“Pandemia e Necropolítica: Bolsonaro – o comissário da morte”, por Ramom Ranieri

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(foto: arquivo pessoal)

A necropolítica em síntese e a grosso modo, lançando mão do conceito elaborado pelo teórico camaronês Achille Mbembe, é a capacidade de escolha pelo Estado entre os que vivem e os que morrem. A política de morte não e novidade no curso da história do nosso País, pelo contrário , continua sendo uma ferramenta fortemente utilizada pelo Estado a serviço dos interesses das elites desde a invasão dos portugueses.

Portanto, não é fato novo para as populações subalternas, em especial índios e negros. Populações já atravessadas historicamente pela necropolítica seja de forma indireta pela sonegação de direitos básicos, ou direta pela política de segurança pública notadamente racializada e genocida.

Recentemente o mundo se viu assolado com a pandemia provocada pelo novo Coronavirús -COVID- 19. Embora com baixa letalidade, o vírus colapsou os sistemas de saúde em quase todo o Globo em virtude de sua alta capacidade de expansão. Pelo Mundo o que se viu foram muitas pessoas necessitando de cuidados urgentes e pouca capacidade de atendimento nos hospitais. Mesmo no mundo dito desenvolvido, os sistemas de saúde não suportaram a demanda e como arma para conter o COVID-19, o isolamento social se demonstrou a forma mais eficaz. O mundo parou. Nos grandes centros da Europa, nas Américas, na Ásia e na África. A arma da vez foi o isolamento. E no Brasil não foi diferente.

Tão logo o risco de pandemia cruzou os oceanos rumo a terras brasileiras, Estados e Munícipios, dada a inércia do governo central, iniciaram ações de contenção do vírus, a partir do modelo que tem funcionado no Mundo.

Porém, a pandemia além das consequências sanitárias provoca graves problemas econômicos principalmente ocasionados pelo fechamento quase total dos serviços e comércio . O que a curto e médio prazo provocará, se o Estado Brasileiro não tomar as decisões certas, o desemprego, a fome e a miséria.

Em meio a quarentena quase generalizada, incertezas e o medo, o Senhor Presidente da República fez, na terça feira (24), um pronunciamento em cadeia nacional que sinteticamente atacou a imprensa, os governadores e prefeitos que decretaram medidas de isolamento social, convocando as pessoas para retomar a “vida normal”, haja vista o covid-19 não passava de uma “gripezinha”, pois só seria realmente grave para as pessoas que pertencem aos grupos de risco. Contrariando a opinião de técnicos, especialistas, inclusive, contrariando as orientações da Organização Mundial da Saúde – OMS.
O pronunciamento do presidente provocou intenso debate sobre o que salvar primeiro: A vida das pessoas ou a economia? Se proteger da doença ou resguardar os empregos? Falsos dilemas a serviço de uma retórica desonesta.

Louco! Bradaram alguns. Entretanto, de louco Bolsonaro não tem nada, o presidente fala em nome de um projeto e infelizmente esse projeto não contempla o povo brasileiro em sua diversidade. Falava ali, o porta-voz dos bancos, do mercado financeiro e das grandes corporações. Estava ali, o nosso líder máximo, colocando a necropolítica em prática . Estava decidindo entre aqueles que deveriam viver e os cuja vida não importa para o mercado, porque “não podermos parar em virtude de algumas mortes” como afirmou o presidente. Meus amigos quanto vale a vida?

Precisamos salvar a economia! Exclamam alguns. De fato, precisamos, mas a vida esta acima de qualquer questão. A vida é inegociável. Além do mais, escolher entre a economia e a saúde pública é um falso dilema! Não caiam nessa retórica criminosa. Os países mais capitalistas do mundo, por exemplo, apostam no isolamento social para conter o COVID-19 e salvar vidas, ao tempo que anunciaram medidas econômicas para resguardar os empregos, a saúde das pequenas, médias e grandes empresas e resguardar a população mais vulnerável. Vejam os exemplos dos Estados Unidos e do Reino Unido, o berço do liberalismo. Mas,Bolsonaro prefere a morte das pessoas mais vulneráveis em sua necropolítica.

Os dias que se avizinham nos exigirão escolhas difíceis. Muito em breve teremos de escolher entre a solidariedade e a barbárie. Rogo que escolhamos o caminho do bem comum e do direito à vida acima de qualquer questão.

Ramon Raniere Braz, ativista cultural e militante das causas justas da vida

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