Rodrigo Maia e Marco Aurélio temem cerceamento do jornalismo

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O ministro da Economia, Paulo Guedes, se reúne com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia no Ministério da Economia.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio, saíram em defesa de Glenn Greenwald e do jornalismo. Maia publicou em sua conta do Twitter que a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o jornalista Glenn Greenwald, é um “ataque à liberdade de imprensa”. O ministro, por sua vez, concedeu uma entrevista para a Folha de S. Paulo, onde disse que a denúncia foi um ato problemático e perigoso por se tratar de situação pode cercear a liberdade de expressão.

“A denúncia contra o jornalista @ggreenwald é uma ameaça à liberdade de imprensa. Jornalismo não é crime. Sem jornalismo livre não há democracia”, disse o presidente da Câmara.

“É um problema quando você pratica atos que afetam a liberdade de expressão. É problemático”, disse o ministro para a Folha.

“No campo da informação, não cabe adotar postura que iniba a arte de informar. Eu tenho uma concepção própria. Jamais processaria um jornalista, e há colegas em geral, que processam. [Com a denúncia], Você acaba indiretamente cerceando [a liberdade de expressão], o que não é bom em termos culturais, nem em termos de avanço social. É sempre perigoso”, afirmou ao jornal.

O MPF em Brasília denunciou o jornalista Glenn Greenwald e mais seis pessoas pelo crime de invasão de celulares de autoridades brasileiras. Entre os demais denunciados estão os hackers que são investigados pela Operação Spoofing por terem cedido ao The Intercept os diálogos realizados entre o ex-juiz Sergio Moro e membros da Operação Lava Jato que deram origem ao escândalo chamado de Vaza Jato.

Em nota divulgada nesta terça-feira (21), o MPF ainda afirma que não haveria um problema em o jornalista Glenn Greenwald publicar as mensagens obtidas pelos hackers. O problema neste caso, segundo o MPF, foi Glenn ter tentado ajudar os hackers para tentar dificultar as investigações sobre a invasão dos celulares. Veja o que o MPF diz sobre essa questão da liberdade de imprensa:

Quando um jornalista recebe informações que são produtos de uma atividade ilícita e age para torná-las públicas, sem que tenha participado na obtenção do conteúdo ilegal, cumpre seu dever jornalístico. No entanto, os diálogos demonstraram que Glenn Greenwald foi além ao indicar ações para dificultar as investigações e reduzir a possibilidade de responsabilização penal.

O documento do MPF também revela o esquema de atuação dos seis hackers que foram denunciados junto com Glenn, de acordo com a apuração do Ministério Público Federal. Entenda o esquema desenhado pelo MPF:

Walter Delgatti Netto e Thiago Eliezer Martins Santos atuavam como mentores e líderes do grupo. Danilo Cristiano Marques era “testa-de-ferro” de Walter, proporcionando meios materiais para que o líder executasse os crimes. Gustavo Henrique Elias Santos era programador, desenvolveu técnicas que permitiram a invasão do Telegram e perpetrava fraudes bancárias. Suelen Oliveira, esposa de Gustavo, agia como laranja e “recrutava” nomes para participarem das falcatruas. E, por fim, Luiz Molição invadia terminais informáticos, aconselhava Walter sobre condutas que deveriam ser adotadas e foi porta-voz do grupo nas conversas com Greenwald“.

Resposta

O jornalista Glenn Greenwald, fundador do The Intercept, por sua vez, classificou essa denúncia como “uma tentativa óbvia de atacar a imprensa livre em retaliação pelas revelações que relatamos sobre o ministro Moro e o governo Bolsonaro”. Ele enviou uma nota sobre o assunto para a colunista Mônica Bérgamo, da Folha de S.Paulo.

Veja a íntegra:

O governo Bolsonaro e o movimento que o apoia deixaram repetidamente claro que não acreditam em liberdades de imprensa —as ameaças de Bolsonaro à Folha, os ataques aos jornalistas incitando violência, as insinuações de Sergio Moro desde o início da nossas reportagens para nos classificar como ‘aliados dos hackers’ por revelar sua corrupção em vez de ‘jornalistas’.

Há menos de dois meses, a Polícia Federal, examinando todas as mesmas evidências citadas pelo Ministério Público, declarou explicitamente que não apenas nunca cometi nenhum crime, mas também exerci extrema cautela como jornalista, nem cheguei de qualquer participação. Até a Polícia Federal, sob o comando do ministro Moro, disse o que está claro para qualquer pessoa: eu não fiz nada além do meu trabalho como jornalista —eticamente e dentro da lei.

Essa denúncia —levada pelo mesmo procurador que tentou (mas fracassou) processar criminalmente Felipe Santa Cruz por criticar ministro Moro— é uma tentativa óbvia de atacar a imprensa livre em retaliação pelas revelações que relatamos sobre o ministro Moro e o governo Bolsonaro. É também um ataque direito ao STF, que determinou que temos o direito de ter nossa liberdade de imprensa protegida em resposta a outros ataques do ministro Moro, e até mesmo às conclusões da Polícia Federal.

Não seremos intimidados por essas tentativas tirânicas de silenciar jornalistas. Estou trabalhando agora com novos relatórios e continuarei a fazer meu trabalho jornalístico. Muitos brasileiros corajosos sacrificaram sua liberdade e até a sua vida pela democracia brasileira, e sinto a obrigação de continuar esse nobre trabalho.

Congresso em Foco

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