“Desarma esse balanço instagramável, mulher! É de rede de apoio que as mulheres de Juazeiro precisam”, por Sibelle Fonseca

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Eu não sei se rio, ou choro. Nesta quarta-feira, 13 de março, mês dedicado à mulher, tomei conhecimento do “balanço instagramável, símbolo do projeto ‘Mais Amor Por Elas’, de autoria da primeira prefeita mulher de Juazeiro,” segundo anunciou a assessoria da gestora.

Instalado na Praça Nossa Senhora das Grotas e inaugurado no Dia Internacional da Mulher, 8 de março, o brinquedo “na cor lilás e coberto de flores e ramos é para lembrar da ‘delicadeza’, resistência e força da mulher juazeirense,” como descreveu também a assessoria da prefeita.

É de uma parvoíce que me assombra. Não sei se encaro como puerilidade, zombaria, chiata ou esperteza, embromação ou blefe. Francamente!

O que penso é que a fotografia no Instagram pode até ficar bonita, como Juazeiro está, somente pelas redes sociais do governo municipal. Balanço instagramável, governo instagramável.

Na realidade, a cidade em que vivemos é bem outra. E a vida das mulheres de Juazeiro, da sede e do interior, não está pra brincadeira. Basta acompanhar suas queixas, suas dores e denúncias nos veículos de imprensa que lhes ouvem e nas redes sociais.

O fato é que não observamos nenhuma política pública para as mulheres, nossos direitos básicos estão sendo violados e nos faltam o essencial no dia a dia.

É, as mulheres são as mais afetadas pela falta ou precariedade dos serviços públicos. Aqui e alhures. Somos nós, por exemplo, as principais usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS), seja na busca de atendimento próprio, para um filho, companheiro, ou um pai idoso.

Não há “Mais Amor Por Elas”, prefeita, quando nos faltam médico, dentista, exames, vacinas e remédios no posto de saúde. Nem quando falta a fita para medir o diabetes, o medicamento controlado, o de controle da pressão, o transporte para as pacientes oncológicas em tratamento fora da cidade. Não, não há.

Não há “Mais Amor Por Elas” quando os dejetos correm na porta, a lama invade as casas, o mato toma conta das ruas, a água falta na torneira, a poeira adoece as crianças, a filha volta da escola se arriscando na escuridão, e um simples pedido de reparo em um esgoto estourado, não é atendido. A nossa vida vira um inferno com tudo isso.

Não há “Mais Amor Por Elas” quando nossas crianças não têm uma pracinha cuidada no bairro para brincar, quando faltam insumos para nossos filhos atípicos e o transporte escolar para os meninos e meninas. Quando eles ficam em casa, sem aulas, prefeita, suas mães faltam ao emprego e até perdem o ganha pão. Muitas delas, mães solo, sabia disso?

Não há “Mais Amor Por Elas” na maternidade de Juazeiro. Não, não há. De jeito nenhum. A hora de parir, momento tão sagrado para toda mãe, ainda mais para as marinheiras de primeira viagem, se transformou em um momento de terror, de completa insegurança. A morte de Deliane, até hoje, aciona gatilhos nas gestantes que precisam da instituição para parirem seus filhos. Não que antes desta gestão, o Hospital Materno Infantil prestasse um serviço de qualidade. Mas, até rato, prefeita? Fora as inúmeras deficiências em equipamentos, pessoal, e no atendimento que de humanizado pouco tem, apesar da boa vontade de alguns profissionais. A UTI neonatal nunca chegou, a Casa de Parto do João Paulo II, muito menos.

Não há “Mais Amor Por Elas” quando as mulheres servidoras, contratadas ou concursadas, não recebem o salário em dia, sofrem perseguições e vivem reclamando da falta de condições de trabalho. As mulheres que trabalham na UPA sofrem quando se deparam com as deficiências e não podem atender como deveriam. Outro dia, faltavam até antibiótico,  antialérgico e anestésico. Pior ainda é para as mulheres, as idosas, que dão entrada na unidade sentindo dores, passando mal, fragilizadas.

Sem contar que somos sub-representadas na gestão da primeira mulher a sentar na cadeira do executivo, cercada de homens que não conhecem nossas necessidades e tampouco sentem na pele a ausência desses serviços. Ressalto que, somente no final do seu terceiro ano de governo, a prefeita de Juazeiro nomeou 3 mulheres para o primeiro escalão. Até então, eram só homens, até na pasta da Mulher.

Nós, mulheres, não queremos sentar no seu balanço Instagramável, prefeita. É de uma rede apoio que precisamos para darmos conta das múltiplas e exaustivas tarefas de todos os dias. E, creia, está ainda mais difícil ser mulher em Juazeiro.

É de estabilidade que precisamos para enfrentarmos as violências das quais somos vítimas, em casa e fora dela. Violências também nas instituições públicas, que violam nossos direitos básicos, como o direito à vida, à saúde, à educação, à participação política e tantos outros.

O Projeto “Mais Amor Por Elas” é bonitinho e ordinário. Uma fantasia, textualmente. Romântico, utopista, fictício e inautêntico.

Desarma esse balanço, mulher! Nossos joelhos estão bem ralados. Nossas vidas não estão pra brincadeira!

 

Por Sibelle Fonseca

7 COMENTÁRIOS

  1. É preciso lembrar também que há mais de 2 anos o cargo de diretora de mulheres ESTÁ VACANTE. Ou seja, sequer uma responsável pela pasta há no município. Um completo desprezo pelas políticas sociais ao utilizar o cargo que representa um segmento tão importante para para fazer conchavos políticos.

  2. Parabéns pelo texto Sibele, infelizmente falta sensibilidade deste governo para tratar as políticas públicas voltadas para as mulheres, parece que a prefeita vive em um mundo paralelo ao mundo real

  3. Bom Sobelle, obrigada por nos representar em sua crítica a prefeitura, votei em Suzana, e não votarei mais. A nossa política atual do Brasil é vergonhosa. 79% dessas pessoas trabalham só no cargo de enfeites. Panelinha colada em cada gestão. Fico feliz em ter vc descobrindo e nos representando. Obrigada

  4. Olharia com outros olhos, se essa crítica tivesse vindo de alguém não tendeciosa e que apoia e é apoiada por outro grupo político de Juazeiro! Seria maravilhoso se fosse autêntica, porém não é! O jogo de interesses prevalece! A verdade é que nenhuma dessas pessoas que dizem nos defender nos veículos de comunicações são neutras! Sabemos que cada um tem seu político ou partido de estimação.

  5. A prefeita está impassível diante das criticas – cobranças feitos a ela para com as promessas dela.
    Prefiro dizer impassível…
    Verniz tá caro pra todo mundo…inclusive ela.

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