“‘Romero’ é uma mensagem de luta e a reafirmação de Hertz Félix como diretor de cinema”, por Raphael Leal

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O 1⁰ de julho foi o dia de estreia do filme Romero, de Hertz Félix. Na data que antecede a independência da Bahia, onde o povo lutou contra a coroa e o exército português por liberdade, a temática da película trata também sobre ser livre e os enfrentamentos da vida para que cada um, ou cada uma, possa ter, livremente, a sua sexualidade assumida e respeitada.

Com um Centro de Cultura João Gilberto lotado, são quase duas horas de filme, com excelentes diálogos com mensagens, papo reto, bom exercício de cenas. Devido à temática, que fala de machismo, homofobia, hipocrisia, submissão feminina, patriarcado, violência, injustiça e amor, o filme é tenso. Também mostra a beleza do rio, lugares da cidade e a magia da câmera, operada por Ailton Nery, faz até parecer que Juazeiro está sendo bem cuidada, limpa. O que o cinema não é capaz de fazer, hein?!

Hertz Félix é um artista nato. Já transitou nas diversas linguagens, mas é no teatro e cinema que mais me chamam a atenção. No teatro, já está consolidado. Excelente ator/diretor, revelando outros tantos por Juazeiro, a Bahia e o Brasil. No cinema, é um lutador.

Fazer cinema não é barato. Tem um custo elevadíssimo. Grandes produções requerem vultosos recursos. Foram criados vários dispositivos legais para captação de recursos, como a Lei Rouanet, que foi desvirtuada pela extrema-direita brasileira, como se ali tivesse dinheiro público, e também os editais públicos, que têm um recurso bem mais limitado. E este último é quem financiou o filme de Hertz, “Romero”. Foram 40 mil reais para dividir entre cerca de 15 atores, equipe técnica, pré e pós produção. Por isto, o filme entra no circuito de “cinema independente”, prezando pela atuação, jogos de câmeras e a ideia, a mensagem, que também são elementos trazidos do teatro por Hertz.

Dos filmes produzidos por Hertz, “Romero” é, de longe, o melhor.

Assim como em “Irmãos Quixaba”, o novo filme também tinha somente uma câmera, operada pelo “mágico” Ailton Nery. Esses caras são admiráveis, corajosos e , acima de tudo, talentosos. E uma observação, a melhor atuação do filme é a de Kátia Gonçalves. Excelente surpresa.

Sobre o filme, recomendo a assistir! Em tempos de vídeos de frames rápidos, de um minuto, com takes focados, transições que nem se percebe que mudou o quadro, para sair bonito no Instagram (que também é legítimo, e uma nova linguagem de video), “Romero” traz o gostinho de ir ao cinema assistir a um bom filme, sair tenso, ter sentimentos variados dos personagens, criticar o que poderia ter sido melhor. Nos remonta a uma outra Juazeiro que cheguei a viver pouco, mas muitos nos contam.

Ainda bem que existe a Lei Paulo Gustavo e que outras produções cumpram o compromisso assumido no edital, utilizando os recursos públicos, que ainda são poucos, para produção artística. Foi uma luta para que, tanto a Paulo Gustavo, quanto a Aldyr Blanc fossem leis perenes, para contribuir na produção cultura e fortalecer a economia da cultura. Não podemos deixar que alguns se utilizem do processo democrático para obter estes recursos, não produzam e finjam que nada aconteceu.

Raphael Leal é jornalista, gosta de música e outras artes, e também de dar pitacos culturais e políticos

2 COMENTÁRIOS

  1. Meu Deus! Que texto é esse? Raphael brinca com as palavras e as transformam em poesia política e cultural. Em nome do elenco Romero, obrigada! Esse texto vai nos acompanhar até quando houver memória. Viva o cinema !

  2. Rafael Leal, gratidão pelas lindas e honrosas palavras contidas em sua crítica como jornalista atribuídas ao filme ROMERO. Recebi com muita emoção. E guardarei na memória de minha trajetória artística, a mais importante crítica que já atribuíram a um trabalho meu no decorrer de meus 50 anos de carreira. Gratidão!

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