De encher os olhos: fotógrafo registra o antes e o depois do Nego e da Mãe-d’água e da Ilha do Fogo, após aumento do volume do Velho Chico

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É pela lente das câmeras que o fotógrafo Alfredo Andrade costuma enxergar o Velho Chico, que se tornou, praticamente, o quintal de sua casa, mas também fonte de inspiração para os seus registros fotográficos. Natural de Recife, capital do Pernambuco, o professor de Geografia chegou ao Vale do São Francisco há cerca de cinco anos, e desde então, viu no rio, a motivação para exercer duas de suas paixões: a fotografia e o esporte.

“Sempre tirei fotografias e sempre fui o amigo que tinha a máquina desde a época das câmeras de filmes. Tiro fotos do rio porquê prático stand up paddle [esporte que consiste na remada em pé em cima da prancha de surfee]. Desde que vim morar no Vale do São Francisco, há cinco anos, uni o esporte à minha paixão pela fotografia”, contou o professor.

As fotos de Alfredo Andrade tem circulado bastante nos últimos dias nas redes sociais. O fotógrafo vem acompanhando de perto, e sempre pela lente das câmeras, a boa fase do rio São Francisco, que enfrentou condições hidrológicas adversas nos últimos anos, com vazões e chuvas abaixo da média, o que causou a redução dos níveis de armazenamento dos reservatórios instalados na bacia. Foram 8 anos em uma grave crise hídrica. Somente no ano passado foi registrado uma melhora nas condições hídricas do Lago de Sobradinho, sendo alcançado o volume útil máximo, em 2019, de 49,3%, no mês de maio.

Porém, no ano de 2020, a situação se reverteu completamente. Devido as chuvas, principalmente as ocorridas no estado de Minas Gerais, a partir da segunda quinzena de janeiro deste ano, o volume útil do reservatório teve um aumento significativo. No dia 3 de março, Sobradinho voltou a ultrapassar 50% de sua capacidade de armazenamento, marca que havia sido registrada, pela última vez, em 2014.

Assim como o volume, a vazão do reservatório também foi aumentada. No dia 8 de abril, Sobradinho passou a operar com vazão de 1.000 metros cúbicos por segundo (m³/s). No dia seguinte, subiu para 1.400 m³/s. No dia 15 de abril, um novo aumento: a liberação passou a ser de 1.600 m³/s.

Essas elevações têm proporcionado uma mudança na paisagem em cidades banhadas pelo Velho Chico, a exemplo de Juazeiro, no norte da Bahia, e tem sido um prato cheio para os registros de Alfredo Andrade, que costuma fazer imagens de pontos conhecidos da cidade, a exemplo do Angary, da Ilha do Fogo e da Mãe d’água, na Orla de Petrolina.

Nas imagens abaixo, feitas pelo fotógrafo, é possível fazer um comparativo da situação do rio há semanas atrás.

Nego d’água – Angary

A estátua do Nego d’água, personagem lendário do Velho Chico e que fomenta a tradição turística do bairro, possui 12 metros de altura e ficava em parte submersa pelas águas. Em virtude do longo período de estiagem, isso não acontece já há alguns anos, entretanto, com a elevação da vazão, a estátua voltou a ter a sua base banhada pelas águas do Velho Chico.

Nos registros feitos pelo fotógrafo Alfredo Andrade, é possível fazer uma comparação da situação registrada nos dias 1º de março, 9 e 16 de abril, respectivamente.

(fotos: Alfredo Andrade)

Mãe d’água

A Iara ou Uiara, também referida como “Mãe d’água”, é uma entidade do folclore brasileiro e que, segundo a lenda, é uma sereia que vive no São Francisco e que à meia-noite, senta-se em pedras ou canoas para pentear os longos cabelos, também sentiu os impactos da cheia do Rio São Francisco.

Nas imagens de Alfredo Andrade, é possível ver como a estátua, que é feita de concreto, cílio de vidro e resina e que foi colocada no rio São Francisco em 2012, se encontrava nos dias 20 de março, 12 e 17 de abril, respectivamente. A calda da Mãe-d’água, que antes estava visível, voltou a ficar praticamente submersa em sua totalidade.

(fotos: Alfredo Andrade)

Ilha do Fogo

A faixa de areia da Ilha do Fogo, ponto turístico situado entre as cidades de Juazeiro-BA e Petrolina-PE, desapareceu completamente. O espaço costumava ser ocupado por banhistas, principalmente aos finais de semana. Vale ressaltar que a ilha está fechada por causa da pandemia da covid-19, infecção causada pelo novo coronavírus. A medida de restrição de entrada foi adotada pela prefeitura municipal a fim de conter a disseminação do vírus e também do H1N1.

Nas imagens, é possível fazer um comparativo com um registro feito no dia 27 de março, antes do primeiro aumento, com outro feito no último dia 14, um dia antes da vazão ser aumentada para 1.600 m³/s.

(fotos: Alfredo Andrade)

Em tempos de pandemia, o fotógrafo não esconde felicidade de poder estar compartilhando esses bons registros, que aumentam a autoestima principalmente das comunidades ribeirinhas, apesar do alerta para possíveis enchentes, caso o rio tenha um novo aumento da vazão.

“É uma mistura de sentimentos, mas me sinto honrado em poder contribuir para que muitas pessoas que não são daqui, matem a saudade de casa e vibrem com esse bom momento. É bom poder estar contribuindo com a história, porque são imagens marcantes, e com a imprensa. Esses últimos registros tem me proporcionado uma imensa felicidade. Precisamos também dessas notícias boas”, disse o fotógrafo.

Os registros são feitos através de drones, câmera semi profissional e aparelho celular, e são publicadas no Instagram do fotógrafo (clique aqui e confira a página).

Capacidade

No momento, o reservatório de Sobradinho está com cerca de 88% do seu volume útil, com uma vazão afluente de 3.500 m³/s. A Chesf avalia que Sobradinho chegará, no máximo, a 95% de sua capacidade, no início de maio, considerado o final do período úmido, não havendo, portanto, previsão de vertimento no reservatório.

A companhia reforça que tem adotado, em todos seus reservatórios, os procedimentos definidos para operação durante o período chuvoso, conforme a elevação dos níveis, e considera que “a situação é de normalidade e bastante favorável com relação ao armazenamento de água em Sobradinho, que possibilitará o atendimento aos usos múltiplos, durante o próximo período seco, motivo de comemoração por parte de todos os usuários do Velho Chico”.

Sobradinho se encontrava há oito anos de escassez hídrica. A natureza, entretanto, fez esse cenário mudar, e pode-se considerar que tudo ocorreu em pouco tempo, se comparado ao período da crise.

Resta saber agora se a ação humana também irá seguir o exemplo da mãe natureza e contribuir para esse bom momento que vive o Rio São Francisco. Afinal, sempre é bom ressaltar: consciência ambiental também é imprescindível.

Da Redação por Thiago Santos

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