“Parecia até a carreta do coronavírus”, diz espectador de protesto que pediu a reabertura do comércio em Juazeiro; leitores comentam manifestação

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(foto: reprodução)

Empresários realizaram na manhã desta quinta-feira (25), uma manifestação em favor da reabertura do comércio do município de Juazeiro, no Norte da Bahia. Os estabelecimentos comerciais voltaram a fechar as portas desde a segunda-feia (22), após um significativo crescimento no número de casos e óbitos causados pelo novo coronavírus. O plano de retomadas das atividades econômicas havia sido iniciado no dia 1º de junho e estava em sua segunda fase.

O protesto, intitulado “Juazeiro não pode parar”, teve concentração na Lagoa de Calú e percorreu as principais ruas do Centro da cidade. Os organizadores anunciaram que a manifestação teria participação também dos trabalhadores e trabalhadores dos estabelecimentos comerciais não essenciais, que tiveram o funcionamento interrompido. Entretanto, leitores do PNB chamaram atenção para o fato de que a maior parte dos carros que participaram da manifestação, são veículos de luxo, alguns, inclusive, com valor acima de R$ 100 mil reais.

“Vi pouquíssimos carros populares nessa carreata. A maioria era carros de luxo. Acredito que esses veículos caríssimos não são de um trabalhador do comércio que vive com um salário mínimo ou ganhando comissões por mês. Os empresários só estão preocupados com o bolso deles, e não com a saúde dos trabalhadores. Eles querem reabrir o comércio, mas ficam trancados nos escritórios ou estão em suas casas, protegidos. Quem se expõe é o funcionário, que pega ônibus, circula pela rua e lida com os clientes. A verdade é essa”, disse um leitor ao PNB e que preferiu não ser identificado.

Pelas cores e palavras de ordem, a carreata lembrou as manifestações em apoio ao presidente Bolsonaro, que vem acontecendo em algumas cidades, pedindo o fim do isolamento social e priorizando a economia. Os motoristas desfilaram pelas ruas centrais, com carros adesivados, conduzidos por carro de som, que transmitia “palavras de ordem” e o hino nacional de fundo. Os manifestantes ainda utilizaram fogos de artificio, contrariando a recomendação do município para que se evite o uso desses artefatos nesse período junino.

(vídeo: arquivo pessoal)

“Não vi comerciários, não vi povo, só vi empresários defendendo seus lucros, pré-candidatos oportunistas, apoiadores do presidente. Não ouvi nenhum grito pela vida, nem pela saúde pública, parecia até uma ‘carreta do coronavírus’, foi essa sensação que tive. Não já viram que quando o comércio abriu, os casos estouraram?”, questionou uma moradora do Alto da Maravilha.

Outro leitor do PNB também encaminhou para nossa redação, o vídeo de uma transmissão, realizada por um internauta nas redes sociais, em que o mesmo entrevistou um dos empresários que participou do protesto. O comerciante justificou que os empresários “estão sem faturar” e que eles estão “com compromissos duplicados a pagar”, e pediu sensibilidade da prefeitura. Apesar de citar que é necessário “achar um ponto de equilíbrio”, o empresário não propôs alternativas para a resolução do problema.

Entretanto, o que o leitor do PNB chamou atenção no vídeo, foi o fato da utilização incorreta da máscara pelo entrevistado. Enquanto órgãos como a Organização Mundial da Saúde, e até mesmo a imprensa, reforçam, cotidianamente, a maneira correta de utilizar o equipamento de proteção individual, o empresário aparece tocando, por diversas vezes, a parte frontal da máscara, sem nenhuma higienização. A parte do nariz também aparece descoberta, em vários momentos, ao longo da entrevista, o que também não é recomendado pelo órgãos de saúde.

“Mandei este vídeo porque fiquei pensando como um empresário, que deve garantir a proteção de seus trabalhadores e clientes, sequer sabe usar a máscara corretamente? Ele ali nem estava protegido, nem protegendo ninguém. Mas são os empregos que importam, né? E não as vidas das pessoas. Pagar duplicata é mais importante, que fazer um sacrifício para salvar vidas e superar esta pandemia”, observou a leitora.

A previsão é que o comércio de Juazeiro fique fechado até o dia 5 de julho, conforme anunciou o prefeito Paulo Bomfim (sem partido) ontem (24), quando anunciou a ampliação do prazo de fechamento dos estabelecimentos não comerciais e também do horário do toque de recolher (saiba mais).

Comércio: recomendação do MP e repercussão

A decisão de fechar o comércio, anunciada no dia 20 de junho pelo prefeito, que justificou o crescimento do número de casos em Juazeiro, também atendeu uma recomendação do Ministério Público da Bahia, que no dia 18 de junho, sugeriu que o município permitisse o funcionamento somente das atividades consideradas essenciais. A promotora de Justiça alegou que a flexibilização das medidas de isolamento podem prejudicar a comunidade local, já que a reabertura das atividades comerciais atrai um elevado número de pessoas aos respectivos estabelecimentos, entre trabalhadores e consumidores, “levando, fatalmente, a uma indesejada aglomeração, seja no interior do espaço, seja no exterior, com a formação de filas”, já que favorece a disseminação da covid-19 (leia mais).

A decisão não agradou empresários e entidades representativas do comércio, que em nota, afirmaram que “o comércio de Juazeiro está morrendo” e que os “lojistas estão assistindo de mãos atadas à falência em massa de empresas e o crescimento vertiginoso de demissões” e que “o comércio varejista de Juazeiro está morrendo, sucumbindo por erros sucessivos de decisões equivocadas do poder público municipal” (veja na íntegra).

A Prefeitura de Juazeiro chegou a se manifestar também, afirmando que “a defesa da vida dos juazeirenses seria prioritária em nossas decisões” e rebateu que “nem todos os estabelecimentos vinham cumprindo os requisitos dispostos no plano” (leia mais).

Da Redação

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