Tenho um amigo que, volta e meia, sai à francesa de algum espaço. Quando menos se espera e assim que percebemos a falta dele, coisa que não demora muito dada a sua presença notável e notória, ele se foi de fininho. Discretamente.
Neste domingo, ele veio tomar café da manhã comigo. Um café simples, mas cheio de afeto em cada coisinha que coloquei na mesa para ofertá-lo. A cozinha ficou toda alegre com ele e o quente frio até sorriu porque ele, que não é afeito a café, tomou uma xícara cheia e logo nesse calorão de meu Deus.
Comeu cuscuz só com manteiga, antes uma banana, molhou seu pãozinho no café puro, trouxe ideias, me cobrou umas coisas que ando lhe devendo, bolou um cigarrinho pra mais tarde e, assim que virei as costas para um afazer doméstico, ele evaporou.
Só ouvi o bater do portão e nem fui atrás. Sorri comigo e justifiquei sua escapulida com aprovação. Esse é ele, genuinamente ele. Não tem nisso nenhuma falta de educação ou gafe. Amigos mesmo entendem os jeitos de sermos. Não reprovam, não julgam, nem censuram. Aceitam nossas idiossincrasias, mesmo as mais extravagantes, excêntricas, incoerentes e esquisitas. E é isso que nos faz ficar a vontade diante de um amigo. Não precisamos usar máscara, seguir regras, convenções, bons modos, nem escolher antes as palavras.
Quando vi que já tinha se picado sem me dar um tchau, pensei em lhe ligar ou passar um áudio dando uma bronca bem humorada que começaria assim “Vala, menino, saiu que nem se despediu? Você, hein!”
Desisti da ideia de abordá-lo e resolvi escrever este “Sempre Aos Domingos”, que nem tem sido sempre, coisa que ele vive me cobrando constância e regularidade. É que ando um tanto sem inspiração para a escrita sei lá por quê.
Mas, como este amigo sempre me inspira, saindo à francesa que nem ele, me despeço aqui com um recadinho pra ele, especialmente: “E se fosse a última vez que nos víamos? Eu mesma queria ficar com a lembrança do seu abraço, da sua cara iluminada, do seu olhar cheio de sonhos e de vida, queria ficar com sua respiração ofegante, queria mesmo guardar bem guardadinha a sua fisionomia e poder me sentir privilegiada por ter tido com você um momento de despedida.
Pois é, meu irmão, a vida também e às vezes, sai à francesa. Não temos nenhuma garantia do depois.
Sibelle Fonseca é radialista, militante do jornalismo, pedagoga, feminista, humanista, mãe de 4 filhos, humana de Diana, cantora nas horas mais prazerosas, defensora dos direitos humanos e animais, uma amante da vida e de gente.