Especial: “Minha história nos 70 anos da TV brasileira”, por Jota Menezes

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(foto: arquivo pessoal)

Fui um televizinho. Na infância fui seduzido como as dezenas de crianças na tenra idade a se encantar com o brilho da tal “caixa mágica” ou a televisão que na concepção do dramaturgo Nelson Rodrigues “matara a janela”. Com os meus irmãos costumava “marcar ponto” na casa de um senhor já idoso, cabelos brancos, de estatura baixa, face carrancuda, moreno claro e coxo, o qual gostava de usar óculos escuros. Todos o chamavam de “Seu Barros”, um homem de personalidade dura, mas também cordial, que as vezes dava sermões “pouco suaves”, sem se levantar de sua cadeira de balanço. Daquele “trono”, permanecia alerta aos que insistiam em conversar durante a exibição dos filmes, novelas ou jogos de futebol.

Estávamos lá, diante do único aparelho televisor da rua e para aquela casa, “peregrinavam” crianças e adultos para assistir “Pecado Capital”, “o Homem de Seis Milhões de Dólares”, “O Sítio do Picapau Amarelo”, “O Bem Amado”, “Chacrinha” , “Tarzan” ou “Flamengo e Vasco. A primeira vez que ouvira falar do termo televizinho, foi através do jornalista paulista, Roberto Pompeu de Toledo, num artigo escrito nos anos 1990 no Estadão.

Já adulto e em meu primeiro emprego como radialista na Emissora Rural de Petrolina, recebi de presente um livro do meu amigo/irmão Moisés Almeida, Professor de história, radialista (hoje Doutor em História), um livro sobre a História da CNN de Hank Whitmore. O livro, “CNN a História Real” contava a trajetória do empresário norte-americano Ted Turner e os bastidores da criação da TV a Cabo nos Estados Unidos. Esse livro fora fundamental para que eu conhecesse um pouco do universo da televisão, num ambiente onde a TV comercial se expandiu como em nenhum país do mundo. Turner numa jornada “quase épica” insistia na novidade da TV a cabo como alternativa de vanguarda e mudava o cenário televisivo a partir de então com a Cable News Network (CNN).

(foto: arquivo pessoal)

Ainda no rádio, recebi um convite do então Chefe de Redação da TV Norte (depois TV São Francisco), Rede Bahia de Comunicação. Adalberto Barbosa (Dadau), por meio da indicação de minha querida amiga Sibelle Fonseca, repórter e apresentadora, com a qual havia trabalhado no radiojornalismo da Rural.

Essa história durou 12 anos. Na TV São Francisco exerci as funções de Produtor, chefe de Reportagem e Chefe de Redação. Aprendi muito naquele universo dinâmico, inquieto e criativo.

(foto: arquivo pessoal)

Conheci por dentro o modus operandi do meio de comunicação que mais influenciou a sociedade na segunda metade do século XX. A televisão criou modelos, empoderou ideologias, impôs estéticas e hábitos culturais. Atuando na televisão, senti o poder de sua mensagem e imagens, justamente por esse motivo, também passei a enxergá-la de forma crítica, uma vez que poderia ser um aparelho ideológico com grande capacidade de moldar “mentes e corações”, também para servir a interesses de grupos econômicos, nem sempre abertos aos princípios democráticos.

Na TV São Francisco vivi momentos, os quais me realizaram como profissional: na chefia de jornalismo, alcançamos êxitos memoráveis em Juazeiro e região com reportagens nos principais telejornais da Rede Globo. Três iniciativas foram bem relevantes: O projeto Brasil Total, o Projeto Fruticultura do Vale, e o programa Tema.

Na TV conquistamos prêmios: OAB e Coelba de Reportagens, “Televisão Amiga da Criança” (ANDI/UNICEF).

(foto: arquivo pessoal)

Ao deixar a TV São Francisco em 2007, passei numa seleção para lecionar na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) a disciplina, Telejornalismo, lá criamos um telejornal com os alunos e foi uma façanha, já que na época, não disponibilizámos dos recursos necessários para a produção e exibição.

Tive a satisfação de viajar com algumas turmas do curso de jornalismo para Recife, Maceió e Natal para aperfeiçoamento técnico.

Em 2013 publiquei o livro: Televisão, Poder e Cidadania – A Implantação da TV Pública no Brasil pela editora Chiado, contando um pouco desta trajetória do veículo no Brasil.

A passagem pela TV amadureceu a minha prática comunicativa e o meu senso de realidade, acerca do contexto socioeconômico e cultural do Vale do São Francisco e do Brasil.

Jota Menezes é professor, escritor, jornalista, radialista e foi diretor de redação da TV São Francisco 

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