Galvão sempre foi um nome, um som lá da minha casa. Eu nem lembro de quando ouvi pela primeira vez. Sempre estava nos comentários do meu pai. Fui crescendo e descobrindo quem era. Aí já era Luiz Galvão dos Novos Baianos. De Juazeiro, meu conterrâneo; orgulho.
A minha casa sempre foi recheada com música, poesia e literatura, arte. E Galvão e os Novos Baianos sempre presentes. E vinham acompanhadas pelas histórias que meu pai contava de “Luiz Cachaça”: – “Galvão era craque, jogava muito futebol de salão!”; “Galvão foi candidato a deputado, mas eu votava em Petrolina”; “Galvão foi um dos primeiros formados na Escola de Agronomia”. E por aí seguia.
Galvão sempre tinha Juazeiro como referência, desde as canções como “Preta Pretinha”, enquanto corria a barca, ou o menino que continuava pela rua com a bola, na nossa terra, Juazeiro. Era o poeta que que escrevia letras em verso e prosa- Mistério do Planeta é uma prosa-, crônicas, como a do vagabundo, que não é fácil, e, mesmo DOÍDO do coração, mas como é malandro, não ficará DOIDO, pois isto ele já é -hahahaha, genial essa jogada com as palavras.
Eu tive com ele algumas vezes.
Para mim, sempre um encontro iluminado.
Certa feita, em 2009, era assessor da secretaria de Cultura da prefeitura de Juazeiro. Galvão e os Novos Baianos seriam homenageados no Festival Edésio Santos da Canção. Como estava uma correria na secretaria, levei o artista para a Assessoria de Imprensa, no Paço Municipal, pois precisava escrever o roteiro do show que faria com Baby e Paulinho Boca de Cantor. Na chegada, fui logo apresentando Galvão aos desavisados e lá providenciei um computador e um espaço. Como também era um ambiente movimentado, e as pessoas já estavam sabendo que ele estava lá, falei com o secretário de Comunicação, que respondeu: bote ele em minha sala. E pronto. Texto ficou pronto, show histórico.
Mas um fato inusitado chamou a atenção: ao tirarmos a foto, a braguilha da calça dele ficou aberta. Vamos fazer outra? Ele respondeu: deixa assim. Os pássaros voam. E caímos na risada.
Galvão é referência para artistas do Brasil e do mundo. Eu, como falei, estive com ele em outros momentos, muitos proporcionados por Manuca. Com o tempo, fui entendendo o sentido das palavras Amar, A mar, Amar-te, a Marte, e descobri onde a “menina dança”(saquei).
Eu tenho um orgulho retado destes artistas juazeirenses, assim como de muitos outros. Continuarei a levar a todos os cantos a mensagem que eles deixaram. Obrigado, Galvão. Segue aí, no céu dos poetas. Eu seguirei rindo, e preferindo a Arte.
Mas acabou chorare. Só quero lembrar da alegria de ser conterrâneo de João Gilberto e Luiz Galvão.
“Enquanto um pássaro voa, um outro pousa. Deus, deus ama a todos, mas curte mais quem ousa. Inovar é o viver da cor trazendo o som do asteróide sonhos. Dando asas às tonalidades alegres e suaves. Para cantar como pássaros e voar como naves”
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Post scriptum: Que fique registrado que a gestão municipal não decretou Luto oficial( um gesto de insensibilidade, ressalte-se), como é comum a chefes do executivo homenagearem seus conterrâneos famosos e de referência para o mundo, como Manuca Almeida e João Gilberto, resumindo a homenagem a Luiz Galvão com uma nota. Agora, só com um decreto de luto retroativo.
Por Raphael Leal