Um texto em homenagem ao músico Fernando Rêgo, por Rogério Leal

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Faz doze anos que meu pai faleceu. Aos poucos, quase todos os grandes amigos dele, da vida inteira, também se foram. Alguns, até, antes dele. E cada vez que a gente se despede destes amigos queridos, é como se fôssemos perdendo mais um pedaço dele. Sempre que abraço um que ainda está por aqui eu sinto uma alegria enorme, como se ao meu pai estivesse abraçando. E hoje partiu um dos mais antigos e mais queridos, um compadre tão compadre que nós, os filhos, também o chamávamos de Compadre Fernando. Fernando Rego, um homem que falava baixo e que tinha um jeito gentil. Um maestro severo que, por conhecer a teoria musical como poucos, exigia bastante dos seus alunos. Sobretudo, um músico sofisticado, um saxofonista que chegava na nossa alma sem exibicionismo, com simplicidade e delicadeza. Compadre Fernando era de outro tempo, em que Petrolina, terra onde meu pai nasceu e que tanto amou, cultivava belezas como o Conjunto Sambossa, do qual ele era o arranjador e diretor musical. Meu pai tinha uma coisa muito bonita: ele só era amigo de quem ele admirava. E ele admirava e respeitava muito este compadre. Espero que Petrolina não deixe morrer com ele o legado absolutamente importante para a cultura da região, seja na condução da Philarmônica, seja na formação musical de dezenas de jovens ou tocando seu sax nos bailes e serestas da cidade. Espero que a sua memória seja reverenciada, porque homens como ele e meu pai também serviram para a grandeza desta cidade. Dois amigos, dois homens pretos que romperam os limites da elite branca com música, carisma

e elegância. Descanse em paz,”cumpadi” Fernando! Me faz bem imaginar meu saudoso pai te recebendo com o pandeiro na mão ( “meu cumpadi, você foi o último a chegar!”), cantando um samba canção e já esperando aquele belo solo de sax. Deve ter uma morada bonita só para os seresteiros.

Por Rogério Leal

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