vamos à frase. Cordial, ele dizia aos que chegavam em casa: “A que devo a honra?”
Então pensei a que devo a honra de ter sido sua filha? A que devo a honra de ser filha da minha mãe? A que devo a honra de ter nascido exatamente numa família que quero para todas as outras vidas? A que devo a honra de ser irmã de minhas irmãs?
A que devo a honra de ter parido e construído quatro filhos tão especiais e bacanas? E aos meus amigos, a que devo a honra tê-los?
Então vim aqui agradecer a todxs que me honram. Que honram meus dias e minha existência.
Obrigada aos meus pais, pela oportunidade de reencarnar e mais: por terem me oferecido o melhor que tinham e podiam. Obrigada a minhãs irmãs por toda partilha e aprendizado. Obrigada a meus filhxs, por terem aceitado o meu ventre e os meus ensinamentos.
Obrigada aos meus ouvintes e expectadores declarados ou anônimos. Vocês me honram!
Obrigada, meus amigos das diversas fases, pela confiança, aconchego, pela troca, pelas horas que me ouviram e pelas palavras que me dedicaram.
Devíamos perguntar, toda vez que alguém entra na nossa vida: “A que devo a honra?”. E vou até mais longe. Deveríamos perguntar mesmo era se a presença daquela pessoa nos honra. Tenho feito isso e, mais seletiva do que antes, só tenho aceitado me juntar a quem me faz melhor.
Honra é um princípio de comportamento das pessoas virtuosas. Gente vestida de valores amorosos, como a honestidade, a solidariedade, a verdade, a dignidade, a valentia, a empatia com o outro e com os afetos.
As pessoas que estão ou chegam na nossa vida, nos melhoram ou pioram. Despertam em nós sentimentos e comportamentos. Eu, que tenho pressa em me melhorar, tenho pinçado pessoas que me honram.
Sei que posso me enganar. Este é um preço que pago, sem nem muito pensar. Gosto de gente. De gente povoada, inteira, de alma e coração escancarados. Invisto em gente todos os meus créditos. Se houver decepção, paciência! O problema não é meu.
O fato é que, normalmente, acerto. Prova disso é que sou cercada de gente que me honra. Que me faz melhor.
Os bons me rodeiam. Os bons ficaram e outros, chegam, de mansinho e logo se revelam bons, cheios de valores e afetos pra me ofertar.
Não sei ao certo se isso é merecimento, escolha ou destino. O que sei é que é preciso abrir-se para pode receber o que o outro tem pra ofertar.
É preciso permitir-se!
Eu vivo me permitindo e não tenho me arrependido não. Só fiquei mais atenta aos sinais, à bagagem que o outro traz.
Outro dia, assim que alguém chegou, perguntei-me se “aquela pessoa me honrava”. Observei. Senti. Me vi melhor depois. Passados dias, momentos e algumas provas, já posso mudar a pergunta: A que devo a honra?”
Trouxe-me na bagagem muita delicadeza, coerência, franqueza, atitude, sensatez, equilíbrio e um cortejo de rosas. Bem “diferentona” essa pessoa que me honra. Gosta de chocolate, é contida, careta e fiel. Um reverso que completa.
Agradeço de pé, joelho e coração aos que me honram!
E eu queria terminar, te perguntando rápido, quais são aqueles que te honram? E a quem você honra também ?
Reconheça-os! Agradeça-os! Dou-lhes a dica!
Sibelle Fonseca é radialista, militante do jornalismo, pedagoga, feminista, conselheira da mulher, mãe de quatro filhos, cantora nas horas mais prazerosas, defensora dos direitos humanos e uma amante da vida e de gente.
Muito boa reflexão!!! Parabéns. Ser sua filha muito me honra!!!
Bom dia!
A que devo a honra deste artigo tão profundo e robusto de moralidade, reconhecimento, amor e sensatez?
A que devo a honra desta referência tão autêntica que me remeteu ao passado e coisas boas que busquei de lá?
A que devo a honra desta mensagem ter entrado em meus sentimentos e ter promovido tantas coisas boas e inesperadas ao ler este fragmento com tanto peso.
Sou grato por essa oportunidade. Saiba que gostei muito, mas muito mesmo.
Gratidão, amigo! Suas palavras me encorajam e animam. Me honram! Sibelle Fonseca